Esperanças

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Ele não percebeu quando mãos gentis o colocaram na cama, e chorou até adormecer. Mais uma vez a dor da perda o açoitava e ele não fazia ideia de como amenizá-la.

Quando a manhã chegou, um vazio se instalara em seu coração. E aquela sensação de que o mundo era uma bolha cinzenta o engoliu.

-Você devia levantar. Vou levar você para ver as meninas. - O vovô falou procurando consolá-lo.

Ele ergueu-se abruptamente.

-Onde elas estão? - Perguntou agitado.

-Com a minha esposa, no mundo dos Mortais. - Respondeu.

Ele tomou seu café rapidamente. Sem nem mesmo sentir o sabor da comida.

-Ah, como devo chamá-lo? - Suguru perguntou sentindo-se envergonhado por não ter lembrado antes.

-Me chame de vovô. - O jovem sorriu, mas seu coração se encolheu, ao pensar no velho Ghoul, que lhe ensinara tantas coisas.

Suguru vestiu uma muda de roupas que o homem lhe entregara, calça, tênis e uma blusa de moletom cinzas. Ele achou que aquelas roupas eram estranhas, mas muito confortáveis.

-São do meu neto, Satoru. Ele não vai se importar de te emprestar. - Explicou.

-Eu vou conhecê-lo? -O homem sorriu. - Ainda não.

Os dois partiram para a terra dos mortais, por um caminho cheio de estrelas.

-Então você encontrou a minha avó? - Satoru perguntou refletindo.

-Sim, devo muito a ela também. - Suguru disse saudoso.

-E as garotas? Estão bem? - Gojo indagou, mais para si mesmo do que para o outro.

-Sinceramente... Eu não sei. - Suguru sentiu medo por elas, passara tanto tempo longe, quão grandes elas deveriam estar.

-Vamos dar um jeito de encontrá-las. - Satoru o encorajou.

-Tenho medo, de que elas tenham me esquecido. Se não houver mais ninguém para lembrar de mim... - Ele meneou a cabeça.

-A sua mãe... - Satoru começou, mas as palavras penderam no ar, flutuando entre eles, como uma realidade que ele não queria admitir.

-No momento em que me deixou ir naquele dia, eu entendi... Não há nada entre nós. - Suguru respondeu, sem ressentimentos.

-Depois que nós visitamos as garotas, eu fiquei uns dias naquele mundo, não parecia tão ruim, ninguém sabia o que eu era e eu não precisava procurar um lugar onde precisasse me esconder e as meninas também gostavam de lá. Por um momento eu quase desejei ter nascido ali com a sua família, mas havia algo que eu precisava fazer antes.

O céu estava calmo, quando Suguru chegou a Dagda, encaminhando-se direto para os aposentos do príncipe Salazar.

O príncipe estava deitado preguiçosamente, enquanto uma mulher de cabelos ruivos e expessos dormia abraçada com ele. Um garoto de cabelos claros e olhos profundamente azuis o beijava.

-Guardas! - Ele ergueu -se abruptamente os lençóis envolvendo seu corpo nu. O garoto se encolheu quando viu o príncipe reagir daquela forma. - Quem deixou você entrar?!! Oh melhor quem deixou você sair? - O príncipe não conseguia disfarçar a própria indignação.

-Já faz um tempo Salazar. Sentiu minha falta? Ele puxou quatro adagas e arremessou-as contra ele, quatro filetes de sangue escorreram de sua pele e deixaram marcas de sangue no chão.

-O que você quer, seu maldito?!! - O príncipe estava aterrorizado.

- Pra onde foi a sua coragem? Foi embora junto com todos aqueles que você tirou de mim? - O outro o olhou confuso.

-Eu vim para te avisar. Que se eu tornar a ver o seu rosto novamente, você morre. - Suguru vociferous.

-Você é mais louco do que eu pensei. Saia! Ou eu vou chamar os guardas. - ameaçou o príncipe.

-E o que eles vão fazer? Quem você pretende ameaçar desta vez? - Suguru soltou uma risada irônica.

-Você! - O príncipe não tinha mais argumentos para aquela discussão.

-Você é como uma criança birrenta e o seu reinado vai terminar antes mesmo de começar.

Com essas palavras ele saiu.

***

Suguru encarou aquela chave, não fazia de para onde ela o levaria...

Apenas quando não houvesse esperança... Mesmo naqueles dias sombrios, quando ele perdera quase tudo, ele ainda acreditava que houvesse esperança.

Ele guardou o objeto e partiu tentando convencer a si próprio de que dias melhores viriam.

Foi quando aconteceu.

Com as raízes danificadas, O Reino de Yrthur começou a desandar, as colheitas não foram tão boas naquele ano e a chuva escassa, os recursos se tornaram poucos e uma guerra civil ameaçava eclodir entre a população.

A magia não era como um bem comum, que quanto mais se tinha, mais poderoso, mais rico e mais respeitado você era.

Não importa quem fosse o feiticeiro, ou de qual família fosse, ele teria de conquistar seu respeito com muito esforço, se conquistasse a afeição do povo, sua vida estaria estável e segura, pois o poder vinha deles.

Quanto mais adorado e amado, mais forte um feiticeiro imortal era e mais poderosa era a sua mana.

Quanto mais rejeitado, mais sua magia se tornava uma coisa suja e profunda difícil de controlar.

Por isso a maioria deles, era condenado a morte, não pelos líderes, mas pelo desejo das massas.

Pois o poder pertencia somente ao povo, sendo executado por meio de seus governantes.

Era a principal lei da magia de Yrthur.

Claro que isso não abrangia aos híbridos que ficavam a margem como meros incômodos, facilmente descartáveis.

***

Ainda não passava das 5:00 da manhã, quando um dos trabalhadores do pequeno vilarejo de Gör se apressara para encaminhar as coisas do seu ofício.

O vento soprava baixinho e um aglomerado de nuvens espessas enchiam os céus.

-Parece que vai chover. - Refletiu, sentindo-se grato. Um trovão rugiu sonoramente e um raio partiu o chão ao meio.

- Acho melhor aguardar a tempestade passar.

O homem se encolheu e retornou para casa, mas da janela, ele percebeu que o que caíra do céu não foram pingos de chuva.

O som era de uma respiração pesada e profunda e ele sentiu a putridão se espalhando pelo ar.

Todos os pelos do seu corpo ficaram eriçados, e o seu instinto lhe dizia para correr, ao mesmo tempo que suas pernas pareciam não ter mais a capacidade de mover-se.

-Corra. - Ele resmungava para si mesmo.

Mas não havia mais tempo.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora