Sombras do passado

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-Sinto muito que tenha passado por isso. - Gojo disse tocando sua mão, mas por alguma razão inexplicável ele sentiu-se embaraçado. Por outro lado também não poderia retirá-la rapidamente, ou outro perceberia o seu embaraço desnecessário, de qualquer forma ele gostava da sensação do toque sob sua pele. - Me conte o resto amanhã.

Suguru sorriu e assentiu.

O céu se agitava com uma ventania sombria, um clic soou quando as correntes se partiram.
E o som do ferro atingindo o chão tomou conta do recinto.

O outro suspirou sentindo-se aliviado.

-Não posso romper o selo em meus poderes ainda, vamos embora daqui primeiro, mas não antes do anoitecer, a floresta é mais feroz a noite, então não seria óbvio partir neste horário. - Ele mirou Gojo. - Obrigada.

Depois de tomar o desjejum juntos, Suguru prosseguiu com seu relato.

As colinas passaram a ser chamadas de Cemitério dos Imortais, e Suguru continuou a viver alí, enquanto buscavam um lugar mais aceitável, para os híbridos sobreviventes. Ele afundou-se no estudo das artes místicas, as técnicas dos vampiros, eram simples, mas exigiam um vigor que só poderia ser conseguindo por uma fonte de mana particular e não havia nenhuma por alí, felizmente o garoto não era um dos feiticeiros comuns, ele se descobriu extremamente habilidoso em tudo o que se colocava para fazer.

A Magia dos Ghouls estava relacionada as águas, e ao controle da mesma. E por fim, a arte dos fantasmas, que resumia-se a indetectalidade, invisibilidade, transparência e atemporalidade.

Com a pequena coleção de pergaminhos deixada por seu pai, o jovem descobriu que poderia ser considerado um gênio.

Então ele partiu.

Para o primeiro Reino.

Éos.

A terra da antiga duquesa. Aurora.

Alí ele conquistou, aprendeu e dominou a Magia da Luz, com a morte de Aurora e a destruição de um dos seis exércitos, ele partiu novamente. Alguns dos remanescentes do exército da Luz foram conquistados por seus ideais de justiça e optaram por segui-lo.

Seu caminho agora seria traçado entre as muralhas de Taranys, onde dominara a arte da Trovão e do relâmpago. Como ele não guardava nenhuma ressentimento daquele povo, apenas partiu, levando consigo nada mais do que o conhecimento que adquirira. E deste modo ele vagou por entre os outros reinos, aprendendo e dominando as artes da terra, dos ventos, do combate e da força brutal, até chegar a seu destino final.

Cinco anos haviam se passado. E ele fora extremamente paciente, aprendendo, conhecendo as fraquezas do inimigo e as suas próprias.

***

A noite agitava as areias do deserto, quando ele avistou a cidade. Um caminho de pedra levava até o templo. E foi para lá que ele se dirigiu e rezou. Não aos deuses, mas ao seu pai, que de alguma forma ele acreditava que estava alí. Ajudando-o em sua jornada.

Depois de fazer uma prece simples, ele saiu, seus cabelos se agitavam levemente sobre o rosto e a lua brilhava no alto do céu, ele mirou o Palácio de prata. E observou a cidade.

Dagda.

A Terra que era governarda pela mãe que ele não conhecia, nem ao menos sabia que tinha.

Suguru se dirigiu lentamente ao palácio, passou pelos portões da frente e entrou pela porta principal, ninguém foi capaz de detê-lo, nem mesmo notá-lo.

Ele se encaminhou para a sala do trono e mirou aquela mulher de cabelos claros e olhos tristes, ela parecia jovem, mas sua expressão parecia ter vivido um eternidade. Era uma alma cansada. Um menino que não deveria ter mais que doze anos estava ao seu lado, lhe sussurrando algo. A Rainha deu um sorriso triste, ele a beijou e sorriu. Depois partiu.

O príncipe-consorte era um homem sério e de aparência bela. Ele não opinava sobre nada, apenas ficava em silêncio deixando que a Rainha tomasse as próprias decisões.

Suguru tirou o capuz que usava e se aproximou do trono.

-Majestade. - Ele falou, a voz firme ecoando por todo o recinto.

A Rainha não conseguiu esconder o espanto. Ela queria correr e ir imediatamente até ele. Tomar sua criança em seus braços e nunca mais deixá-lo partir.

-O que deseja meu súdito?

- Seu reino foi erguido sob os pilares da sabedoria e da justiça, então por que tantos do seu reino são arremessados no submundo e condenados a mortes tão crueis?

-Ora, está falando daqueles monstros híbridos ? Eles são aberrações da natureza. A morte é uma gentileza para eles. Não deveriam existir nesse Mundo. - Um jovem de cabelos castanhos e um sorriso cruel se aproximou. Era o menino que saíra da sala um pouco antes.

-Estou falando com a Rainha, não lembro quando me dirigi a você. - O menino estremeceu, ele era o príncipe ninguém nunca ousara lhe falar daquela maneira.

-Filho... Por favor não me interrompa quando não for solicitado. - Ina disse com a voz gelada.

-Está certo, mãe. - Ele lançou um olhar mortal para Suguru e saiu com passos irritados.

- Quando o tratado foi feito, nós envolvemos vampiros, feiticeiros, ghouls e fantasmas. Outras espécies não foram envolvidas. O que o senhor espera que eu faça?

-Outro tratado. Você é a conselheira dos seis reinos, poderia sugerir isso, reduziria a pressão e o medo das pessoas contra o submundo e eles poderiam viver nos lugares comuns.

-Não posso defender os híbridos, eles são os responsáveis por todas as mazelas que afligem a nossa sociedade. Não pode me pedir para fazer isso.

-Quantas vezes a senhora se dispôs a investigar as coisas das quais eles foram acusados?

A Rainha permaneceu em silêncio.

-Volte para casa, Suguru.

-Eu não tenho uma casa para onde voltar. O lugar onde vivíamos foi reduzido a cinzas.

A mulher sentiu um bolo na garganta.

-Muito bem - Ele continuou. - eu vim também para alertá-la, que graças ao antigo soberano e a falecida duquesa aurora, as raízes de Yrthur foram seriamente danificadas. A luz nunca deveria ter chegado até lá, mas chegou.

-O que está dizendo? - A mulher perguntou.

-Para uma Rainha sabe muito pouco sobre o seu povo. Ah, nós não fazemos parte dele. - Com essas palavras ele saiu. O manto negro se agitava ao seu redor.

A Rainha levantou -se e deu dois passos em direção ao filho que partira, mais uma vez ele se fora e ela não fizera nada para impedi-lo.

Ela quase conseguia ouvir a voz de Karius lhe dizendo que ela era uma covarde e no fundo era assim que se sentia.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora