Esquecimento

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Naquela manhã, a primeira de 73 dias o sol começava a nascer. Quando Satoru se levantou, seu corpo estava levemente marcado em algumas partes, ele sorriu ao recordar-se da noite anterior.

Suguru estava adormecido, o pingente repousavam suavemente em seu peito e Gojo se pôs a admirá-lo momentâneamente. Bem no momento em que ele abriu os olhos e beijou -o com suavidade.

-O sol... É hoje. - Suguru disse ainda sonolento.

-Posso saber o que tem lá? - Gojo perguntou curioso.

-Uma prisão. Chamada Lete. A mesma que me acusaram de abrir.

-Mas não foi você...

-Não, há mais alguém que possui essa chave. - Suguru explicou.

-E você desconfia de muitos. Então o que vai fazer? - Tornou a perguntar.

-Vou falar com o líder dos Atados, as supostas criaturas que destruíram o Reino.
- Suguru leu a pergunta que se formavam na mente de Gojo e explicou.-Ele sabe quem o invocou.

- Isso é seguro? - Ele não parecia convencido.

-Talvez, de qualquer forma eles não vão sair da ilha, eu vou entrar.

-Eu vou acompanhá-lo...

-Não, preciso que mantenha a ponte entre as ilhas, ou eu não vou conseguir voltar.

-Não estou gostando disso.

-Você agora é muito forte. Você consegue. E não posso permitir que ninguém te veja comigo. - Satoru suspirou, claramente irritado. -Vai ficar tudo bem. Eu preciso fazer isso. -Suguru puxou-o para um beijo rápido e se afastou com a chave em suas mãos.

***

Xavier tinha visto tudo ao longe e deu uma contovelada em Lumine.

-Você viu?!! Ele o beijou!! - Disse surpreso

-Sim, eu vi. Não sou cega. Só você mesmo, para não perceber o que estava acontecendo entre eles. - A mulher bufou.

-Eles pareciam mesmo apaixonados. - A mulher encarou a figura minúscula de Suguru que se afastava cada vez mais.

-Espero que as coisas não fiquem ruins para ele.

***

Gojo deixou que sua magia fluísse para a ponte enquanto Suguru atravessava. Os ventos açoitavam as árvores violentamente conforme ele se aproximava.  A ilha estava cercada por um névoa cinzenta, diferente desta onde a névoa era branca. Depois de perder Suguru de vista ele fechou os olhos e focou-se em mater a passagem aberta.

Quando pisou na areia, Suguru sentiu a força maligna daquele lugar, a energia era pesada ali. Não haviam árvores, apenas um deserto longo com areias pálidas e um alçapão no chão. Ele o fitou, parecia mal feito e muito fácil de quebrar. O feiticeiro conjurou sua magia e expôs a ilusão que cercava a ilha. Grossas paredes de Ferro se estendiam por quilometros sem fim e diante do portão três círculos giravam um dentro do outro. 

Não havia redenção para os criminosos lançados ali.

A verdade é que eles não eram criaturas, não eram monstros atrozes.

Eram humanos, alguns mortais, outros feiticeiros.

Depois de lançadas na prisão de Lete, eles eram esquecidos por suas famílias e amigos, quaisquer pessoas que tenham encontrado e também os esqueciam. e condenados a viver naquele mundo decadente sem poder morrer, por isso suas aparências eram monstruosas e o desejo por sangue e sobrevivência se tornava a única coisa que eles conheciam.

Muitos deles nem tinham cometido crime algum, apenas foram pegos na ambição de alguém, geralmente da nobreza.

Ele estendeu a chave e recitou o encantamento. Os portões abriram-se e ele entrou. Quando todos o viram, eles se curvaram.

-Mestre. - A criatura se aproximou devagar, não havia hostilidade em seus movimentos.

-Chaos. Está na hora. Você vai me seguir? - Perguntou.

-Até a morte. E também depois dela, eu ouso dizer. - A criatura bateu no peito.

Apenas dez minutos haviam se passado, quando Suguru surgiu, mas Satoru não compreendeu porque o exército negro o seguia.

-Explique-se. - Ele pediu, a boca formando uma linha fina.

-Eu vou. - Ele disse tristemente. - Chaos virá conosco, os demais podem esperar.

As criaturas permaneceram em vigília ao redor da ilha, preparados para o combate.

Os três seguiram para o castelo. Sentaram-se ao redor da mesa e Suguru começou a falar.

-Antes de ser acusado de ter aberto os portões de Lete. Chaos e eu nos encontramos. - Começou.

-Eu não tinha consciencia da minha existência humana, quando se vive tanto tempo na ilha do esquecimento, perde-se tudo. O Mestre não teve outra escolha, se não lutar contra mim... - continuou.

-E foi aí que percebi um padrão na forma das batalhas, como os movimentos pareciam com os de um feiticeiro habilidoso. Um feitiço de regressão poderia devolver a Chaos sua humanidade, foi o que pensei, Mas não foi o suficiente, uma vez que a Magia que cerca os Atados é muito poderosa e antiga, um maldição criada exclusivamente para punir os infratores condenados a viver em Lete. Ela se arraiga a alma da pessoa e os transforma em mortos-vivos, atrofiando os órgãos e nublando a mente pela eternidade.- Suguru continuou a explicar. -Mas a eternidade pode ser um tempo muito longo... E quanto mais poderoso o mago, mais difícil é manter o feitiço em sua totalidade. Com a minha magia não foi tão difícil desfazer a maldição e transformá-la em algum tipo  de benção.

Chaos removeu a ilusão que o cercava e se mostrou como ele era.  Os cabelos de um branco muito puro e os olhos quase dourados, no meio da testa havia uma pequena marca também dourada, quase imperceptíveis em contraste com a pele bronzeada. Era muito bonito, e não deveria ter mais que 38 anos.

-Eu não esperava por isso... Confesso que fiquei preocupado, quando você voltou com um exército que te condenou. - Disse engolindo o sabor amargo que brotava dentro dele.

-Está tudo bem. Estou aqui agora, você me salvou e só me resta provar minha inocência e colocar no trono alguém que seja digno.

-Não o Salazar? - O outro sugeriu. Suguru riu.

-Ele não. - Enfatizou.

Depois da conversa, os três retornaram para ver os outros. O exército, como Satoru se referia não era tão numeroso. Deveria haver pouco mais de cem feiticeiros.

-Como eu disse, quanto mais forte o mago, mais fácil é libertá-lo, mas haviam aqueles sem magia alguma, cuja a alma fora completamente destruída pela maldição. Estes eu não pude salvar.

-Você fez o bastante. Mais do que qualquer um teria feito por nós. - Chaos disse sinceramente.

Xavier que observava tudo de longe se aproximou silencioso e disse.

-Oi. - O homem piscou rapidamente.

-Oi. -Respondeu confuso.

-Eu sou o Xavier, é um prazer conhecer você. -Ele estendeu a mão, e o homem apertou gentilmente, não conseguindo evitar de dar um sorriso.

-Você viu Nya?! Ele sorriu pra mim. - Disse com um sussurro. Satoru o observou em silêncio e sua boca se curvou levemente. Ele tinha uma ideia.

Notas da autora

Lete é um dos rios de Hades, associado ao esquecimento. Quem bebesse suas águas esquecia- se de suas vidas passadas.

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A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora