Uma gota de Esperança

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Chegou o momento em que ele nasceu, Suguru viu o ritual de seu nascimento, eles seguraram a garota desesperada longe da criança e mais uma vez ele pensou que ela era uma atriz e tanto.

Às vezes Suguru pensava que seu pai, Karius sabia a verdade sobre sua mãe, ou pelo menos desconfiava de suas boas intenções, por isso nunca permitiu que ela chegasse muito perto dele.

Por fim, ele viu aquela lembrança, que até pouco tempo ele achara ser um sonho ou um fragmento perdido.

A mulher no abismo e as duas crianças.

Salazar e Raziel.

Salazar possuía os olhos mais gentis, que ele já vira em uma criança. Ele se agarrava a Raziel como se fosse sua única esperança.

Ele deu um passo a frente quando a mulher os arremessou no abismo.

E esperou que ela virasse o rosto, imerso em lágrimas, ou cheio de remorso, pelo menos.
Mas a única coisa que havia nele, era a impaciência.

Ele murmurou um "chega".

-Não quero mais ver isso. Ela não pôde... Eram os filhos dela. Por quê? - A raiva ameaçava explodir dentro dele.

-Bem, não dá pra compreender realmente. - Luziel parecia distraído.

-Há quanto tempo você sabe? - Perguntou.

-Há não mais que algumas semanas. Fiquei me perguntando o que deveria fazer. Eu não esperava isso dela. Me disseram que estava mergulhada em uma profunda melancolia e que ninguém podia vê-la.- Ele suspirou - Achei que guardasse remorso, pelo que acontecera com você, mas aparentemente é algo que nenhum de nós esperava.

-Qual o objetivo dela? - Satoru perguntou.

-Sinceramente, eu não consigo imaginar o que uma pessoa que tem tudo poderia querer. - Suguru respondeu.

-Ah meus queridos, é aí que lhes falta tato para compreender a natureza humana. São muito jovens, a final. Quanto mais se têm, mais se quer.

-Por favor, nos ilumine. - Pediu Suguru.

-Muito bem, imagine que Ina era uma criança doce. Afinal, até certo ponto, ela pôde ser criança, mas então começaram a prepará-la para ser Rainha. Ela começa a dar ordens e tem prazer total em ser obedecida. Ela pode fazer isso a bel prazer, em seu reino. Mas percebeu que o seu comando não se estende as demais regiões de Yrthur e isso começa a incomodá-la.

Ela se isola durante dias procurando uma solução para o seu triste problema e então  descobre a existência daquele ser asqueroso e o busca. Disposta a fazer qualquer coisa par conseguir mais poder e mais controle.

Inclusive sacrificar os próprios filhos... - Ele parou antes de prosseguir. - por que o objetivo dela nunca foi ser mãe. E para a rainha vocês eram apenas os meios de se chegar a um fim.  O poder sobre a vida e a morte. - Concluiu.

-E o que ela faria com um poder assim? -Satoru perguntou.

-Oh, é melhor perguntar o que ela não faria...

-Ela governaria pelo terror. - Foi Suguru quem falou.

-E o medo não deixaria espaço para o ódio. Em outras palavras, ela faria o que quisesse. Sem medo do julgamento. - Concluiu Luziel.

Mas, é claro que ela não contava, com a astúcia de Salazar, que trancafiou Suguru em uma prisão tão horrível, que nem mesmo aquele ser ousaria se aproximar. A não ser, que alguém lhe desse a chave, e só o próprio Salazar a possuía. Pois o medo dele do irmão é tão grande que ele não confia em mais ninguém. - Suguru arqueou a sobrancelha.

-Eu nunca o machquei realmente.

-Claro que não, mas pode ser muito assustador quando quer. Enfim, os termos do contrato estão pendentes e ele está impaciente, suas correntes estão fracas, como ela as deixou e ele não deve demorar a sair. Mas não podemos permitir.Por que se ele sair, que os céus tenham piedade de nós, seria uma catástrofe.

- Ele não é humano. O que ele é? - Satoru perguntou.

-Eu não sei. Mas seu poder se extende além do inimaginável e as leis da magia não o afetam, todos correriam grave perigo.

-Quem o prendeu da última vez? - Suguru questionou.

-Não há registros em livros sobre ele, só em alguns papiros antigos e estritamente proibidos.  Claro que já os li, por mera curiosidade, mas não há nada. Apenas que o chamam de Ad aeternum. O que não tem fim.

-Então, ele não deve ser o único. Não deve? -Satoru sentiu um arrepio.

-Devem existir outros além dele. - Luziel deu de ombros  -Isso é algo para se levar em mente, mas dizem que ele é de um planeta distante. Ou de uma dimensão longíqua. Não sei bem o que é, mas deve estar furioso. Ele espera por você, Suguru e você não apareceu.

-Três olhos.Um destes é para os devedores. - Suguru relembrou o que Xavier falara.

-Se eu tivesse três olhos, talvez não vivesse perdendo minhas coisas, será que já estou tão velho? - Luziel perguntou mais para si mesmo do que para os outros. - Ele deve estar de olho na sua mãe, ou em você...

-Não estou com medo. - Enfatizou.

-Então você é um tolo.

-Não posso me esconder. Minha magia está cada vez mais instável. - Sentiu a necessidade de explicar.

-E você pretende ir a batalha desta forma, vai desafiar sua mãe? -Suguru permaneceu em silêncio. Luziel pegou um frasco pequeno e deixou que uma pequena gota caísse dentro e o entregou.

-Revele as lembranças dela, diante de todos, talvez a opinião deles sobre você possa mudar com isso. Vou fechar os portões hoje a meia - noite. Eles não seram abertos, nem para você, nem para ninguém. Essa guerra não é de Nephtys e não posso arriscar a segurança do meu povo. Eles são minha única família.

Os dois assentiram e se retiraram em silêncio.

***
Suguru sentiu a brisa noturna tocar seu rosto e Satoru se aproximou em silêncio.

-Eu o amo, Satoru, não posso partir sem deixar que você saiba. - O outro derramou essas palavras sobre ele, como uma torrente.

-Não fale como se estivesse dizendo adeus, não pra mim. - Satoru bufou, tentando disfarçar a ansiedade crescente em seu peito.

-Eu não me atreveria a deixá-lo, nunca. Mesmo se eu fosse um fantasma, continuaria a protegê-lo, enquanto o seu coração batesse -Ele tocou o rosto do outro e beijou-o delicadamente.

Quando Suguru abriu os olhos, viu Luziel os encarando com um sorriso bobo.

-Ei! O que está fazendo? - Perguntou irritado.

-Com certeza, não estava espiando vocês. - O homem ergueu as mãos.

-Veio para a despedida? - Suguru questionou.

-12:01. O portões da cidade estão fechados. Ninguém entra ou sai..

-Então? - Os dois pareciam confusos.

-Eu não disse que não iria acompanhá-los.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora