Compreensão

176 26 0
                                    

Ele encarou os sete fragmentos que foram arremessados contra o céu e observou a criatura arremessar as crianças para aquela pessoa que ele não tinha notado que estava ali, em silêncio. A mulher agarrou os filhos e saiu, um passo a frente do outro, ela não parecia temer a criatura. O menino ergueu a face vazia, e Xavier sentiu seu coração doer um pouco. Ele sentou-se na areia e fez um esforço para encarar aquele fragmento de alma triste.

-Sua mãe não vai voltar. - Explicou com gentileza.

O lugar estremeceu violentamente e a areia começou a afundar.

-Eu não posso ficar aqui. Eu tenho alguém que está me esperando. - Continuou.

-Sua mãe? - Ele sorriu sentindo o coração encolher.

-Não, minha mãe também não vai voltar. - Disse para o menino.

-E por que não podemos ficar juntos? - Indagou a criança confusa.

-Porque você está sofrendo. Se você quiser, posso libertá-lo e você poderá reencontrar o seu irmão. - O lugar estremeceu violentamente mais uma vez.

-Irmão? Acho que eu tinha um irmão. Ele me protegia. Mas eu não sei onde está agora. Eu quero encontrá-lo. Pode me levar até ele? - Xavier assentiu silencioso.

Ergueu a espada e atravessou o menino, que caiu gentilmente sobre o seu abraço, às vezes ele possuía aquela aparência infantil, embora sem rosto, outras vezes ele voltava a ser a criatura de aparência transparente.

Ele parou por um momento e então desapareceu. O ambiente sumiu e aquela bola de energia que o prendia se rompeu.

As garotas correram com as espadas desembainhadas.

-Seu idiota! Nunca mais faça isso de novo.

-Eu o conheço, o fragmento de alma a quem pertence. - Ele as mirou lívido. -Mas isso, deveria ser impossível.

***

Aquela foi uma manhã comum. O sol havia nascido novamente, ventos sopravam a oeste, sua mesa estava repleta de frutas e doces que ele adorava, o garoto que estava em sua cama, era uma beldade que ele jamais tornaria a encontrar.

Ele dormiu relativamente bem. Conversara com sua mãe na noite anterior. Ela parecia melhor. Escrevera para o irmão, parabenizando a chegada do primeiro filho. E apesar da fuga de Suguru, ele não estava atormentado por isso.

Ele nunca sentia muito as coisas. Ele não costumava dar importância a nada.

Então por quê?

Por quê ele estava chorando? Por que sentia aquela dor açoitando cada recanto de sua alma, como se tivesse perdido alguém profundamente importante. Já não bastava na semana anterior, quando começara a sentir que estava tratando mau os seus servos.

Ele era o Príncipe-Regente e logo mais seria Rei.

Aquele pensamento o deixou deprimido e ele voltou para a cama, o garoto de espessos cabelos ruivos o abraçou e beijou sua testa.

-Sempre ouvi dizer, que você era o homem mais insensível que eu iria conhecer. - Ele soltou uma risadinha. - Acho que eles não te conhecem.

Salazar o encarou com seus olhos verdes e tornou a beijá-lo antes de cair no sono profundo e cheio de sonhos. E mais uma vez ele sonhou com o abismo.

***

Quando Raziel acordou, gotículas de suor formavam - se em sua testa. Ele mirou a esposa adormecida, o ventre crescido, onde seu filho estavae a envolveu em um abraço confortável, aquela sensação o atormentava insistentemente, por que ele estava com medo?

Sentiu o frio atingir seu rosto e um pequeno arrepio lhe subir pela espinha. O tempo estava sereno, mas aquilo não lhe apaziguou. Era como a calma antes da tempestade, estava esperando algo eclodir, a qualquer momento.

E de novo aquele sentimento dos últimos dias brotando, a sensação de que perdera alguém muito importante.

Por alguma razão, ele pensou na mãe. Segundo Salazar ela parecia melhor. Ele estava decidido a visitá-la, naquele dia.

Seu pensamento voltou-se para Suguru. E ele pensou que aquele plano parecia um tanto insano. Mas como ele concordara não havia mais o que dizer.

***

Suguru precisava chegar o mais rápido possível a Tyr, Nunca encontrara Luziel. Não fazia ideia de como era sua aparência. Sabia apenas que era um guerreiro implacável e que em uma luta direta ninguém levaria contra a sua agilidade e destreza.

Eles caminharam por um deserto árido, até que avistaram algo parecido como um oásis, um enorme arco se erguiam simbolizando a entrada da cidade, as pessoas ali tinham um jeito próprio de viver, aquele homem era o irmão mais novo de seu avô.

E fora o único que se recusara a lançar maldições quando ele era apenas um bebê.
Logo na entrada ele encontrou um jovem, de tez suave e olhos gentis. Tinha cabelos claros e uma pele morena, não era forte, mas o corpo era de certo modo definido. Usava uma túnica simples e calças claras.

Parecia discutir com outros dois jovens.

-Seus movimentos são imaturos e apressados, em uma batalha de verdade você não duraria dois segundos. - O menino, que era moreno, com olhos claros, bufou irritado, porém não retrucou e recomeçou novamente, o garoto menor permaneceu alheio encarando a própria lança.

-Olá. -Suguru falou. Os três levantaram a cabeça ao mesmo tempo. Em um segundo o garoto loiro derrubou o oponente no chão e se voltou para os estranhos.

-Ah. Olá. Estão perdidos? O deserto pode ser cruel. - O estranho perguntou solícito.

- Não exatamente. Estamos procurando pelo Príncipe Luziel. - Suguru explicou.

-Ora, aqui temos um homem de muita coragem. - Ele os fitou com uma expressão inescrutável.

-E por que você diz isso? Eu deveria temê-lo?- O garoto pareceu ultrajado.

-É claro que deveria! Ele pode ser muito assustador, apesar da aparência. - O menino agora parecia realmente irritado. Suguru se segurou para não rir, a situação era engraçada. Embora ele tivesse uma ligeira impressão do que estava acontecendo ali.

-Tenho certeza de que ele pode ser a mais gentil das criaturas. - O jovem ficou em silêncio, então sorriu.

-Muito bem. Já que é assim, vamos ao palácio. - Ele agitou as mãos, convidando-os a segui-lo.

-Fácil assim? - Satoru murmurou.

Um brilho leve passou pelos olhos do menino. Não deveria ter mais que 19 anos. Gojo pensou.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora