CASADOS

Gabriel

Até o momento que saímos daquele furgão meu único pensamento era que Costa ou outro diretor tinha orquestrado o sequestro para me ameaçar ou até mesmo me matar, a fim de encobrir o vazamento na empresa, mas nada me preparou para o que ouvi.

Estávamos sendo usados como testas de ferro, ou melhor, eu estava e caí como um patinho. Por isso Lauro e Cibele cederam fácil quando disse que precisava me afastar um pouco das execuções das ações da firma quanto as investigações da farmacêutica.

- Afonso, esses papeis mostram que o que diz é verdade, mas a princípio não vejo como derrotar os seus sócios, posso tentar uma ação legal contra o Felipe, mas levaria um tempo – comecei a falar quando ele sinalizou me cortando.

- Não, Gabriel. Precisamos de algo definitivo e há alguns meses uma das minha fontes descobriu que Jason estará em sua ilha particular para uma das suas festas pouco convencionais.

- E? – perguntei ao mesmo tempo em que a Sarah.

- E preciso de um casal que ele não conheça para entrar no lugar e colocar um dispositivo que desenvolvi que hackeará todo o seu sistema de dados fazendo com que tenhamos as provas que precisa para colocar a todos na cadeia.

- Como? Isso é loucura – disse nervoso.

- Pelos documentos que lhe dei sabe que estou certo, a não ser que tenha medo de se deparar diretamente com a traição dos seus amigos.

- Nada no mundo me fará colocar a minha família em perigo. Posso desfazer a sociedade e começar novamente.

Sarah me olhou com um pouco daquele carinho que demonstrava por mim antes do nosso casamento cair na rotina.

- Você não me entendeu, Gabriel, estou disposto a tudo para me vingar e colocar fim naqueles que me traíram.

- Entendo o seu desejo, mas como disse não colocarei a minha família em perigo.

- O que acha que a Joyce e o Ricardo vão pensar se de repente os meus homens receberem ordem para puxarem o gatilho?

- Como é? – gritei eu e Sarah ao mesmo tempo, quando o monitor de TV atrás de nós se acendeu e vimos a imagem dos nossos filhos amarrados com capangas os ameaçando.

- Que loucura é essa? – questionei, enquanto Sarah estava em choque.

- Preciso de ajuda, estou lhe pedindo auxílio por bem, mas caso não aceite estou disposto a ir as últimas consequências – ameaçou.

- Então irei sozinho, não entendeu que não quero minha mulher e os meus filhos em perigo – disse nervoso segurando a mão de Sarah que tremia que nem vara verde.

- Não funciona assim, só casais entram na festa.

- Mas...

- Não há espaço para "mas".

- Desta forma está agindo como seus sócios e matando inocentes e...

Tentei argumentar, quando a Sarah se intrometeu.

- Eu topo, irei com o Gabriel, desde que leve os nossos filhos para casa da minha sogra e eu possa falar com eles – disse de imediato.

Olhei para a minha mulher sabendo que a minha leoa aceitaria qualquer coisa para deixar os filhos em segurança. Porém, não queria que ela corresse risco.

- Deve ter outro jeito, eu lhe apoio sem precisar ameaçar a minha família – disse.

- Desista Gabriel, sua esposa já entendeu que é melhor aceitar.

- Sarah – disse ajoelhando a sua frente – isso é loucura.

- Eu sei, porém ele está com os nossos filhos, não há muito que fazermos – disse.

Levantei e me aproximei de Afonso.

- Está bem, faremos como você quer, agora terá que primeiro atender ao pedido da minha esposa.

- Não posso atender os dois pedidos da sua esposa. Diante da circunstância não quero correr o risco de que a sua mãe chame a polícia e faça um escândalo, por isso as crianças ficam conosco até que retornem, agora podem telefonar e falar com elas.

- Como ficaremos tranquilos para fazer seja lá o que querem com os nossos filhos sendo ameaçados? Pediremos que não entrem em contato com a polícia, porque depende da nossa segurança – disse Sarah apelando para a empatia de Afonso.

- Por favor, compraremos a sua briga, mas como disse a minha esposa, precisamos da tranquilidade de saber que nossos filhos estarão em segurança.

Ele nos olhou por alguns segundos e depois se afastou para falar com um dos seguranças.

- Poderão ver as crianças antes de viajarem, eles estão em um dos nossos esconderijos. Seguirão até lá para se despedir e depois os levaremos ao porto onde um iate os aguarda para seguirem até a ilha de Jason –disse aproximando-se de nós e continuou: - Preciso que eles fiquem em nosso poder, garanto que estarão em segurança enquanto cumprem a parte de vocês.

- Obrigada – disse Sarah com os nervos a flor da pele.

- Não precisa agradecer. Tenho plena noção de que o que estou fazendo com vocês é errado, mas espero que entendam e me perdoem. Esse sacrifício é para um bem maior – disse.

- Espero que realmente exista esse bem maior que quer proteger – disse sério.

- Quando colocarem o equipamento que desenvolvi no computador central do Jason, terá acesso as informações e verá o que estou querendo impedir, um dos motivos de ter sido o escolhido é que precisarei de um advogado como você para dar fim aos verdadeiros vilões – disse tentando nos convencer.

- Podemos ver nossos filhos, agora? – questionou Sarah, levantando-se e ficando ao meu lado.

- Claro, afinal como disse antes precisam estar no porto assim que escurecer. Os convidados começaram a chegar a ilha durante a noite.

- E o que acontece nessa festa? – perguntou Sarah, curiosa.

- De tudo, Sarah, Jason ama excentricidades, porém ninguém é forçado a nada e como estará em companhia de seu marido estará de uma determinada forma protegida.

Sarah me olhou confusa e não tive como confortá-la, pois também não fazia ideia do que encontraríamos.

- Com toda certeza criaram um perfil para nós dois ou assumiremos o lugar de alguém– disse.

- Assumirão o lugar de Rafael e Bete Torres, milionários do café. Eles estão impossibilitados de comparecer a festa – disse.

- Você os matou? – perguntou Sarah com os olhos saltando das órbitas.

- Não, apenas os estou mantendo presos assim como os filhos de vocês – disse calmamente.

Quando estava prestes a fazer mais uma pergunta o segurança fez sinal que tínhamos de ir. E como estávamos ansiosos para ver os nossos filhos e sabermos se estavam bem, não questionamos e seguimos viagem.