GABRIEL

17 2 1
                                    

Claro que havia uma expectativa muito grande como seria o pai da Sarah, tanto eu como as crianças, procurávamos disfarçar para que ela não se sentisse pressionada, porém acho que não conseguimos com muito sucesso, pois assim que um senhor na casa dos setenta anos, ruivo e feições duras abriu o portão e conheceu a Sarah, ela perdeu os sentidos.

Por sorte estava próximo e a segurei antes que caísse no chão.

O pai de Sarah nos levou para dentro da casa e a coloquei deitada no sofá, após alguns segundos, felizmente ela despertou o que foi o meu alívio, pois não sei o que aconteceria comigo se perdesse a Sarah.

- Amor – disse.

- Mãe, está tudo bem? – perguntou Joyce, enquanto Ricardo segurava a mão da Sarah.

Peter se aproximou novamente segurando um copo de água e me entregou para que desse a Sarah.

- Estou bem. Acho que foi muita coisa ao mesmo tempo, o cérebro deu pane – concluiu Sarah com um sorriso doce para as crianças e ficando séria assim que Peter surgiu em seu campo de visão.

Entreguei o copo com água que ela pegou para beber rapidamente, com toda certeza era bom ganhar mais alguns segundos antes de realmente ter que encarar a presença do pai dela ao nosso lado.

- Sabe quem eu sou – disse Sarah para Peter, sentando no sofá.

- Claro, acompanho a sua vida desde que nasceu – explicou tranquilamente.

- E por que nunca se aproximou? Por que só soube de verdade da sua existência com uma carta escondida nas coisas da minha mãe? E...

Era fato que ela estava muito nervosa e precisava acalma-la, por isso me aproximei sentando ao seu lado e segurando sua mão.

Sarah me olhou rapidamente, percebendo meu gesto e depois de respirar profundamente parecia mais calma.

- Posso responder a todas as suas perguntas, porém acho que devem estar cansados e com fome – ofereceu Peter.

- Fizemos um lanche agora na estrada, mais aceitamos a oferta para banho e descanso – disse com simpatia para Peter.

- Ótimo, acomodamos as crianças e enquanto elas tomam banho, respondo todas as perguntas da Sarah – disse com um sorriso simpático.

Peter nos levou por um longo corredor que dava acesso aos quartos, forneceu toalhas e artigos de higiene e depois de mostrar as crianças como usarem os chuveiros, voltei com Sarah e ele para a sala.

- E então? – perguntou Sarah, ansiosa pelo que estava por vir.

- Você é procurado pela polícia? – perguntei, pois acreditava ser a justificativa mais plausível diante de tudo que havia sido esclarecido até aquele momento.

- Para começar, não sou procurado pela polícia, Gabriel – disse me olhando e voltando-se para a Sarah, continuou: - Sarah, você tem o nome da minha mãe, fiquei muito feliz que a sua mãe se lembrou e mesmo com toda a mágoa que causei me deu esse carinho.

- Se não é procurado pela polícia, por que nunca me procurou? E se esconde em um lugar como esse? – perguntou Sarah, não absorvendo o que ele dizia.

- Para responder todas as suas perguntas, tenho que contar desde o início – disse e soltando o ar preso nos pulmões, começou: - Conheci sua mãe quando fui mandado para trabalhar aqui no Brasil, ela estava indiretamente ligada a pessoa que teria de investigar.

- CIA? – perguntei.

- Sim, hoje, estou aposentado – completou rindo.

- Caramba! – disse Sarah e Peter continuou:

- Tivemos os melhores meses da minha vida, porém eu não era o melhor para sua mãe, ela tinha direito a uma pessoa que a amasse e lhe desse uma família. A magoei muito no sentido de forçar um término e me envergonho bastante disso, porém a minha vida não comportava uma família e quando ela me escreveu dizendo que estava grávida estava investigando pessoas que não podiam sonhar que tinha uma família e assim, decidi me manter longe para protegê-las. Meses depois sua mãe me enviou uma foto sua e tive a certeza que na atual circunstância em que se encontrava minha carreira não podia me aproximar.

- Sua mãe nunca lhe disse nada? – perguntei para Sarah.

- Que o meu pai foi o grande amor da vida dela, mas que não cabíamos na vida dele – respondeu olhando para Peter.

- Sarah, não sabe quanto gostaria de lhe ter por perto e reconquistar a Luciana, porém quando minha vida se acalmou, sua mãe estava muito magoada e vetou qualquer aproximação da minha parte. Por isso escrevi a carta, mesmo não tendo a certeza de que ela a guardaria. Quando soube do falecimento dela pensei em me aproximar, porém lhe confesso que pela primeira vez fui covarde e não quis lhe encarar – disse.

- Deixou a carta na intenção que eu tivesse a coragem que não teve – observou Sarah com amargura.

- Sim, como lhe disse fui covarde. Fico feliz que tenha sido corajosa, por mais que acredite que estão precisando de ajuda – disse de forma misteriosa.

- Como assim? – questionei e Sarah me olhou confusa.

Era óbvio que não sabíamos se poderíamos confiar no Peter.

- Gabriel, nunca estive presente fisicamente na vida de vocês, mas sempre fiz questão de saber se estavam bem e em segurança. Podem me acompanhar até o escritório? – pediu, levantando-se da poltrona.

Eu e Sarah o seguimos por um pequeno corredor em direção oposta aos quartos, paramos em frente a uma porta de madeira maciça. Peter puxou uma chave a destrancando.

- Acho melhor deixar essa porta trancada por conta de alguns brinquedinhos que mantenho guardado aqui e também por ser o meu lugar de reflexão e saudosismo – disse e quando abriu nos deparamos com um painel muito bem organizado de várias pistolas e alguns rifles de um lado e do outro uma estante com os livros da Sarah, juntamente com as nossas fotografias, ao fundo uma mesa e um carrinho de bebidas.

Meu queixo parou no chão junto com o da Sarah, pelo que indicava o meu sogro era uma caixinha de surpresas.

CASADOSOnde histórias criam vida. Descubra agora