Sarah

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Meu coração batia acelerado desde o momento que pulamos o muro de casa, tinha muito medo pelo que poderia acontecer. Estávamos sem proteção e sem ajuda, já que por enquanto não tínhamos como entrar em contato com Afonso, portanto estávamos por conta própria.

Felizmente entramos em casa sem problemas e conseguimos pegar tudo que precisávamos, o problema aconteceu na nossa saída. Ricardo nos avisou que tínhamos companhia e se havia fiscalização dos bandidos no nosso jardim poderia também estar na rua que ficava na saída da nossa área de serviço.

- Na hora que o sinal tocar devemos correr – disse Gabriel.

- Como? – perguntei confusa.

E antes que ele me respondesse o alarme de casa começou a tocar assim como os demais alarmes da rua.

Espiamos pela janela e vimos que os homens que nos vigiavam se afastaram.

- Venha – disse Gabriel, puxando minha mão e saímos de casa pegando o meu carro que estava na garagem.

- E agora? – perguntei para Gabriel quando entramos no veículo.

- Vamos garantir que não estamos sendo seguidos e voltamos ao hotel para pegar as crianças e de lá fugimos.

- Certo.

Gabriel entrou em uma das avenidas principais da cidade e quase quando já pensávamos em comemorar eu percebi um carro nos seguindo.

- Gabriel, estão atrás de nós – disse.

- Vi o carro. Tenha calma, verei o que fazer para desviar, só se segure.

Depois que me instruiu do que fazer ele acelerou o carro e assim que possível começou a virar a esquerda em todas as ruas, por fim colocamos um ônibus entre nós e o carro e cerca de cinco minutos depois não víamos mais o nosso perseguidor.

- Pronto. Agora estamos livres – disse Gabriel olhando pelo retrovisor.

- Graças a Deus! Vamos pegar as crianças e sumir – disse decidida.

- Isso. Vamos para o aeroporto, pegaremos um avião para outro estado e depois tentaremos deixar o país.

- Boa ideia.

Seguimos em silêncio, porém mantínhamos nossos dedos entrelaçados como uma promessa muda de que nada nos afastaria.

Assim que chegamos ao hotel, estacionamos em uma rua paralela e com muito calma observávamos o ambiente em busca de qualquer pessoa que pudesse nos ameaçar.

- Estamos tranquilos – disse Gabriel e continuou: - Eu pago o hotel, enquanto você pega as crianças.

- Certo. Vamos nos encontrar no carro? – questionei ansiosa.

- Isso.

E nesse momento colocamos o nosso plano em pratica de forma rápida e eficaz, pois sabíamos que os inimigos não nos deixariam tranquilos.

Em quinze minutos estávamos todos dentro do carro.

- Precisamos de celulares novos – disse.

- Assim que possível iremos ao shopping. Vamos fazer compras – disse de um jeito para nos animar.

- Ficaria feliz se não soubesse os reais motivos para fazermos essas compras – disse Joyce, tristemente.

- Querida, vamos ficar bem – disse para a minha filha tentando de algum jeito consola-la.

- Pelo menos estamos todos juntos – disse Ricardo.

E na mesma hora percebi que o que estávamos vivendo com o meu casamento nos últimos meses estava impactando diretamente em nossa família. Começava a enxergar o sequestro como algo benéfico, pois estava recuperando o que tinha de mais sagrado, a minha família.

- Gabriel, o que fará em relação a sua mãe? – perguntei, pois tinha medo que chegassem a ela, principalmente que o Lauro e a Cibele estavam envolvidos e com toda certeza entregariam aos nossos perseguidores uma maneira de nos forçar a fazer o que queriam.

- Esqueci de dizer, quando telefonei para ela para oferecer a passagem para a casa de minha tia, ela me disse que tinha viajado com a excursão da igreja e que ficaria duas semanas fora de casa.

- Duas semanas será o suficiente para a esquecerem? – perguntei preocupada.

- A última cidade que a excursão passará é São José dos Milagres e minha mãe tem uma grande amiga que mora na cidade, lembra-se da Silvana?

- Sim – respondi recordando.

- Conversei com ela, explicando alguns detalhes e pedi que ficasse com a Silvana por um tempo, até que entrássemos em contato dizendo que estava tudo bem.

- Ótima ideia – respondi.

- Nesse momento temos que ser práticos.

- Concordo – respondi e virando para as crianças, continuei: - Crianças, descansem um pouco, só chegaremos a próxima cidade pela manhã e será bom que estejam descansados.

- E vocês? – perguntou Joyce.

Era muito bom ver que a minha filha começava a enxergar além do seu próprio umbigo.

- Vou dirigir por um tempo enquanto sua mãe descansa e depois trocamos de lugar – disse Gabriel.

Com esse plano em mente, o silêncio tomou conta no carro e depois que encostei a cabeça na janela o sono me dominou, precisava daquelas horas para ficar bem no dia que começaria em breve, afinal meu marido e meus filhos precisavam do melhor que pudesse oferecer.

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