CASADOS

Gabriel

Olhei para Sarah ao meu lado em sono profundo e pelo retrovisor admirei meus filhos no banco traseiro também dormindo e foi impossível não pensar que a minha família estava em meio a essa loucura por minha causa e que não fazia ideia de como os protegeria.

Meu único pensamento no momento era dar um jeito de falar com Afonso, ele tinha que garantir que Jason sofresse a punição necessária e com os bandidos presos poderia voltar a minha vida, ou melhor, reconstruí-la, pois era fato que a minha firma que trabalhei tanto para que começasse a ter reconhecimento nacional tinha sido destruída e depois de mais de vinte anos de trabalho teria que voltar a estaca zero.

Pensei por um momento em falar com o Lauro e buscar informações que me ajudassem a me defender do que aqueles loucos poderiam fazer, porém tinha que ser de uma maneira que me mantivesse irrastreável para não colocar minha família em um perigo maior que já se encontrava.

A minha primeira ideia era chegar a cidade vizinha, Santa Eufrásia e pegar um voo para outro estado, de preferência mudando completamente de região em seguida pegaríamos um voo para qualquer outro país, que tivesse uma boa segurança pública, pois ao que tudo indicava precisaríamos da ajuda da polícia.

A estrada aparecia silenciosa e deserta a minha frente enquanto as ideias e as lembranças de detalhes do caso da investigação da farmacêutica cruzavam a minha cabeça, tinha consciência que precisava do máximo de detalhes, pois seria a melhor maneira de conseguir proteção.

- Vamos trocar – disse Sarah de repente.

- Pensei que estava dormindo.

- Despertei, difícil descansar de fato quando essa ameaça está pairando sobre as nossas cabeças.

- Entendo muito bem. Vamos trocar, creio que não aguentaria virar a noite e está bem para continuarmos na nossa fuga – disse sincero.

- E precisamos de você o mais inteiro possível – disse Sarah colocando a mão sobre a minha perna.

- Desculpe por ter nos metido nessa confusão. Fiquei cego com a possibilidade de crescimento do escritório e me esqueci de avaliar os riscos – completei sincero enquanto estacionava o carro.

- Sua intenção era a melhor possível não tem culpa pelo pensamento inescrupuloso dos outros.

Trocamos de lugar e Sarah alertou para outros perigos.

- Não tem como localizarem esse carro? – perguntou e continuou: - Vejo tanto dessas ações nos filmes.

- Pensei nisso, esse carro não tem computador de bordo é mais antigo e quanto ao celular das crianças me desfiz deles assim que deixamos a pousada. Creio que estamos protegidos por hora.

- Entendi. Descanse, chamo você quando chegarmos ao aeroporto – disse.

Antes que ela ligasse o carro virei o corpo e me aproximei a pegando de surpresa com um beijo. Coloquei toda a minha energia naquele gesto, pois sabia que a minha mulher merecia um carinho especial.

Nós dois ainda tínhamos tanto para conversar e ajustar na nova fase que o nosso casamento estava vivendo, porém os problemas por hora não permitiam que acontecesse.

- Eu te amo – disse quando nos afastamos.

- Eu também te amo. Tenho fé que desde que estejamos juntos venceremos qualquer dificuldade.

- Eu também.

- Durma um pouco, precisaremos que esteja descansado – disse ela, agradando o meu rosto.

Sorri assentindo ao seu comando e me acomodei da melhor maneira que pude no banco para conseguir descansar um pouco enquanto a minha mulher assumia a vigia, a proteção e a nossa fuga.

Enquanto o sono não me dominava totalmente agradeci ao Universo por termos nos salvado e estarmos todos juntos. Minha família sempre seria a minha força e com eles ao meu lado enfrentaria qualquer dificuldade.