Gabriel

119 8 2
                                    

Nos últimos meses, a minha vida estava uma loucura, uma correria que parecia não ter fim, tudo isso devido ao crescimento do escritório. Eu, Cibele e Lauro, sabíamos que isso aconteceria e que as nossas vidas por um tempo seriam exclusivas para os negócios.

Cibele era divorciada e sem filhos o que facilitava a vida para ela, Lauro era um mulherengo convicto, portanto esposa ou namoradas não eram o seu problema e quanto a filhos, a sua filha estava no ritmo de estudos acelerado para tentar o ENEM no fim do ano, consequentemente não esquentava muito se o pai estava ocupado, mas quanto a mim tudo era diferente.

Tinha mulher e dois filhos e não podia deixar tudo nas costas da Sarah, por mais que meu sacrifício estivesse sendo para o bem da família, eles mereciam atenção. E depois da camisola que vi a Sarah vestir e meu cansaço me fez ignorar, percebi que problemas aconteceriam em breve, começando pela manhã seguinte.

Não tinha como encaixar os horários dos meus filhos na minha rotina e por conta disso a minha esposa estava querendo ter uma conversa que com toda certeza não seria fácil. Expliquei sobre o crescimento do escritório, mas não podia contar detalhes sobre o processo de uma das mais novas clientes, uma companhia farmacêutica que passava por um problema interno sobre vazamento de informações, então o total sigilo era primordial. E o sucesso nesse caso renderia a divulgação do escritório, ganhando espaço no cenário jurídico nacional.

Na noite em que a Sarah me pressionou para chegar mais cedo em casa, foi a mesma noite que eu e Cibele armamos uma boa arapuca para um dos diretores de tecnologia da empresa que investigávamos.

Sutilmente observávamos todos os membros da diretoria em busca do delator e o Gustavo Costa era um dos que mais suspeitávamos.

Quando deixei o prédio aquela noite, a Cibele me contava sobre a sua última aventura e ríamos da circunstância. Confesso que depois de ouvir o conteúdo entendi o porquê da Sarah não gostar muito dela. Minha sócia era o tipo de pessoa que se arriscava tranquilamente usando de todas as armas possíveis se no final alcançasse o seu objetivo, com toda certeza a mulher que queria ao meu lado no trabalho, mas na minha cama, na minha vida, não tinha os adjetivos que sempre pensei para uma companheira. A Sarah, sim, os tinha.

Eu e a Sarah nos conhecíamos desde sempre, fomos amigos, namorados, amantes, casados e pais. Muitos títulos de uma história que durava vinte anos e que nada faria acabar, mas o meu distanciamento devido ao trabalho estava cobrando o seu preço. E depois de ter negado o seu pedido de jantarmos juntos e chegado tarde. Na manhã seguinte, tive o contato com a Sarah que não gostava, aquela que me deixava do outro lado do muro.

Tentei conversar e prometi que discutiríamos o que quisesse no fim de semana e tentei presenteá-la com uma viagem, mas já nos conhecíamos há um bom tempo para saber que ela apenas fingia concordar.

Agora mais do que nunca queria resolver a questão do processo e tranquilizar o cliente, para que a minha vida pessoal voltasse aos trilhos.

Porém nada me preparou para o fato que quando cheguei em casa, a porta do quarto estava trancada. Que porra era aquela! A Sarah enlouqueceu?

Estava cansado e louco por um banho, como assim não teria o direito de dormir na minha cama?

Bati na porta insistentemente, mas não ouvi nenhum barulho. Sabia que se continuasse insistindo acordaria as crianças, mas queria um banho e na minha ducha!

- Pai? – chamou Joyce, abrindo a porta do quarto.

- Oi, querida, acho que a sua mãe deve ter se atrapalhado e trancado a porta – respondi com um sorriso amarelo.

- Nunca vi a mamãe se atrapalhar com essas coisas – disse e continuou: - Fez alguma coisa de errado? – perguntou estreitando os lábios, claramente me testando.

CASADOSOnde histórias criam vida. Descubra agora