Gabriel

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Sempre fui um lutador, creio que não estaria aonde cheguei se não fosse, porém aquele fim de semana era uma briga de leões e eu e minha família éramos meros ratinhos tentando apenas ficarmos vivos.

Claro que guardava para mim esse pensamento não queria deprimir e preocupar a Sarah mais do que ela já estava.

O meu plano era simples, salvar a Sarah e tira-la daquela ilha, sabia que o mexicano não manteria os meus filhos presos, afinal não seriam uteis para mais nada e tudo indicava que matar inocentes estava longe do seu perfil.

Com a conclusão da Sarah sobre a possibilidade da CPU estar no prédio, desanimei completamente sobre ficar vivo aquele fim de semana e sinceramente só pensava em como tirar a minha mulher daquele lugar.

Porém, por mais que o mundo estivesse caindo sobre a minha cabeça era impossível olhar para a Sarah naquele biquíni e não imagina-la nos meus braços, sentindo o seu corpo como há muito tempo não fazia.

Amava minha mulher tanto que até doía, por isso tinha vontade de chutar minha canela por tê-la negligenciado e ter deixado que caíssemos na rotina.

- Vamos – disse Sarah levantando do lugar que estava sentada ao meu lado, tentando me dar um pouco de ânimo para enfrentar uma batalha que sabíamos que não tínhamos como sairmos ilesos.

Assim que deixamos o quarto cruzamos com um casal no corredor. Eles usavam trajes de banho, porém o diferencial era que o cara estava com uma coleira no pescoço, sendo que a guia era segurada pela mulher. Ela me chamou a atenção por associar um maiô convencional a botas de cano alto em couro preto com saltos altíssimos, batom vermelho e óculos escuros.

- Bom dia – cumprimentou Sarah com naturalidade. Creio que de acordo com os livros que escrevia e suas pesquisas, cenários excêntricos lhe davam certa tranquilidade.

- Bom dia – retribuiu a mulher, porém o homem se mantinha cabisbaixo, devidamente submisso, ignorando Sarah.

- Você não vê problema nessas cenas bizarras? – cochichei para ela quando ficamos sozinhos no corredor.

- Não. Acho que se a pessoa se sente bem e está satisfeita só me resta respeitar.

- Você tem tesão em cenários de dominação? – perguntei diretamente segurando o seu braço.

- Não. Acho que curto inovações no sexo, tipo brinquedinhos e atenção aos detalhes. Os melhores orgasmos que tive foi quando nós dois não tivemos barreiras – contou.

Parei para refletir sobre o que ela disse, porém antes que falasse algo um funcionário da mansão se aproximou.

- Bom dia, o casal se juntará a festa na piscina? - questionou.

- Sim, queremos observar – disse simplesmente, sem entender que as minhas palavras podiam ter outro sentido.

- Claro – concordou o rapaz com um sorriso enigmático, deixando-me desconfiado.

Acompanhamos o funcionário que nos levou até uma pequena varanda fechada com uma lateral de espelhos que davam para piscina.

Fiquei um pouco confuso, porém antes que conseguisse formular uma pergunta o funcionário nos deixou sozinhos.

- Que estranho – disse.

- Acho que não. Observe que são cabines em frente a piscina para que possamos ver o que fazem lá dentro. Veja – disse Sarah apontando para um casal transando na piscina. – Como disse que queria observar, ele pensou que curtíamos voyeurismo – completou.

- Puta que pariu! Acho que preciso me atualizar.

- Quem sabe ler um dos meus livros – disse Sarah se sentando com uma taça de vinho que serviu para si.

- Vontade não me falta – confessei. – Foquei tanto no crescimento do escritório, deixando a nossa família e o nosso casamento de lado – disse me sentando ao lado dela.

Naquele segundo em que nos olhávamos desviamos a vista para o que acontecia na piscina e quando voltei a olhar obviamente fiquei de queixo caído, enquanto Sarah arregalava os olhos pensando se o que aqueles quatro faziam nas espreguiçadeiras era realmente possível de realizar.

- Caramba! Será esse um gostinho do que encontraremos hoje a noite? – perguntei.

- Acredito que sim. Era de situações como essa que o mexicano se referia quando falávamos em gostos excêntricos.

Torci a boca pensativo, constatando que o que acontecia na piscina era sem dúvida uma orgia de Eros.

- Teria coragem de viver uma aventura como essa? – perguntei para Sarah.

- Acho que não entendeu que não teremos escolha, os casais convidados com toda certeza curtem tudo que acontece aqui. Se fomos antiquados levantaremos muitas suspeitas – disse Sarah e tive que admitir que ela estava certa.

- Você está certa, mas me preocupa o como faremos para manter o disfarce.

- Podemos começar desse jeito – disse ela e apertando um botão entre as poltronas montou no meu quadril, beijando-me em seguida.

O botão que Sarah apertou abriu a janela com os vidros espelhados que dava para piscina. E o que podia concluir de tudo aquilo era que tínhamos de viver o momento, talvez fosse o fim da rotina no nosso casamento, caso sobrevivêssemos ao fim de semana e se morrêssemos teríamos aproveitado de verdade.

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