10- Uma família ruim

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Assim que Pawat chegou no dormitório um pouco antes da meia noite, tinha um carro lhe esperando com o motorista particular do irmão, imediatamente pegou o celular e viu as ligações perdidas.

"Que merda ..."

*****

Pawat não consegue enxergar bem, um olho estava bem inchado agora. Saifah tinha a mão pesada, sempre teve...
Agora estava na mesma situação de sempre, de joelhos na sala da enorme mansão, rosto inchado com o soco que o irmão lhe deu, tentava manter a cabeça baixa, já que encarar o mais velho era o pior erro que podia cometer.

- Você tem algum problema de memória seu anormal? Pensei que só fosse doente no corpo, não imaginava que também era na cabeça.

Pawat tremia, não era medo, o corpo é que já não lhe obedecia mais, não se atreveu a responder o irmão mais velho. Ia só receber aquelas palavras rudes, como fazia desde pequeno.

- Já falei muitas vezes para ter cuidado onde anda e com quem anda. Parece que você só veio ao mundo para manchar o nome dessa família, não é possível, não bastou o pai tirar seu carro? Algumas fotos suas com os bastardos dos seus amigos em um bar saíram na mídia. Se o nome ou a imagem dessa família for vinculada a qualquer escândalo novamente eu juro que vou matar você com minhas próprias mãos seu inútil...mantenha a porra do seu pau dentro das calças...

Saifah deu um chute no mais novo que acabou caindo deitado no chão, sem conseguir esboçar nenhuma reação.

A alguns anos, um pouco depois de conhecer Klahan tinha se envolvido em uma situação bem ruim. Foi a um bar, fazer o que fazia sempre, atrair um homem mais velho pra se divertir um pouquinho, mas o azar do mundo inteiro estava ao seu lado aquela noite, e o cara era um juiz que além de renomado, era chegado do seu pai, o escândalo tomou proporção extraordinárias e o nome da família foi vinculado com muita coisa ruim e desrespeitosa. Desde evento, Saifah que já era violento naturalmente, se tornou alguém bem pior. Agora a família ficava em cima dele, perdeu o carro, e por vezes ficava dias de castigo se saísse qualquer nota na mídia envolvendo seu nome.

- Chega...- O pai entra na sala acompanhando de dois empregados- Quer ter que levar o idiota do seu irmão para o hospital? Olha como ele está tremendo...

- Por mim que morra logo de uma vez...

O mais velho se senta no sofá irritado, cobre os olhos com as duas mãos tentando realmente se acalmar para não continuar repreendendo o irmão.

Thun o filho mais novo, entra na sala quase ao mesmo tempo que o pai, olha a cena e balança a cabeça se aproximando de Pawat que continua sem se mover.

- Gosta mesmo de apanhar hein P' Wat?- depois se volta para o pai- Mamãe está chamando pai, ela disse que se vier aqui ela mesma bate no hia.

O pai acena com a cabeça em concordância em seguida faz um sinal para os empregados.

- Levem esse moleque para o quarto dele, a medicação deve estar na mochila.

Os empregados logo levantam o rapaz  que não oferece resistência e o carregam para o quarto no andar superior.

Thun sai da sala também, deixando os dois homens sozinhos.

- É melhor se controlar Saifah, não é só os escândalos que podem prejudicar a empresa, mesmo que Pawat não saiba a maioria das ações está no nome dele, não esqueça disso.

- Maldito garoto doente, vai morrer de qualquer jeito mesmo, mas parece que vai levar toda minha sanidade antes disso.

- Então tenha um pouco mais de paciência. Ele já é de maior e felizmente nem sonha que as ações estão em seu nome, você sabe o que tivemos que fazer quando a empresa entrou em crise alguns anos atrás se a gente provocar as complicações no caso dele, vamos ser prejudicados de qualquer forma. Vou proibir ele de sair de casa por alguns dias, isso vai manter ele na linha.

Saifah acaba concordando, no fim não tem outra solução mesmo. os negócios tinham sofrido bastante com a instabilidade do mercado nos últimos anos então sua família lutou muito para levantar o nome e a subsistência da corporação. Com tudo isso boa parte das ações acabou sendo colocada no nome do membro da família que estava com os dias contados, principalmente por que precisavam de garantias para a sustentabilidade da companhia e além disso conseguir recursos com o maior acionista sendo o filho do meio foi extremamente fácil já que Pawat tinha um seguro de vida milionário em seu nome, e o beneficiário do seguro era exatamente a empresa.

O pai e o irmão fizeram de tudo pelas costas do mais novo, que nunca nem mesmo se interessou pelos negócios ou pela empresa. Os negócios de Pawat eram: estudar, fotografia e escândalo.
Disso Saifah tinha plena certeza.

*****

Será que todas as famílias tinham tantos segredos? Ou só a sua era assim? Pawat deitado olhava o teto, seu corpo estava estabilizado, só sentia a dor dos golpes que tinha levado do irmão mais velho,  mas isso era tão comum que já tinha virado parte do seu dia a dia.

Sua história era ruim de todos os ângulos possíveis. Tinha nascido doente, o que para sua família era um grande inconveniente, mas sua família mesmo sendo muito rica e poderosa, vivia de aparências. Ele se sentia deslocado ali, não lhe tratavam exatamente como membro da família, as vezes achava que era apenas parte da mobília.

Com esforço se sentou na cama, pegou o celular...

"Queria poder falar com alguém, será que o hia ainda está no apartamento? Será que ele me atenderia?"

Lembrou de um fim de ano que ligou para desejar feliz ano novo. Mas o mais velho ficou muito bravo.
Era melhor não misturar as coisas assim. Se não fosse sobre sexo o seu hia não o atenderia, pior poderia cortar os laços de vez.
Deletou essa ideia e levantou, foi finalmente tomar um bom banho. Já de baixo do chuveiro a água fazia seu rosto arder. Mas não se importou muito com isso.

Ia perder algumas aulas, sabia que o pai iria proibir sua saida de casa por pelo menos uma semana, não gostava disso, se dava bem com os colegas, gostava da universidade, mesmo que não fosse conseguir concluir o curso, iria até onde aguentasse, viveria normalmente até o dia que não pudesse mais respirar.

Seus pensamentos levaram de volta até o homem que sorria com os olhos toda vez que ele dizia algo bobo igual mais cedo sobre a pomada. Não queria pensar tanto em Klahan, sentia que estava sendo desonesto quando fazia isso, quebrando o acordo de não sentir nada.

"Será que se na próxima vida a gente se encontrar hia, eu poderei sentir alguma coisa por você?"

Riu de si mesmo, era por isso que Klahan ria será? Por ele ser ingênuo nesse nível?
Acabou sentado no chão frio, a água caindo sobre sua cabeça, não sabe exatamente quanto tempo ficou ali, só sabe que por mais difícil que fosse sua vida, gostaria de ter mais tempo pra viver.

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