02- Mond

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- Você é idiota ou apenas surdo?

Mais um tapa dessa vez na cabeça, mas Mond se recusava a responder, sabia que não o deixariam em paz de qualquer maneira mesmo.

- Tem alguém vindo...

Os 4 garotos logo saíram da sala sem nem olhar para trás, Mond continua sentado em sua carteira escolar, não quer saber quem está vindo, quem estava com ele ali agora ou quem esteve antes ou quem estará no futuro, as coisas sempre foram assim e provavelmente nunca iam mudar, sendo assim tentava não se importa muito com as coisas que aconteciam ao redor.

- Mond... Está tudo bem?

Alguém se sentou ao seu lado o forçando a virar o rosto a voz familiar.

- Olá Prem, está sim.

Prem pegou suas coisas e colocou sobre a carteira, tirando alguns livros e cadernos.

- Não parece muito bem, não quer estudar hoje?

- Não é isso... Essas coisas...

- Que coisas? Continue...

Prem sorri de forma amigável, Mond não entende por que Prem e as amigas dele são sociáveis com ele quando ninguém mais no colégio é.

- Não sei por que aprender tanto, as vezes acho que nem vou usar nada disso no meu futuro.

- Claro que vai, eu quero ser professor sabia? Ensinar muitas pessoas essas "coisas" quero que muita gente que eu ensine acabe crescendo na vida, sendo alguém bom, ganhando a vida com o seu trabalho. Aprender pode te ajudar muito.

- Pena que não ajuda agora...
Mond murmura de forma quase inaudível.

- O que?

- Nada, vamos estudar.

Os dois começam a ler um trecho do livro, Mond não presta muito atenção, hoje está realmente chateado. Seu irmão mais velho está viajando cuidando de alguns negócios e sendo assim ele tem que passar o dia na escola, pois não sabe o que é pior, ficar em casa sozinho ou na rua sofrendo buling, pelo menos na escola pode se esconder em algum lugar, as vezes na biblioteca outras ali na sala de aula. Raramente os meninos que mexem com ele o encontram, e quase sempre Prem esta por ali dando aulas de tutoria para os colegas ou alguma criança menores.

Prem é muito feminino, é bonito mas tem um jeito de menina, as garotas ficam mais ao lado dele, e o garoto não parece se importar, Mond queria saber qual era o segredo para estar assim, sempre animado mesmo sendo motivo de piada as vezes entre os colegas. Mas Prem era sociável, talvez fosse isso, ele não.
Detestava a escola e os colegas que estavam o tempo todo julgando ele pela sua família "diferente" dizendo que faziam coisas ilegais ou erradas, que ele era filho de bandido. Já tinha pensado em ameaçar os garotos, mas no fim apenas desistiu.

Não tinha muito o que podia fazer, não queria revidar, só queria ficar em paz.
Tinha aprendido com o irmão a ser calmo. Klahan era a sua única e verdadeira família, lhe ensinava as coisas, se preocupava com tudo que tinha relação a ele, podia ir e contar ao irmão o que estava acontecendo na escola, mas tinha medo até disso, não sabia que proporção isso podia tomar, conhecia o irmão, se ele fizesse algo, o quão difícil seria voltar para escola e encarar as pessoas?

Tinha raiva do pai, achava que tudo era culpa dele fazendo com que os capangas o levassem para escola quando Klahan viajava. Isso fez com que os outros alunos descobrissem ou desconfiassem dos "negócios" de sua família, homens com cara de bandido indo pegar um adolescente na escola não era lá a coisa mais normal do mundo. Porque o pai não podia agir como pai e ir ele mesmo buscá-lo? Não, Mond não entendia isso de forma alguma, e não perdoava também, sua raiva crescia dia após dia dentro do coração.

*****

Mond abriu os olhos com dificuldade, doia os dois olhos, a visão embaçada, sentia eles inchados, o corpo todo parecia inchado.

- O...O que aconteceu?

- Não sou eu quem deveria estar perguntando isso?

- Kla?...

O mais velho estava encostado no batente da janela, braços cruzados, olhava para fora, mas percebeu quando o mais novo despertou.

- É assim que você se cuida? Não sabe revidar um soco? É fraco nesse nível?

Agora ele se lembra, os meninos que fazem buling com ele na escola, tinha encontrado com eles e acabou sendo espancado, simplesmente por que ainda se recusava a responder as provocações deles.

- Como você?...

- Seu colega que parece uma menina me contou. Ele e algumas meninas que viram a briga e chamaram professores e uma ambulância...É assim que preciso descobrir as coisas que estão acontecendo com você? Por terceiros?

- Kla... me desculpe eu...

- Você o que? Gosta de apanhar? De ser fraco? Pensei estar criando você direito, te deixando longe dos negócios para sua segurança, mas parece que não, que você é burro o suficiente para achar outro meio de estar em perigo, de ser perseguido.

Mond sentia o rosto quente, não importava se outros fossem mal com ele, não importava estar todo quebrado em cima de uma cama de hospital. Mas ver seu irmão tão chateado com ele dessa forma era demais, deixou as lágrimas rolarem pelo rosto. Todo mundo podia virar as costas ou criticá-lo, a única pessoa que não podia era seu irmão, queria que ele sentisse orgulho e não decepção.

- Hia eu...-Os soluços balançando seu corpo o impediam de falar qualquer coisa.

Klahan se voltou para o irmão, seu rosto estava ainda com um semblante sério mas calmo.

- Pode chorar bastante hoje, por que vão ser as últimas lágrimas que você vai derramar por um bom tempo, e no que depender de mim você não vai fazer essa cara patética de perdedor nunca mais na vida.

- Como... como posso não chorar nunca mais Hia?...- Mond tentava limpar o rosto sem muito sucesso.

Klahan caminhou até ele e estendeu um lenço, o mais novo aceitou limpando o rosto e o nariz.

- Sabe essa sensação? Lembre-se dela, assim nunca mais vai querer sentir ela novamente. Aqui- Klahan tocou o peito do irmão, que olhou com os olhos ainda marejados no rosto do mais velho- Aqui é melhor não ter nada, você arranca tudo que tem aqui, e vai ver tudo melhorar...

- Como vou arrancar meus sentimentos Hia?

Mond parecia irritado, triste, queria agradar o irmão, queria dar a volta por cima, queria provar seu valor, mas nem sabia por onde começar.

- Arrancando Mond, arrancando... Não significa que não deve sentir nada nunca mais. Só significa que tudo que sente agora deve deixar de existir.

- Mas na escola eles...

- Não existe mais escola, na verdade nem existe mais "eles"

- Hia... você machucou alguém?

- Eu só faço o que tenho que fazer Mond. Pare de questionar meus métodos e faça o que eu digo. Um dia pode ser que eu não esteja mais nesse mundo, e você precisa e vai ser um homem forte...

- Eu quero ser forte, mas e a escola? Meus estudos?

- Aquele garoto te ensina né?- Mond concorda com um aceno de cabeça. - Existe telefone, e-mail, você pode continuar com o Tutor, mas de resto... está na hora de aprender os negócios da família. De se tornar um homem forte, vai continuar seus estudos em outro lugar, vai aprender bem e ser meu sucessor algum dia.

- Pare de dizer que um dia vai partir hia...

-E eu vou viver para sempre por um acaso?- Agora Klahan faz um carinho de leve na cabeça do menor, bagunçando seu cabelo.

- aai, até meu cabelo dói.

- Eu devia é te dar uma surra por levar uma surra...

Agora Mond sorri, está muito melhor pois vê que o que Klahan tem não é decepção, pelo contrário, seu irmão é o único que o protege e cuida sempre, é a única pessoa por quem vale a pena se fortalecer.

The two brothers Onde histórias criam vida. Descubra agora