101- Testamento

37 8 5
                                    

Klahan fez mais uma ligação, queria resolver mais duas coisas ainda.

" Está tudo certo com o que eu pedi?"

" Só o senhor para me fazer trabalhar no fim de semana, mas sim, revisei os documentos, está tudo certo, seu irmão ainda é seu único beneficiário mas inclui o pedido que fez para o outro rapaz poder receber um belo presente com vista para o mar."

" Preciso deixar algo significativo para ele, e isso é a única coisa que ele vai apreciar de verdade, quero que ele tenha algo que faça ele entender meu sentimento. "

Klahan pensa no mar, na tranquilidade, na primeira vez que conseguiu dizer as palavras de amor que Pawat tanto ansiava ouvir, deixar essa lembrança para ele era tudo que podia fazer agora para provar a sua criança o quão grande era seu sentimento por ele.

Pretendia voltar, queria voltar, mas não sabia o que ia enfrentar nas montanhas, não podia deixar de se prevenir.

" Está doente senhor? Essa revisão no testamento de repente. "

" Está tudo bem, só gosto de me precaver."

" E de me fazer trabalhar no fim de semana. "

" Também, obrigado por isso."

Klahan desliga e volta a ligar, dessa vez é para alguem que atende e nem alo fala, a mulher o atende e parece que quer apenas ouvir, sem pronunciar qualquer palavra,  ele entende isso e a situação pela qual ela deve estar passando nesse momento.

" Tenho alguns assuntos para cuidar e se eu não puder voltar Pawat vai precisar que você seja uma mãe de verdade, pelo menos uma vez na vida, se fez tudo o que fez por ele e se está disposta a ver ele bem eu recomendo que se recupere e venha logo buscá-lo para cuidar bem dele se eu realmente não voltar para casa, se não puder peça ajuda ao médico, tenho certeza que seu irmão ama Pawat tanto quanto você e espero que cuidem bem dele quando eu não  estiver aqui para fazer isso, entende o que eu digo?"

" Sim... "

A chamada é encerrada logo em seguida.

A voz da mulher soava fraca, rouca, mas parecia determinada, e isso basta para Klahan que logo volta
para o quarto, Pawat está de olhos fechados parece dormir tranquilamente, vendo que o remédio não está na mesinha e a água também foi tomada, o mais velho se sente melhor sabendo que o estudante vai dormir tranquilamente agora.

Depois de tomar um banho se deita ao lado de Pawat puxando o mais novo para um abraço, deixa a cabeça dele repousar no seu peito e faz carinho sob os cabelos compridos do outro.

Seu telefone toca novamente, mas dessa vez ele não tem receio de atender no quarto já que sabe que o mais novo está sob efeito do medicamento e dormindo profundamente. É uma mensagem na verdade, de Jhony, com a localização de Korapat, Klahan faz então mais uma ligação antes de ir dormir.

" Prepare o que eu pedi, e os homens que eu preciso mande me encontrar amanhã cedo na saida da cidade, Jhony me mandou a localização, vejo vocês bem cedo, preciso que estejam armados até os dentes e não vazem essa informação."

Desliga e deixa o aparelho de lado, voltando a atenção para o rapaz em seus braços não deixa de acariciar seu cabelo a outra mão nas suas costas. Respira fundo, o cheiro de Pawat é famíliar e o acalma, queria acordá-lo,  beijar seus lábios mais uma, duas, três vezes, se despedir corretamente daquela pessoa, da sua pessoa.

- Perdão minha criança, eu vou tentar voltar pra você, mas talvez dessa vez eu não consiga... Preciso resolver isso, não posso mais envolver ninguém nos meus problemas, todos já me ajudaram tanto, eu sou grato por tantas coisas...A última lembrança entre nós vai ser suas lágrimas, eu queria que tivesse sido seu sorriso. Desculpa esse velho ter demorado tanto a entender os próprios sentimentos, desculpa não ter dado mais cedo o amor que você merece ter, eu queria ter te feito sorrir mais, você é a pessoa mais bonita do mundo quando sorri... - Klahan beija com carinho a cabeça de Pawat- Eu amo você minha criança, eu faria qualquer coisa pra tirar a dor que está sentindo agora, não é sua culpa, não é culpa do Mond, ele fez por mim, ele fez o que eu faria, aquele demônio que se dizia seu parente, não devia nem ter nascido... Eu quero voltar, quero ter você nos meus braços assim, todas as noites, todos os dias, até o fim das nossas vidas, nunca imaginei que me sentiria assim...Mas se eu não conseguir te ver novamente, espero que você viva bem minha criança.

Klahan sente o corpo pesado, não tem medo de enfrentar o que vai vir amanhã, mas sente uma profunda dor ao imaginar que pode deixar as duas pessoas que mais ama no mundo inteiro sozinhos, seu irmão está crescendo, errando e aprendendo com os erros, vai amadurecer, se tornar um grande homem, tem confiança que ele pode sobreviver bem sem ele.

Pawat também é alguém forte, o tio e a mãe podem ampara-lo nesse primeiro momento enquanto ele vai estar tão frágil, mas tem convicção de que aquele menino, igual Mond vai se tornar um grande homem algum dia, sente uma dor profunda ao saber que pode morrer e não ver essas coisas se tornarem realidade.

Mas precisa resolver, fechar esse ciclo, não quer mais comprometer quem ama, ou pessoas como Jhony que já sofreu tanto, ou Gear e Kan que já lhe ajudaram tanto, não pode se arriscar a deixar o baixinho sem pais.

Sorri com esse pensamento, lembra das coisas que já viveu com Ratt, Bean, lembra de como sofreu quando Mond levou um tiro e ficou entre a vida e a morte, seus olhos chegam a arder, as lágrimas não caem, ele as segura bem. Mas o coração está quase explodindo.

Não vai deixar ninguém mais se machucar, todos merecem ter uma vida pacífica. A vida toda gostou de briga, gostava da emoção, da adrenalina correndo pelo corpo todo. Mas pela primeira vez não queria ir para uma guerra, queria ficar ali abraçado naquele homem mais novo, pela primeira vez só queria a tranquilidade daquele abraço. Mas sabia que isso não era possível, chegou a hora de acertar as contas com o homem que lhe deu a vida, podia morrer, mas com certeza ia levá-lo junto.

*****

Pawat abre os olhos, por alguns segundos fica confuso, mas logo se lembra da noite passada, levanta rápido desesperado por que o mais velho já saiu. Na noite passada fingiu tomar o remédio,  Klahan devia saber que ele era especialista em fazer de conta que toma medicamentos. Tinha ouvido o que seu hia disse e pretendia impedi-lo de fazer seja lá que loucura ele estava planejando, foi muito difícil ficar quieto e fingir dormir, mas acabou adormecendo de verdade depois e dormiu de mais, agora o mais velho já tinha saído. Com dificuldade se trocou, sua perna doia ainda mais depois da queda na sala, mas ia fazer oq podia com ou sem dor.

Ao descer para sala estava planejando como escapar da casa, não tinha o número de Phat, mas sabia onde era o restaurante, tinha que saber de Jhony que lugar era esse que o hia falou, e precisava avisar Gear, os esposos de Phat com certeza iam ajudá-lo, não sabia a quem mais recorrer, só a eles.
Estava pensando em todas essas coisas quando Mond vindo da cozinha entrou na sala. Pawat congelou no lugar, os dois se olharam por alguns segundos. Mond viu que Pawat tremia de leve, os olhos marejaram no mesmo instante que se fixaram em Mond.

- Eu quero sair...

- Meu irmão saiu? É melhor esperar que ele volte, você não parece bem.

- Você não pode me impedir, fique longe de mim...
Pawat da alguns passos para trás, visivelmente está com medo de Mond.

- Se é por tudo que aconteceu, acho melhor a gente conversar sobre as coisas, você não pode abandonar meu irmão assim garoto.

Mond se aproxima devagar, não quer assustar o outro, mas se o seu irmão saiu, com certeza não vai deixar Pawat sair de casa dessa maneira.

- Eu nunca vou abandonar o hia, eu vou salvar ele... me deixa sair... Você não pode me impedir...

The two brothers Onde histórias criam vida. Descubra agora