POV Madson Brown
De olhos fechados, do lado de fora da delegacia, eu torcia para que a briza leve do vento batendo no meu rosto me ajudasse a me acalmar.
Odiava a história da minha família, pelo menos o que tinha se tornado.
Odiava o que meu irmão tinha feito comigo e Oliver, mas não odiava ele ter morrido. Na verdade, esse fato me deixava mais leve, mais tranquila. Era uma pessoa a menos para me preocupar.
Oliver e eu sofremos muito com James. Lembrar daqueles tempos fazia meu corpo tremer, meu estômago revirar, com vontade de fugir de mim mesma e do meu passado. Mas era impossível fugir da sua história, ela sempre estava lá para te lembrar do que aconteceu. E quando as lembranças apareciam, dormir era impossível.
Mas ali, do lado de fora da delegacia, sentindo o vento tocar o meu rosto, e bagunçar meu cabelo, eu torcia para que levasse junto todas as lembranças ruins, todos os traumas, mas eles insistiam em ficar. Insistiam em me atormentar.
Eu era formada em psicologia. Era psiquiatra também. Especialista em tratar e curar os traumas das pessoas, mas eu não conseguia me consertar. As cicatrizes emocionais eram profundas demais para curar. Elas não fechavam totalmente, sempre achavam um meio se se abrir novamente. E falar do passado para Callis, usar o passado como exemplo para que ele encoraja-se a se abrir comigo, tinham novamente aberto as feridas que a tempos vinha tentando costurar. Mas na realidade só conseguia fazer remendos.
Remendos em cima de remendos.
- Você está bem? - uma voz atrás de mim, me faz pular.
Abro os olhos e me viro. Spencer estava com as mãos nos bolsos da calça, seu olhar preocupado estava estampado em cada centímetro de seu rosto.
- Estou - minto. Afastando o olhar.
Não queria falar sobre o assunto com ninguém. Só usei minha história como um pequeno exemplo porque pensei que essa fosse a única alternativa que tinha para salvar Inez.
Percebo Spencer se aproximar ainda mais de mim. Mas tento ignorar sua presença.
Observo o pássaro que estava pousado no galho de uma árvore, localizada no estacionamento da delegacia. Aquele pequeno animal amarelado era mais interessante do que qualquer outra coisa agora. Ele parecia feliz, livre. Ao contrário do que eu era.
Eu era uma mulher presa no passado, que tentava sobreviver nesse mundo caótico e doentio. Era uma pessoa quebrada que não tinha concerto.
- Quer falar sobre o que aconteceu lá na sala de interrogatório? - ele pergunta inseguro.
- Não. - respondo, sem olhá-lo - Por favor, finge que você não ouviu nenhuma palavra do que eu disse. Por favor - praticamente imploro.
- Tudo bem. - ele concorda.
Desvio os olhos do pequeno pássaro e o observo assim como ele me observava. Novamente eu não sabia o que ele via em mim, mas eu via um homem diferente da maioria, com marcas de expressão que me diziam que ele tinha sofrido na vida também, e que assim como eu, arrumava forças para levantar no outro dia.
Eu via um homem que qualquer mulher que passasse mais de trinta minutos conversando com ele poderia facilmente se apaixonar. E eu daria tudo para ser uma dessas mulheres. Mas eu não era. Nunca seria.
Eu era a mulher que não podia se envolver com ninguém, que ninguém poderia se aproximar, porque toda vez que alguém se aproximava demais via minhas cicatrizes, via o que eu lutava para esconder com todas as minhas forças, e uma vez que tomava ciência de todas as minhas rachaduras, eles iam embora, me deixavam sozinha tentando juntar todos os cacos novamente.
Eles sempre iam. Sempre me deixava sozinha.
A solidão é e sempre foi minha melhor companhia. E talvez seja melhor assim.
Eu estava cansada de ser essa pessoa que tentava fugir disso. Estava cansada de ter que me reconstruir todas às vezes. Sabia que nunca seria inteira novamente. Então, por que tentar?
As lágrimas queriam escorrer, mas eu me segurei. Não podia desmoronar, não agora. Não aqui.
- Conseguiram falar com o agente Hotchnner? - mudo de assunto.
Voltar para o seguro, era disso o que precisava. O trabalho, por mais desafiador que fosse, era mais seguro do que a minha vida, meus sentimentos, meus pensamentos.
- Sim - ele responde - Eles já foram até a propriedade.
- Que bom, espero que não seja tarde - digo, começando a me afastar.
Mal dou dois passos, sinto a mão de Spencer segurar meu pulso, me impedindo de continuar.
Olho para ele, completamente confusa.
- Sei como é quando acontecem coisas em nossas vidas que nos machucam, mas aprendi que falar é bom.
Fico completamente surpresa e desestabilizada, mas encontro forças e digo.
- Eu não quero falar. Eu estou bem.
- Eu sei, mas se quiser alguém para desabafar, pode contar comigo. Somos parceiros de equipe agora, então pode falar comigo, quando quiser.
- Eu não preciso, vou ficar bem - meu corpo tremia. Por ainda estar segurando meu pulso, eu sabia que ele podia sentir meu corpo todo tremer. E isso me deixava ainda mais nervosa.
Eu estava andando a beira de um precipício, um passo em falso eu cairia. Desmoronaria.
E não queria fazer isso na frente de ninguém. Muito menos dele.
- Eu estou bem. Estou ótima - falo, tentando me segurar para não chorar na frente dele.
O problema é que os olhos dele, tão gentis, e a conversa que havia tido lá dentro, alguns minutos atrás. Tudo estava me levando para lembranças, lembranças que eu queria esquecer. Mas a preocupação dele, comigo, praticamente uma estranha, fazia com que minhas defesas começassem a ruir.
Eu tinha que sair daqui. Mas meus pés estavam cravados no chão.
Perdida nos olhos dele preso nos meus, eu senti quando os meus olhos começaram a embaçar.
- Estou bem - falo mais uma vez, mas as lágrimas já estavam escorrendo pelo meu rosto - Não quero falar sobre isso, eu estou bem - falo tentando limpar as lágrimas que escorriam sem que eu permitisse - Estou ótima.
Era como se mais uma vez as rachaduras se abrissem, mostrando todos os sentimentos que eu lutava para esconder.
Spencer me puxa para um abraço, e com a cabeça encostada em seu ombro, chorando desesperadamente, eu continuo dizendo: eu estou bem, quando, na verdade, estava muito longe de estar!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louder Than Words (Criminal Minds - Spencer Reid)
FanfictionO Doutor Spencer Reid, embora seja um gênio, não conseguia se sair tão bem em sua vida pessoal, ter uma namorada morta na sua frente tinha o abalado profundamente, mesmo que já tivesse se passado anos desde o ocorrido, esse acontecimento ainda o ato...