POV Madson Brown
Dizem que dois cérebros são melhor do que um. Eu diria que no caso do Doutor Reid e eu estava mais para três, já que claramente ele valia por dois. A rapidez que ele lia, de fato, me impressionou. Queria eu ter essa habilidade. Mas sua memória eidética com certeza era a habilidade que mais me invejava.
Havíamos ficado quase o dia todo na delegacia e parecíamos que tínhamos andado em círculos. Quanto mais pesquisamos, mais confusos ficávamos. Era quase um beco sem saída.
Foi um pouco depois da meia-noite, que Spencer, após analisar o mapa pela quinquagésima vez, franze o cenho e me olha.
- E se tivermos analisando do jeito errado?
- Como assim? - pergunto, completamente perdida.
- A hipótese do jogo do liga pontos me parece correta, mas talvez nós estamos analisando essa hipótese de forma erronia.
Eu não sei qual a expressão que faço, mas ele parece perceber que eu não fazia ideia do que ele estava falando.
Então ele levanta da cama, onde ele estava sentado antes, e se senta ao meu lado no chão, mostrando a tela do computador.
- Talvez os pontos não se ligam totalmente, são partes de um conjunto do desenho.
- Desculpa - exclamo derrota - Eu realmente não faço ideia do que você quer dizer.
Então ele me vira a tela do computador. Eu analiso a imagem.
- O olho de Hórus!? - saiu mais como uma pergunta, do que uma afirmação.
- É. Sabe, no mito egípcio conta que Hórus perdeu um dos seus olhos ao lutar em uma batalha contra seu tio Seth, em vingança a morte do seu pai Osíris - ele começa com sua explicação, rapidamente.
- Ta. Isso eu sei, mas ainda não consegui entender o que o olho tem a ver com o caso.
Spencer não me responde, inicialmente, ele volta a colocar o computador em seu colo, depois coloca uma folha na frente da tela do notebook, folha esta cujo mapa estava impresso, e vira tudo para o meu lado.
A luz da tela do computador me permitia ver a imagem do olho de Hórus que ele havia pesquisado, mas também o mapa. E a ideia é que as duas imagens ficassem sobrepostas, desta forma, era como se as duas se juntassem.
Eu tive que analisar as duas em separado, para entender qual era o objetivo.
Devo ter demorado muito, porque Reid pega uma caneta e começa a ligar os locais das mortes.
- Ele quer formar o olho de Hórus - exclamo. Era meu cérebro absorvendo a informação. Como se os pedaços do quebra cabeça começassem a se encaixar ao mesmo tempo que outras perguntas surgiam - Por quê?
- O olho de Hórus simboliza, entre outras coisas, o sacrifício, a força e a proteção espiritual - ele começa a sua explicação, rapidamente - Muito se diz que ele representa a luta contra o bem e o mau.
- Então as mortes seriam uma espécie de sacrifício?
- Ao que tudo indica, sim. E o fato dele estar tentando formar esse simbolo é porque ele acredita que vai conseguir um tipo de proteção.
- Então teria que ser uma pessoa que conheça a cultura do antigo Egito. Um professor, pesquisador - sugiro.
- Algum funcionário de biblioteca, talvez de algum museu - ele complementa - Amanhã podemos passar o que descobrimos para o resto da equipe e irmos visitar alguns desses lugares.
Assinto com a cabeça.
- Obrigada - falo observando-o.
- Pelo o quê? - ele pergunta confuso.
- Por deixar de descansar e vir me ajudar.
- Eu te disse: nós trabalhamos todos juntos, somos uma equipe. Então, não precisa me agradecer.
O silêncio tomou conta do quarto. Doutor Reid e eu nos olhávamos e um clima estranho começou a surgir entre nós. Talvez fosse coisa da minha cabeça. Provavelmente era coisa da minha cabeça. Já esta tarde, eu não tinha dormido ainda, provavelmente já estava pirando.
Mas por um milésimo de segundo, eu achei que o Spencer tinha olhado para os meus lábios, e talvez, só talvez, eu tenha feito o mesmo com os dele.
Qual seria a sensação e o gosto dos lábios dele nos meus?
O barulho de um trovão me tirou daquele transe, e eu percebi cedo o bastante que eu deveria me afastar.
Minha nossa, eu deveria estar completamente louca.
- Bom trabalho, parceiro - falo tentando disfarçar as minhas segundas intenções.
Estendo a mão para que ele pudesse bater, em uma tentativa atrapalhada de quebrar aquele clima estranho que estávamos a menos de um minuto atrás.
Reid meio atrapalhado, assim como eu, bate na minha mão. E dá um sorriso meio envergonhado.
- Acho melhor finalizarmos por hoje - ele sugere, já se levantando.
- Sim. Com certeza - também me levanto - Precisamos descansar, para amanhã podermos estar descansados para trabalhar - assim que acabo de falar, percebo que acabei sendo redundante.
Usar a palavra "descansar" duas vezes, era claramente um sinal de que eu estava nervosa com aquela situação toda. Um perfilador como ele não iria deixar aquilo passar.
Mas eu também era perfiladora, e percebi que ele estava tão nervoso quanto eu, quando ele quase deixou um dos seus livros cair, mais de uma vez.
- Então nos vemos amanhã - falo começando a juntar os papéis espalhados, evitando olhar para ele.
- Precisa de ajuda? - ele pergunta atencioso. Embora já estive alguns metros de distância.
Segurança em primeiro lugar.
- Não, está tudo sobre controle. Eu termino de organizar, pode ficar tranquilo.
- Tem certeza?
- Tenho! - respondo mais rápido do que deveria. Então tento consertar - Prefiro arrumar do meu jeito. Não se preocupe, você me ajudou bastante. Provavelmente não teria descoberto nada se não fosse por você. Então, obrigada.
- Não foi nada - ele diz, caminhando em direção a porta - Tenha uma boa noite, doutora Brown. Nos vemos amanhã.
- Até amanhã doutor Reid - digo, e assim ele sai do quarto.
E só aí percebo que solto o ar que nem sabia que estava prendendo.
Nesse momento o barulho do trovão soa lá fora, enquanto percebo as primeiras gotas de chuva na janela do meu quarto. E eu agradeço internamente por aquele início de tempestade. Era melhor uma lá fora do que aqui dentro. Se algo tivesse acontecido entre nós, mesmo por um minuto de descuido, era muito provável que a tempestade começasse aqui dentro e aí, não ia ter previsão de acabar.
E, na verdade, eu não podia perder o foco, pois a cada segundo que se passava eu sabia que meu tempo estava acabando.
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Louder Than Words (Criminal Minds - Spencer Reid)
FanfictionO Doutor Spencer Reid, embora seja um gênio, não conseguia se sair tão bem em sua vida pessoal, ter uma namorada morta na sua frente tinha o abalado profundamente, mesmo que já tivesse se passado anos desde o ocorrido, esse acontecimento ainda o ato...