• Capítulo Sete •

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Novembro, 2015


"Se você cometer os mesmos erros eu vou te amar de qualquer maneira, tudo o que sei é que eu não posso viver sem você."


Aquele não havia sido o único segredo entre os dois, com os meses e anos se passando, de repente, eles tinham literalmente um mundinho só deles de segredos e piadinhas internas, e dizer que Ana gostava daquilo era muito pouco.

Para uma garotinha de dez anos, ter alguém que simplesmente fazia tudo por ela e ainda por cima a protegia do mundo e enfrentava suas loucuras, era como viver no paraíso.

_ Papai e mamãe estão fazendo quinze anos juntos. Isso muito tempo, sabia? É mais do que eu até - ela comentou enquanto abria a porta de casa para Christian entrar.

Ele estava cada vez mais diferente, mais adulto de repente, havia terminado a escola e agora fazia faculdade e trabalhava numa empresa, mas o tempo de Ana era sempre guardado em seus dias. Naquele fim de semana ela dormiria na casa dos Grey, era algo bastante corriqueiro, ainda mais nas férias de verão, ela e Mia eram inseparáveis agora.

_ Caramba, é muito tempo mesmo - Christian respondeu, e se surpreendeu ao ver Carla e Ray simplesmente aos beijos na sala de estar.

_ Papai deu um monte de flores para a mamãe, e deu um colar muito bonito e a mamãe não para de sorrir o tempo todo. E agora eles ficam assim, ó, de namorico - Ana provocou, cruzando os braços e rindo, fazendo seus pais se afastarem.

Christian riu alto.

Carla ficou vermelha e Raymond deu uma piscadinha para Ana.

_ Menina - Carla ralhou.

Ana sorriu atrevida, se recostando em Christian porque realmente ela não parava quieta, e aquilo não mudaria, subindo com suas botinas nos sapatos dele e se equilibrando assim para frente, segurando suas mãos para não cair de cara no chão.

_ Eles ficam dando beijinhos toda hora desde cedo - ela continuou a provocação, e Carla lhe jogou uma almofada, fazendo a garotinha desviar correndo pela sala.

_ Voce para agora mesmo, criatura - Carla mandou, mas também não conseguia parar de rir. - Vai logo pegar sua mochila que o Christian não tem todo o tempo do mundo.

_ Para mim ele tem sim - a pequena se gabou, mas correu pelas escadas para pegar suas coisas, fazendo Christian balançar a cabeça.

_ Voce precisa parar de mimar tanto ela, essa menina te faz de gato e sapato, garoto - Raymond falou.

Christian o encarou, levantando uma das sobrancelhas, e o analisando de cima abaixo.

Raymond era um eterno caipira ex militar, agora aposentado por conta de uma fratura em campo de batalha, fazendo perder os movimentos certos de um dos braços, e era nítido que o homem odiava roupas engomadinhas e também comidas chiques. Mas ali estava ele, vestido um terno preto e gravata, sapatos sociais e até o cabelo estava todo arrumado, enquanto Carla estava completamente elegante também, vestindo um vestido azul bem cortado, o cabelo presto em um coque moderno, saltos bem altos e maquiagem.

_ Claro, assim que o senhor fazer o mesmo com sua esposa - ele rebateu em tom de diversão, fazendo Carla rir alto enquanto terminava de colocar os brincos e Raymond engolir em seco porque não tinha como se defender mesmo.

_ Voltei - Ana gritou do topo da escada, animada demais como sempre e então descendo de dois em dois degraus. - Mamãe, eu posso levar o Snow? - pediu, mas já segurava o bichinho num dos braços e a pequena mochila dele com seus itens pessoais, enquanto tinha a sua própria nas costas.

Carla lhe encarou séria.

_ Eu já disse que não pode, amor, cuidar de você já é coisa demais, Srta. Hiperativa, e o Snow não está acostumado com casa nova, ele vai dar trabalho - ela falou pacientemente.

Ana fez uma careta triste, os olhos se voltando para Christian, mas o mesmo não lhe sustentou, desviando logo o olhar porque já sentia-se queimando com o de Carla sobre si.

Christian não se metia entre Ana e seus pais, muitas vezes precisava se controlar e até saía de perto quando eles brigavam com a menina, mas não queria dizer que ele não sentia aquilo. Era complicado aquele tipo de situação.

Geralmente nas brigas e castigos, os pais de Ana estavam completamente certos, a menina aprontava demais mesmo e precisava de limites - limites esses que Christian nunca dava; mas quando a diziam não por algo tão banal era difícil de Christian absorver. Ao seu ve não tinha problema algum Ana levar seu gatinho, assim como tinha problema a garota brincar com os meninos na quadra de basquete e nem dela pular na piscina de roupa e tudo, mas para seus pais eram coisas absurdas e ela tinha que acatar as ordens.

Ele se controlava muito melhor agora, aprendendo a lidar consigo mesmo e com as atitudes ao redor de Ana, seu instinto primitivo estranhamente muito quieto após o primeiro mês com Ana, voltando a adormecer dentro de si. 

Carrick acreditava que o fato de Ana estar realmente segura e sempre perto dele tinha muito a ver com aquilo, e por a garota ser uma criança, ela não teve qualquer dificuldade em manter Christian perto de si, na verdade, nunca querendo que ele se afastasse, então os sentimentos de Christian se aquietaram. Ela nunca esteve em perigo e longe de si, não havia porque se descontrolar de repente, não era necessário tanta força para cuidar da menina.

_ Vamos, coloque Snow no seu quarto se quiser ou na casinha dele, verifique se deixou água e comida, e se a caixa de areia não está cheia - Carla mandou.

Ana se limitou a apenas bater o pé, e então deixou a mochila no chão, indo levar Snow de volta para o quarto, resmungando baixinho sob o olhar sério da mãe.

_ Já falei com Grace, Ana não pode comer muitos doces e nem salgadinho, toda vez que ela dorme lá volta quase com diabetes ou problema arterial, então, por favor, colabora - Carla falou.

Christian levantou as mãos em rendição.

Ele não tinha culpa que Ana e Mia levantavam de madrugada pela assaltar a geladeira da casa, ele nem participava daquilo de verdade, só ia junto porque as duas tinham medo de descer as escadas quando estava tudo escuro.

Só que naquela noite elas não o chamaram, porque Ana ouviu as ordens de sua mãe e não queria arriscar ser colocada de castigo junto a Christian, e Mia insistiu, e elas desceram as escadas sozinhas.

Ainda na metade da escadaria, no silêncio absoluto da madrugada, e as escadas iluminadas pelas luzinhas ao lado apenas, Ana tropeçou em seu próprio pé, e a única coisa que lembra de ter escutado antes da dor lancinante em sua cabeça, foi um rosnado muito alto.

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50 Tons de um ImprintingOnde histórias criam vida. Descubra agora