• Capítulo Quinze •

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Fevereiro, 2020

"Amor pode doer as vezes, amor pode remendar sua alma também. Mas eu juro que vai ficar mais fácil, lembre-se disso com cada pedaço seu."

Realmente Ana passou seu tempo sendo amada e mimada, com a certeza fácil e garantida dia após dia de que nunca teria seu coração partido por Christian.  Mas no inverno dos quatorze anos, ela descobriu que não era apenas ele quem poderia fazer seu coração quebrar, e nenhuma menina passa a vida sem aquela sensação de fato, a sensação de que o amor não é mesmo suficiente para nada.

_ Eu vou ficar no meu quarto, mamãe, pode me chamar para qualquer coisa - ela falou, fechando a porta do quarto de Carla.

Raymond havia acabado de sair, levando suas roupas do armário e sua bola de basquete favorita, ele não quis mais nada da casa, dizendo que já havia pegado tudo de importante.

Ana engoliu em seco enquanto seu pai beijava sua testa e prometia visitá-la em breve e sempre.

Ele não havia levado ela e nem sua mãe.

Para Ana, ele não havia levado nada de importante, a não ser o coração delas.

A menina se fechou em seu quarto, sendo alerta a qualquer barulho de sua mãe, que havia se trancado no quarto desde a noite anterior. E as vezes ela chorava alto, e seu pai na foi até lá para conforta-lá como sempre, ele apenas continuava a pegar suas coisas, resolvendo outras pelo celular.

Era como se o amor tivesse se tornado indiferença, e foi estranho porque Ana só tinha quatorze anos e sentia tanto amor dentro de si, que acabava impossível aquele sentimento ser revertido em outra coisa.

Ela deitou na cama, se jogando de costas, encarando o teto, não querendo olhar pela janela e ver que o carro de Ray não estava lá sendo que era hora do jantar e ele sempre estava, ela não queria pensar que ele já não estaria mais a partir de agora, não queria pensar que ele não estaria na poltrona da sala de estar falando sobre como a comida da mamãe estava cheirando bem e não queria pensar sobre como ele não comentaria brincalhão sobre ter se casado por aquele motivo.

O som do carro quase não foi ouvido, mas seu coração bateu rápido só em sentir o outro coração batendo perto de si, e logo a janela da varanda foi tocada por batidas fracas e baixas.

Ana mirou as cortinas fechadas, mas ela sabia quem estava ali, se levantando rápido da cama e indo até lá destrancar a janela.

Christian ainda vestia o terno que havia usado para ir a empresa, e era quase 19h da noite, o que queria dizer que ele havia ficado mais do que seu horário novamente lá. Ana não tinha qualquer força ou ânimo para discutir sobre aquilo, apenas puxando Christian pela mão para dentro do quarto, para o frio de fevereiro não entrar no ambiente aquecido.

_ O que aconteceu? Eu senti você... - ele comentou. - Na verdade, ainda estou sentindo - falou incomodado.

Ana estava angustiada e triste, e ele sentia aquilo em seu próprio coração, assim como o lobo dentro de si que estava se revirando naquele momento, irritado e triste também porque ninguém deveria deixar sua soulmate daquela forma.

Ana voltou para a cama, se sentando no meio, colocando o travesseiro no colo porque ela estava vestindo um shortinho curto e blusa grande.

_ O papai foi embora - ela respondeu, dando de ombros, pressionando os lábios.

Estava sendo forte, por sua mãe e por ela mesma, na querendo chorar e parecer ainda mais triste, não querendo piorar a situação. Mas era só Christian estar perto que ela desabava, porque ele era quem ela não conseguia esconder nada, pior, ele era quem ela sabia que resolveria as coisas e cuidaria dela.

Daquela vez a situação era diferente. Christian não poderia resolver, ele não poderia cuidar para que nada acontecesse.

_ Ele só pegou as roupas dele e a droga daquela bola de basquete e foi embora. Ele disse que não tinha mais nada de importante para pegar, que não tinha nada mais que ele precisava - ela contou, e a essa altura já tinha lágrimas nos olhos e a voz falhando por conta do nó na garganta. - Como se eu não nada para ele, ou a mãe da filha dele também não fosse importante.

Ela limpou as lágrimas com as mãos de fora bruta, odiando estar chorando porque estava magoada, não acha que seu pai merecia suas lágrimas naquele momento. Mas era difícil evitar, Ana estava se machucando, seu coração aguentando o golpe. Logo ela, que era tão lapidada e tinha seu coração blindado por Christian.

_ Ele só... descartou tudo, como se os vinte anos da vida dele não tivesse sido nada, ele só... desligou. Como é possível? Como você pode amar alguém e conseguir fazer algo assim? - ela disparou irritada.

Christian não sabia o que dizer. Acreditava que Raymond poderia não ter percebido o que disse de fato, não achava que ele quis magoar a filha, assim como não fazia do que poderia ter sido tão ruim para fazer Carla e Raymond se separarem daquela forma. Os dois eram sempre muito apaixonados juntos e bons pais para Ana. Mas ele sabia que as vezes era complicado mesmo, e nem sempre dava para aguentar.

A única coisa que Christian conseguiu fazer foi se aproximar de Ana, sentando ao lado e a trazendo para perto, abraçando seu corpo enquanto a garota ficava ainda mais irritada e discursava sobre o pai de forma ainda mais irritada, as lágrimas não parando de escorrer e sendo mais bruta a cada instante.

Ela não estava só magoada, estava com raiva, processa com a audácia de seu pai ter partido seu coração quando ela foi ensinada a vida inteira que a única pessoa que poderia fazer aquilo era Christian.

Podia ser uma fase, mas conforme os dias seguintes foram se passando, até o fim de fevereiro, foi constado um fato com o divórcio dos Steele: algo dentro de Ana havia sido quebrado.

E o lobo de Christian se contorcia dentro de si porque algo quebrado nunca mais voltava a ser igual.

Christian havia passado os últimos anos se preocupando em cuidar dela e nunca machucar seu coração, seno ingênuo em pensar que ele era o único que poderia machuca-la daquela forma.

Ana havia mudado mesmo, e seu coração que sempre foi cheio de amor absoluto, agora havia coisas demais nele, confusas e concretas, difíceis de tirar.

De repente ela não entendia mais quando Christian dizia que precisava ficar até mais tarde na empresa, não entendia quando ele dizia que não podia ve-la em algum determinado dia, tudo se tornava uma explosão sobre eles dois porque ela não acreditava mais podiam ser eternos.

Ela havia crescido e entendido que não era mesmo possível ter um castelo de açúcar.

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50 Tons de um ImprintingOnde histórias criam vida. Descubra agora