• Capítulo Dez •

1.7K 201 20
                                    

Novembro, 2015


"Eu era só uma criança, mas já estava tão apaixonada, e eu sempre soube que você era a pessoa esperando por mim, sem nem entender o que isso significava."


A casa dos Grey ficava situada em um enorme espaço de terreno florestal, em um bosque largo ao redor, e um pouco longe de vizinhos, agora sendo um pouco óbvio o motivo para Ana. 

A chuva caía gelada e forte em seu corpo, e seus dedos escorregavam o tempo todo, mas o lobo não para de andar, as vezes ia rápido, as vezes parecia se lembrar que a menina podia cair e então ia bem devagar. 

Até que por fim ele parou, abaixando o corpo no limite, fazendo Ana escorregar até o chão onde havia uma sobra de arvore guardada pela chuva. A garota estava completamente encharcada, seus lábios tremiam, e seus cabelos grudavam em seu rosto e seu pescoço. Ela não sabe por quanto tempo andaram, mas não conseguia mais enxergar a casa e sim apenas árvores e arbustos ao redor. 

O lobo encarou a menina, ela estava com o rosto pálido, os lábios roxos, e abraçava o próprio corpo pelo frio, mas ela sorriu de qualquer forma, mostrando os dentes que batiam um no outro. O animal guinchou incomodado, parecendo perceber que não era certo deixar Ana daquela forma, não gostando de vê-la com frio e entendendo que ela não tinha a mesma resistência que ele.

_ Eu entendo, está tudo bem - ela murmurou, sorrindo de lado, esticando o braço até os pelos do lobo e acariciando ali. 

Mesmo com os pelos molhados, o animal ainda estava quente, e Ana se aproximou mais, aproveitando aquilo, perto do calor do corpo dele, se aconchegando. Ele relaxou ao perceber a menina relaxar tambem, se deitando no chão e garantindo que ela tivesse o suficiente de seu corpo quente para que pudesse parar de sentir frio, a mantendo entre suas patas gigantes para ela, cobrindo seu corpo sem descontar seu peso. 

Com os minutos se passando ele começava a ter percepção das coisas, quase que deixando a mente de Christian tomar o lugar, percebendo como Ana era frágil e ele não poderia cuidar dela sozinho. Não queria machucá-la por sua falta de tato, precisava do lado humano também para cuidar dela. 

O silencio reinava, a chuva parou, e talvez horas tenham se passado. Os olhos de Ana quase se fechavam, era madrugada, afinal, mas seu corpo mesmo relaxado, sua mente se mantinha em alerta, simplesmente porque o lobo também se mantinha acordado. 

_ Sabe, ninguem vai me tirar de voce - ela garantiu, seus dedos nunca parando de acaricia-lo, mesmo o frio já esquecido. - Eu sou sua... - sussurrou, fazendo os olhos no lobo caírem nela.

Os olhos cinzentos agora tinham uma cor menos perigosa, como se voltassem a ser mais humanos, refletindo o olhar calmo e brilhante de Ana. A menina sorriu pequeno, quase sarcástica, esticando uma sobrancelha.

_ Lobinho - chamou de forma engraçada, com sua voz de criança.

O lobo bufou, a fazendo rir agora.

_ Lobão, então - declarou, e ele dessa vez levou o focinho até ela, tocando em sua barriga e empurrando de leve, fazendo cócegas, e a menina riu alto. - Tudo bem, tudo bem... Meu alfa.

O lobo esticou a cabeça, metido, parecendo arrogante agora, e Ana sorriu em descrença.

_ Você é possessivo até no lado animal - comentou. - Coitada de mim quando for de tamanho maior. 

O lobo apenas voltou a se deitar sobre ela, deixando o focinho sobre sua barriga, gostando dela acariciando o meio de sua cabeça, entre suas orelhas. Era a sua soulmate e ele sempre gostaria dos toques dela, sendo criança ou adulta. Mas sendo criança parecia tão diferentes dos adultos, o cheirinho, as mãos pequenas, o sorriso cheio de dentes, as bochechas grandes e redondas, os pés batendo em suas costelas quando andaram juntos. 

Ele fechou os olhos então, baixando a guarda finalmente, deixando as lembranças na memória humana tomar conta, vendo Ana rir, se balançar em pé no pneu, a menina falando sobre seu dia, o chamando de... alfa. 

_ Alfa - ela chamou ali também, quase fazendo o lobo não perceber por estar tão perdido em memórias. - Acho que devíamos voltar agora - ela sugeriu. - Mamãe sempre diz que não deveria ficar com roupa molhada.

O lobo se estingou, não gostando da sugestão dela, forçando a cabeça contra seu corpo num claro gesto de que não a deixaria levantar.

Ana não pestanejou, apenas sorriu um pouco mais e se abraçou a ele, deixando aquelas ideias para lá. Não estava com frio mesmo, o lobo era muito quente, e a roupa em seu corpo não era importante. 

_ Eu te amo, alfa - ela declarou muito baixinho, os lábios contra ele, não se importando com os pelos umidos.

Ela dormiu, o barulho do seu sono tranquilo ressonado quebrou o lobo, o deixando a deriva, o som do seu coração batendo contra a orelha dele o fez dormir também, e de repente o corpo de Christian estava ali, sob o de Ana.

Ele piscou os olhos devagar, a dor em seus ossos sendo lancinante, e tudo o que ele sentia além de dor era o peso leve do corpo de Ana em cima de seu peito. 

A menina estava embolada como uma bolotinha, claramente com frio agora depois de perder os pelos quentes do lobo, se agarrando a Christian, mas com sono demais para acordar. 

O dia estava amanhecendo, o céu começando a ficar alaranjado e prometendo que talvez o sol dessa as caras em algum momento daquela manhã. Christian pressionou um dos braços contra Ana enquanto tentava se levantar, o próprio corpo pesando uma tonelada agora. Ouviu passos de repente, e aqueles pés ritmados era o que ele ouviu a vida inteira, então apenas relaxou no chão novamente, sabendo que seu pai estava ali, assegurando os dois. 

Carrick vestia roupas largas, a aparência de cansaço, a energia que transformação necessitava era muita, e seu pai não se transformava há anos. Christian se sentiu acolhido com aquilo, sabia que não foi apenas para proteger Grace e Mia, tinha flash em sua mente e se lembrava do lobo de Carrick tentando proteger Ana dele. Era extremamente agradecido por aquilo, a certeza de que Ana estava segura e que o lobo de seu pai a reconhecia como família, deixava seu próprio lobo mais tranquilo.

_ Filho - Carrick chamou, indo até ele a passos lentos, sentindo o terreno, não querendo se intrometer entre ele e sua soulmate. 

Sabia que tudo era sensível, não entendia o que havia acontecido entre Christian e Ana, não sabia como podia agir, a qualquer momento o lobo poderia voltar. 

Mas Christian, surpreendendo, esticou a mão, querendo a ajuda do pai para se levantar, deixando Ana no chão deitada com cuidado. Pegou as roupas que seu pai lhe entregava e as colocou rapidamente, e então se recostou contra o homem mais velho, inspirando contra ele, tentando ter mais daquela sensação de segurança, deixando Carrick chocado em como o filho parecia dependente dele como um filhote, e não arisco como deveria estar.

O lobo estava mesmo adormecido.

Quando a primeira transformação acontecia para um alfa, levava dias, até mesmo uma semana para a forma humana conseguir ser encontrada, a mente sempre a deriva, mas ali, depois de horas estava Christian, que se não fosse pela aparência apática e cansada, era como se nada tivesse acontecido.

O lobo dele era forte, forte demais até, Carrick comprovou aquilo com assombro quando não conseguiu que ele se submetesse, mas pelo visto Anastasia era ainda mais forte que aquele lobo, porque ele não se submeteu ao próprio sangue, mas a sua soulmate.


•••



Eu pensei muito sobre a transformação do Christian, até pensei em fazer ela quando Ana fosse maior, mas ai percebi que nao teria sentido, porque o principal é o fato do instinto dele aflorar com tão pouco em Ana e de Ana conseguir controlá-lo com ainda menos esforço. Enfim, muitas coisas vão rolar, vai surgindo alguns saltos no tempo como esse de dois anos, e Ana vai crescendo e a gente acompanhando. Já aviso logo, acham que ela é porreta sendo criança, vão sentir pena do Christian quando essa menina se tornar adolescente.

50 Tons de um ImprintingOnde histórias criam vida. Descubra agora