DOMINGO
No domingo, Amanda recebeu uma notícia que a deixou extremamente feliz: Fred havia finalmente pedido Larissa em namoro durante o jantar no chalé.
A amiga lhe contou todos os detalhes da noite inesquecível assim que Amanda abriu seus olhos naquela manhã. Em contrapartida, a médica contou tudo sobre o evento, mas omitiu as melhores partes, como a sala dos quadros, por exemplo.
No geral, foi um dia calmo e tranquilo. Tudo parecia em paz na vida dela e mais do que nunca, sentia que tudo estava devidamente encaixado, mesmo com alguns acontecimentos esquisitos por aqui e por ali, ela não tinha do que reclamar.SEGUNDA-FEIRA
Ao voltar para o trabalho, as coisas voltaram a ficar estranhas. Aquela sensação de ser observada voltou.
Amanda questionou se talvez ela estivesse ficando paranóica por conta de sua ansiedade, mas não se convenceu, já que, na verdade, só se sentia ansiosa por causa desse sentimento que se tornava cada vez mais recorrente.
O que mais parecia fazer sentido era que sua amizade com pessoas famosas pudesse ter atraído alguma atenção para ela e por isso esse sentimento de ser observada surgia toda vez que saia de casa.
Se lembrou da carta que recebeu.
Até que fazia sentido ser de alguém do prédio, mas era tão estranho. Desde que se mudou para aquele apartamento com Larissa, nunca recebeu nada do tipo.
Decidiu que o melhor a se fazer era ignorar essa sensação até que tivesse mais informações a respeito, afinal, não tinha nada que ela pudesse fazer no momento.TERÇA-FEIRA
Mais uma carta foi entregue, dessa vez, no hospital. A mesma caligrafia, ainda sem nome.
Amanda estava começando a realmente se preocupar com aquilo, quem poderia estar lhe enviando cartas? E sempre os mesmos dizeres: "você é linda, gosto de você, namora comigo".
Quando contou aos amigos sobre a segunda carta, Fred tentou tranquilizá-la ao dizer que muito provavelmente era algum adolescente do prédio que estava apaixonado e resolveu brincar de admirador secreto, como o porteiro havia dito. Entretanto, mesmo entendendo essa linha de raciocínio e mesmo que as cartas não tivessem nenhum conteúdo negativo, a médica não conseguia se livrar de uma sensação ruim sobre elas. Sentia como se estivesse deixando algo escapar, como se precisasse prestar mais atenção em algum detalhe que ela não conseguia enxergar.QUARTA-FEIRA
O décimo quinto dia chegou numa manhã nublada, o tempo indicava que uma chuva viria em breve. Quando acordou, Amanda não podia imaginar o curso que aquele simples dia tomaria.
No hospital, ela seguiu a rotina de sempre, atendeu os pacientes, atualizou os prontuários, realizou alguns procedimentos necessários, nada fora do que estava habituada. Por volta de duas da tarde, se dirigiu a cantina para tomar um café, mas foi interrompida por uma visita inesperada.
Felipe havia voltado ao hospital para retirar os pontos, exatos sete dias após ela atendê-lo.- Doutora Amanda, bom dia. - Ele disse ao encontrá-la no corredor que dava acesso a cafeteria. - Eu estava indo para a recepção perguntar sobre você.
- Oi, Felipe. Você está bem?
- Ah, sim. Nenhum acidente recente. - Ele soltou um risinho. - Eu só vim tirar os pontos, mas quis aproveitar para te ver. Você não respondeu a mensagem que te mandei no Instagram.
- Me desculpa, os últimos dias foram corridos, eu nem abri o Instagram.
- Tudo bem, não tem problema. Será que a gente pode conversar por um minuto?
- Claro, pode falar.
- Teria algum lugar mais reservado para conversarmos?
- Vem comigo. - Amanda o guiou até um consultório pequeno próximo da recepção que quase não era utilizado.
- Não tem problema estarmos aqui? - Ele perguntou.
- Não, esse consultório costuma ficar vazio, mas se alguém entrar, nós saímos.
- Tudo bem. - Ele parecia receoso. - Eu gostaria de saber se você pensou na pergunta que eu te fiz.
- Pergunta? - Amanda ficou confusa por um instante antes de se lembrar. - Ah, o encontro.
- Isso, nosso encontro.
- Eu não acho que seja uma boa ideia, Felipe.
- Por favor, Amanda. Não precisa significar nada, pode ser só um jantar de amigos.
- Eu não sei se me sinto confortável, nossa relação é profissional, apenas isso. Você está confundindo um sentimento de gratidão que tem por mim, com um interesse romântico e isso não é saudável. É melhor esquecermos essa história para evitar um problema posterior.
- Eu não tô confundindo meus sentimentos, Amanda. Eu sei o que eu quero. - Ele parecia um tanto frustrado. - Olha, eu tenho uma proposta.
- Qual seria?
- Um encontro teste. Sai pra tomar um café comigo, sem nenhum compromisso. Podemos ir amanhã de tarde, depois do seu plantão, mas não aqui na cantina, em alguma cafeteria ou qualquer outro lugar. Se você não gostar ou sentir que não devemos sair, eu esqueço desse jantar, mas se tudo der certo, como eu tenho certeza que vai, você sai comigo, em um encontro de verdade. O que acha? - Amanda pensou por alguns segundos antes de responder.
- Tudo bem, mas sem compromisso e sem expectativas. Vai ser só um café.
- Sem expectativas, eu prometo. - Ele sorriu largamente. - Ah, eu quase esqueci. Te trouxe um presente.
- O que? Não, eu não posso aceitar. - Respondeu a médica, assim que viu ele tirar uma caixinha preta do bolso.
- Não se preocupe, não é nada caro. É só um terço do espírito santo que eu comprei numa feirinha da igreja perto de casa. Não sei por que, mas achei que gostaria.
- Eu sempre carrego um pingente do espírito santo comigo. - Amanda disse mais pra si mesma do que pra ele.
- Sério? Me parece mais um sinal do destino.
- Muito obrigada pelo presente. - A médica disse ao finalmente pegar a caixinha da mão dele.
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Momentos | Docshoe
FanfictionO que acontece quando o amor e a amizade andam lado a lado? É possível amar sem ser amigo? Ou ser amigo sem amor? O que acontece quando uma brincadeira vira algo sério? Quando um flerte vira desejo? Quando um abraço vira um beijo? O que aconte...