Hospital

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Amanda

Alguns dias haviam se passado desde Amanda finalmente lera a carta. E desde então, eles não conseguiram ficar mais do que algumas horas separados. Era como se houvesse uma urgência por contato, por aproveitar cada minuto juntos, como se precisassem compensar todo o tempo desperdiçado. Além disso, a médica sentia que precisava apreciar todas as oportunidades de passarem um tempo juntos, afinal, ela estava ciente de que em algum momento, ele voltaria para os Estados Unidos. Embora Antônio ainda não tivesse mencionado seus planos de viagem ou alguma possível data, a volta iminente era algo que ela já estava conformada. 
Parecia loucura a forma como a saudade antecipada já se instalava em seu coração, mas também trazia uma sensação de que cada instante compartilhado entre eles fosse mágico. Como se cada olhar, cada sorriso, cada detalhe que ela gravava na memória parecia ainda mais prazeroso ao saber que em breve deixariam de ser frequentes.

Já era perto do meio dia quando a médica finalmente conseguiu sentar-se na confortável cadeira branca de seu consultório. O contraste da luz fria com as paredes inteiramente brancas faziam a vista doer levemente, por isso ela os fechou, assim que sentou-se em frente a mesa, apoiando os cotovelos no vidro e cobrindo os olhos com a palma das mãos. Sua expressão era cansada e ela podia sentir a gritante tensão que retraia seus ombros. Sentia-se exausta.
Mesmo com a carga horaria reduzida, Amanda se desdobrava para fazer nesse tempo, a mesma quantidade de trabalho que costumava cumprir no jornada integral. Era definitivamente uma maratona desgastante, mas não lhe incomodava de fato, sempre amou a medicina e o privilégio de cuidar de quem precisa de ajuda. Além disso, quanto mais ocupada estivesse, menos tempo teria para que sua mente pudesse relembrar aquele maldito dia. As lembranças vívidas daquele dia ainda assombravam Amanda, por mais que ela insistisse em negar.

Um toque suave suave na porta a fez dar um pulo assustado na cadeira, seu coração disparou enquanto o silêncio tomou conta do consultório por alguns segundos. Ela respirou fundo, numa tentativa de se acalmar, antes de murmurar um "pode entrar" com a voz trêmula.

- Doutora Meirelles? - Sophia chamou ao entrar no consultório. - Você tem uma visita te esperando na recepção. Eu verifiquei o intuito da visita e a existência de algum grau de parentesco. É um homem, se identificou como Antônio Carlos e me pediu para te dizer que ele é o seu "amigo exclusivo que extrapola", mas eu não tenho certeza se ouvi a frase corretamente. Devo dispensá-lo? - Amanda tentou, mas não pode evitar o riso.

- Não, tudo bem. Eu vou recebê-lo.

Ainda rindo pela forma como Antônio havia se apresentado, Amanda atravessou alguns corredores até a recepção. Era típico dele dizer algo assim em público e o pior é que na maioria das vezes nem era uma piada, era simplesmente Antônio sendo Antônio e isso era uma das coisas que ela mais adorava nele.

Ao adentrar a recepção, os olhos de Amanda o encontraram, recostado no balcão, exalando uma confiança natural e um charme que ele mal percebia que tinha. Um sorriso involuntário se desenhou nos lábios da médica, ele estava simplesmente lindo, mesmo vestindo apenas uma calça jeans e uma camiseta branca básica. 
Permitiu-se observá-lo por um instante, deixando que seus olhos percorressem os detalhes daquele homem, desde as veias saltadas em seu braço, aos ombros largos e os traços definidos de sua mandíbula. Não tinha dúvidas de que o lutador era o homem mais bonito com o qual ela já se envolveu, mas ainda sim, a atração que sentia por ele ia muito além da aparência física. Era a forma que ele a olhava, como cuidava dela, como estava sempre presente para protegê-la e como a fazia sentir a mulher mais especial do mundo, a soma de tudo isso era a razão pela qual Amanda estava perdidamente apaixonada por Antônio.

Mas é claro que o fato de ele ser um tremendo gostoso era um bônus que ela adorava apreciar.

- Oi, Antônio. - Disse Amanda, chamando a atenção do lutador que estava distraído ao mexer no celular.

Momentos | DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora