Nova Jersey

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Amanda

Foi a primeira vez em muito tempo que Amanda ficou realmente distante de Antônio. Desde que voltaram de João Pessoa no domingo, não tiveram tempo de se ver. Ele estava completamente atarefado com tudo que precisava organizar para a viagem, já que embarcaria na terça-feira rumo a Atlantic City, em Nova Jersey.
A semana de Amanda também não foi tranquila, ela e Larissa precisaram colocar muita coisa em ordem antes de sair do país. Tinha o apartamento para organizar, já que ficaria fechado por um bom tempo, tinham roupas pra comprar, contas para deixar pagas, amigos e família pra avisar.
Larissa conseguiu tirar uma das três férias que ela tinha acumulada, então teria 30 dias livre do trabalho, dessa forma, ela também não precisaria voltar para o Brasil entre as lutas do showmatch e a primeira do campeonato. E na academia que também trabalhava, era paga por aula, por isso, apenas precisou pedir que uma outra personal assumisse seus alunos nesse tempo para não deixá-los na mão.
Fred reorganizou seus compromissos e cancelou presença em alguns eventos, mas no geral, tudo que ele tinha que fazer, podia ser feito a distância e ele ainda conseguiria produzir muitos conteúdos pro canal dele na viagem, para ele era mais fácil ficar tantos dias longe do Brasil. Com exceção da saudade que sentiria do filho, no entanto, Bianca tinha uma viagem com Cris planejada na mesma época, então, de qualquer forma, ele ficaria sem vê-lo por alguns dias.
E Amanda, por sua vez, não teve muita dificuldade em relação a disponibilidade de tempo. Já que estava afastada do hospital por sessenta dias, poderia tranquilamente viajar para os Estados Unidos sem se preocupar com o vínculo empregatício. Mas ao contrário de Fred e Lari, ela não pretendia voltar logo após a primeira luta. Havia prometido para Antônio que ficaria um pouco mais, até que tivesse que voltar para o trabalho.
A agência de Antônio ficou responsável por conseguir os vistos de entrada no país, tanto para Amanda, quanto para Larissa. Já que Fred tinha o visto O-1, que basicamente permite que pessoas famosas possam viajar sempre que quiserem.
Só faziam quatro dias desde que a médica havia visto o lutador pela última vez, mas o aperto em seu peito fazia parecer que a distância já durava mais de um ano. Estava extremamente ansiosa para a viagem e mal dormia nos últimos dias, sua cama parecia incomodamente vazia sem ele ao lado. Estava mal acostumada!

Às 3h30 da manhã do dia 08 de Abril, os três embarcaram juntos. Já era quinta-feira e a luta ocorreria no dia seguinte.
Ficariam hospedados no mesmo hotel que Antônio estava, mas depois do evento, iriam os quatro para Miami, onde o lutador tinha residência fixa.
O vôo teve duração de oito horas e meia, com pouco atraso para o embarque, então desembarcaram por volta das onze da manhã, considerando a diferença de uma hora no fuso horário. Antônio fez questão de recebê-los no aeroporto.

- Amandinha! - Ele quase gritou ao vê-la passar pelo portão de desembarque.
- Oi, Sapatinho. - Disse após correr para abraçá-lo. - Senti sua falta.
- Eu também, já estava morrendo de saudades.
- Nós também viemos, viu? - Fred pigarreou atrás deles.
- Não que seja importante. - Larissa completou.
- Eu também senti saudades de vocês. - O lutador disse após abraçar os outros dois amigos.
- Não tanto quanto da Amanda, mas tudo bem, estou acostumado a ser sua segunda opção. - Fred forçou uma expressão triste.
- Quanto drama, Frederico. - Amanda se pronunciou. - Eu não tenho culpa de ser especial.
- Especial até demais, né, Amandex. - Fred provocou e Larissa lhe deu uma cotovelada.
- Enfim, o que vamos fazer agora? Estou agitada, dormi o vôo todo. - Larissa questionou.
- Eu tenho um compromisso com a PFL, na verdade, mas vou deixar vocês no hotel primeiro.
- Não podemos te acompanhar, Sapatinho? - Amanda o olhou com espectativa. Havia acabado de reencontrá-lo e não queria se afastar tão cedo.
- Poder, pode. Mas é demorado, Amandinha. Vai durar umas cinco horas.
- Eu não me importo, quero ficar com você. - Ela respondeu.
- Também não me importo, irmão. Se por um acaso a gente cansar, vamos pro hotel sozinhos.
- Eu também topo, mas a gente pode passar no hotel pra deixar as malas antes? - Larissa perguntou.
- Por favor, Papato. Essas malucas trouxeram quatro malas CADA UMA. - Fred aumentou o tom para frisar a última parte e Antônio riu.
- Claro. Podemos passar no hotel antes.
- Aí você se troca também, né. Um calor desse e você tá usando três moletons, Antônio, tá maluco? Já tá todo suado. - Amanda observou, se ela já estava com calor vestindo calça jeans e uma camiseta, imagina ele.
- A intenção é suar muito mesmo, pra perder líquidos. Eu ainda tirei a roupa térmica antes de vir pro aeroporto, se não estaria muito mais suado.
- Perder líquidos? Antônio, você vai passar mal. - Amanda o olhou preocupada.
- Relaxa, Amandinha. É só procedimento um padrão. - Ele respondeu enquanto começavam a caminhar para fora do aeroporto, o braço dele cercava os ombros dela e não se desgrudaram nem por um segundo. - Eu tenho pesagem hoje.
- Pesagem é aquilo de conferir se os dois lutadores estão na mesma categoria, né? - Larissa perguntou.
- Isso, Lari. Eu não posso estar acima do limite de peso, se não, tenho desvantagem na pontuação. Se fosse uma luta oficial, eu perderia um ponto e meu adversário ganharia um bônus na pontuação dele. Como é um showmatch, tem uma multa pra quem tiver fora do peso.
- Mas faz mal pra saúde ficar perdendo líquido, Sapatinho. - Amanda estava perplexa.
- É só até a pesagem, Amandex. O Papato vai ficar bem. - Fred acariciou o braço da amiga, tentando tranquilizá-la.
- E se você ganhar peso depois dessa pesagem? - A loira perguntou.
- Não acontece nada. Na verdade, quase todo lutador ganha. O importante é estar dentro do peso ideal no dia da pesagem, que é sempre um dia antes da luta. Perder líquido é a forma mais rápida de perder peso sem interferir na massa corporal, depois é só reidratar.
- Então vamos, você vai se pesar e depois vamos te engordar uns sete quilos, não quero te ver perdendo essa luta, eu vou surtar.
- Relaxa, Amandinha. As lutas de showmatch não costumam ser tão feias quanto as de campeonato, é muito arriscado se quebrar inteiro antes do começo da temporada. - Fred explicou.
- Mas qual a vantagem do showmatch, então? Se você corre o risco de se machucar e perder o campeonato. - Indagou Larissa, com uma expressão confusa.
- Dinheiro, em primeiro lugar. A gente recebe bem pra lutar um showmatch. E divulgação. Conquista muito público e também te garante vaga no card principal. Quanto mais público, mais patrocínio. - Antônio esclareceu enquanto lutava para enfiar todas as malas dentro do carro.
- O que é card principal? Meu Deus, eu devia ter te pedido uma palestra sobre o mundo da luta com mais antecedência. - Amanda tentava assimilar todas as informações. Era a primeira vez que ela assistiria pessoalmente a uma luta de Sapato e queria ser capaz de entender tudo que estivesse acontecendo. Nas vezes em que assistiu pela televisão, só precisou se preocupar em apertar os olhos com força, enquanto gritava e chorar após vê-lo vencer.
- É uma divisão de lutadores com base em relevância. - Antônio disse, ao dar partida no carro, com uma mão no volante e a outra na coxa de Amanda. - São muitas lutas no mesmo dia, então dura muito tempo, só que comercialmente, alguns horários são melhores do que outros. Por exemplo, uma luta que acontece cinco da tarde não tem o mesmo destaque da luta que acontece onze da noite, que é o horário de maior pico de audiência. Por isso a liga divide os lutadores. Os que tem mais relevância, mais famosos, ficam no card principal com os horários de maior destaque. Os lutadores menos conhecidos ficam no card preliminar. No fim, todo mundo concorre ao mesmo prêmio, a diferença é mais em relação a visibilidade que você ganha e a chance de conquistar mais público e mais patrocínio.
- E tu vai ficar no card principal por causa do showmatch? - Lari perguntou.
- Isso mesmo.

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