Pânico

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Amanda

A respiração irregular prejudicava sua capacidade de discernimento, num ritmo caótico que parecia arrastá-la para o abismo entre o que era real e o que deixava de ser. As paredes brancas do corredor pareciam ganhar vida, como se estivessem lentamente se aproximando dela, prontas para esmagá-la. E a cada suposto centímetro movido, faziam a sentir-se cada vez mais sufocada. O coração disparado parecia uma locomotiva desgovernada. Os olhos estavam nublados por lágrimas que ameaçavam transbordar e a mente rodava em um turbilhão de pensamentos que a fazia sentir que podia desmaiar.

Tudo girava e ela queria gritar, mas a voz não a obedecia. Pavor, medo, suor frio. Estava paralisada enquanto espremia seu corpo contra a quina da parede, buscando uma falsa sensação de segurança na solidez do concreto. Cada som no ambiente intensificava a sensação de terror. O zumbido ensurdecedor em seu ouvido reverberava, como um alerta incessante de que tudo estava prestes a ruir e ele se somava ao som de seu próprio batimento cardíaco que pulsava tão rápido quanto uma bateria de escola de samba.

O corredor parecia ainda mais frio do que o normal e as luzes florescentes faziam seus olhos arderem. Era possível ouvir o eco de algumas vozes na distância, mas ela não conseguia distinguir palavras, tampouco clamar por ajuda. 

Ela estava sozinha, aprisionada em seu próprio mundo de angústia e desespero, incapaz de encontrar uma saída ou um alívio para aquela terrível agonia.

Suas costas deslizaram pela parede, e ela encontrou algum alívio temporário ao agachar-se e abraçar os próprios joelhos. As mãos trêmulas envolvendo as pernas, em busca de qualquer mínima sensação de segurança. No entanto, a sensação que tinha era de que o ar estava rarefeito, diminuindo a cada respiração e fazendo tudo arder dentro dela.
Havia um nó em sua garganta, apertando-a, sufocando-a, como se o próprio pânico estivesse se materializando dentro dela. E isso a levava de volta para um momento aterrorizante. A visão embaçou e ela conseguia vislumbrar aquele dia, revivendo as lembranças daquele pesadelo de forma nítida... O medo paralisante que a dominara, a sensação agonizante de que tudo se movia em câmera lenta, o olhar conturbado dele e as mãos rudes em volta de seu pescoço, impedindo-a de respirar. Ela era capaz de sentir a dor novamente, enquanto lágrimas escapavam de seus olhos.

Não era como um filme em sua cabeça, não, era pior. Ela sentia que estava lá outra vez, que ele estava em sua frente, que tudo estava acontecendo de novo. E mesmo que uma parte distante de sua mente continuasse a gritar desesperadamente que nada daquilo era real, que tudo não passava de uma memória ruim... Não fazia com que a dor fosse menor. Nada poderia mudar o fato de que, no passado ou no presente, aquilo aconteceu e as marcas desse trauma a acompanhariam para o resto de sua vida.

Impotência, vulnerabilidade... Pânico. O mais puro e genuíno pânico.

O tempo parecia ter congelado, tornando-se um meramente abstrato, pois, ela não conseguia mais ter noção de quantas horas ou minutos haviam se passado. A impressão que tinha era de que estava presa num loop infinito, sozinha, a deriva em seu próprio caos. O sentimento de medo era tão gritante que causava dor física, todos os músculos de seu corpo se contraiam e pareciam queimar.

Amanda temia que aquele momento fosse interminável.

Não a crise, em si, mas aquela dor dilacerante que lhe rasgava o peito e sempre a levava de volta para as mesmas memórias, as mesmas feridas.

Em meio ao vendaval de pensamentos e devaneios que a encobriam, ela se questionou se era forte o suficiente para passar por aquilo. Sentia-se fraca, envergonhada, derrotada e, acima de tudo, exausta.

Podia ouvir a voz do gestor de equipe ecoar em sua mente: "Estamos muito satisfeitos com os seus resultados. Se você se sentir pronta, gostaríamos que voltasse a atuar em período integral".
Ela deveria estar feliz, não deveria? Esforçava-se justamente para isso desde que voltou. Estava convencendo os outros e a si mesma de que isso era o que ela queria, então, porque agora parecia tão aterrorizante?
Simplesmente porque era uma mentira. Amanda não estava bem, tampouco pronta para voltar.
Enquanto estava longe do Brasil, pôde distrair-se e não pensar em tudo que tinha acontecido. A distância proporcionava um refúgio temporário da dor e das memórias dolorosas. No entanto, ao retornar, teve que vestir uma máscara de normalidade e sufocar o que sentia, usou a dor do coração partido para camuflar o conflito interno que a assombrava, agora, porém, não havia mais desculpas e mesmo ainda mentindo para os outros, estava cada dia mais difícil de enganar a si mesma.

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