Família

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Antônio

Dormir e acordar ao lado de Amanda era a melhor sensação do mundo. Antônio abriria mão de tudo que tinha para ter esse privilégio todos os dias. Abriria mão do dinheiro, das casas enormes, dos carros caros, do luxo, do conforto... Arriscaria dizer que abriria mão até das lutas por ela. Viveria numa casinha pequena numa cidade de interior, abriria uma academia de jiu-jitsu, levaria os filhos na escola todos os dias e faria o que fosse preciso pra ver a mulher da sua vida ser feliz, porquê não importa o que acontecesse ou como seria sua vida, se estivesse ao lado dela, sabia que seria feliz.
Não é que a felicidade dele dependesse dela, não era isso, é só que tudo de material que ele tinha ou poderia ter, perde o valor comparado ao amor que ele carregava em seu peito.

Ainda na cama, precisou de longos minutos até ter coragem para se desvencilhar dela. Seu corpo reagia mal com a falta de contato, parecia incompleto. Mesmo assim, se levantou cuidadosamente e deixou o quarto, tomando cuidado para não acordá-la.
Foi até a cozinha com uma meta: levar café da manhã na cama para Amanda.
Rezou mentalmente para que ela não acordasse antes que ele pudesse cumprir seu objetivo.
E na verdade, aquele não era um simples café da manhã, mas sim parte de um plano que Antônio decidirá adotar: ele daria seu melhor para que Amanda se apaixonasse por ele.

Percebeu que não adiantaria continuar se lamentando e sofrendo por um amor não correspondido se ele não fazia nada a respeito. Ele precisava tentar, de forma discreta, pois não queria assustá-la e nem queria que tudo ficasse num clima estranho, mas precisava tentar.
A ideia surgiu ainda na noite anterior, conversar com Amanda sobre seus relacionamentos passados fez com que ele percebesse que ela não sabia ser amada de verdade, talvez porque nunca tivesse sido amada da forma como merecia e ela merece o mundo. Merece ser admirada e valorizada, merece ser mimada e bem tratada, merece carinho, merece felicidade, merece alguém que veja a beleza dela em todas as formas. No jeito atrapalhado, no cabelo bagunçado, nos olhos borrados de maquiagem pela manhã, nos abraços quentinhos, nos sorrisos sem motivo, na gentileza, na bondade, nas suas curvas, no rosto delicado, na vontade de ajudar, na empatia, na fragilidade, nas suas pintinhas, na bunda enorme e nas coxas grossas, no carinho, na carência, na felicidade, na raiva, na tristeza, nas piadas ruins, no sotaque fofo, no cansaço, no senso de humor duvidoso, na mente brilhante, na compaixão, no coração... Tudo nela tem beleza e tudo ao redor dela fica mais bonito.
O plano era ajudá-la a enxergar como ela é fácil de ser amada e o quanto é difícil de esquecê-la. Ele estava disposto a se dedicar todos os dias para construir uma relação de verdade com Amanda.

Pretendia demonstrar com pequenos gestos no dia a dia, não faria uma declaração, não agora, pelo menos, mas pretendia demonstrar seu amor em atitudes, em pequenos gestos, pequenas palavras, deixaria que ela visse que ele está e sempre esteve ali, permaneceria aberto e deixaria que ela entrasse aos pouquinhos, no tempo e no ritmo dela. Mas não foi uma decisão fácil de ser tomada, havia muito em risco. Permanecer em negação, mesmo que fosse doloroso, era muito mais seguro. Decidir fazer algo a respeito lhe dava apenas duas opções:
1 - Se tudo desse certo, ele teria o amor da sua vida, por inteiro e nada o faria mais completo do que isso.
2 - Se não funcionasse, seria sua ruína. Não tinha certeza se um dia conseguiria se recuperar do coração partido, mas tudo bem, se existisse um bom motivo para ter seu coração devastado, esse motivo era Amanda Meirelles.

Carregou a bandeja até o quarto com as mãos tremendo um pouco, não sabia como seria a reação de sua amada. A insegurança bateu, mas era tarde para voltar atrás, certo?
Girou a maçaneta com o cotovelo e abriu a porta lentamente, ela ainda estava dormindo. Apoiou a bandeja na cama antes de acordá-la com um chacoalhão suave e seu coração quase parou enquanto assistia ela se espreguiçar e abrir os olhos lentamente, como podia ser tão linda? Como podia afetá-lo tanto com coisas tão banais?

Momentos | DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora