Distância

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Amanda

A semana havia se arrastado tão lentamente que Amanda sentia que vivera um mês em três dias. Tudo parecia tedioso e monótono, mas ela sabia que só sentia isso devido a ausência de Antônio.
Ele estava a cada dia mais ocupado e mal se viram desde segunda-feira, trocaram poucas palavras, inclusive, já que ele não parava em casa. Acordava cedo para treinar, não tinha tempo de voltar para casa na pausa ou no almoço, pois estava cheio de reuniões e algumas entrevistas, tinha mais um treino durante a tarde e mais compromissos de noite. Não jantaram juntos um dia sequer. E ele voltava tarde demais para conversarem.
Pra ela, sobrou ajudar na organização do aniversário de Fred, que já estava maior do que ela pensou que seria, mas tudo bem, o amigo merecia comemorar em grande estilo.

Mas na quinta-feira, Amanda acordou animada. Ele havia prometido que jantariam juntos e até marcou em sua agenda para evitar que surgissem outros compromissos que o impedissem de comparecer.
Ela sabia que precisavam desse tempo, precisavam conversar e realinhar a relação deles. Tudo havia ficado estranho demais desde que chegaram a Miami, como se houvesse um abismo que os separasse, mesmo dormindo há poucos metros um do outro.
Ficou tão empolgada com o jantar que decidiu cozinhar e ela fazia isso muito pouco quando estavam juntos. Convenceu até Larissa a levar Fred para jantar fora para que tivessem um tempinho a sós.

Quando a noite caiu, ela preparou tudo, pensou em cada detalhe. A decoração da mesa, a refeição em si e no vinho que melhor combinaria. Só tinha uma coisa faltando: Ele.

Combinaram as sete horas, mas ele não chegou no horário marcado. Ela não se importou, afinal, acontece.

As oito, começou a se preocupar, além de atrasado, ele não respondia as mensagens.

As dez ela já havia perdido as esperanças, mas por alguma maldita razão, continuou esperando.

Quase meia noite e ele ainda não havia chegado, Amanda encarou os dois pratos vazios postos na mesa que passaram horas esperando para serem preenchidos com a comida nas panelas do fogão. Ela bufou, sentindo-se uma idiota.
Ele não ligou, não mandou uma sequer mensagem. Devia estar muito ocupado mesmo ou simplesmente não se incomodou o suficiente para avisá-la que não pretendia cumprir o que prometeu. Ela pensou nas horas que dedicou preparando a refeição... Idiota, era isso que ela era.
Não teve coragem de comer sozinha e no fim das contas, nem sentia fome. Sentia raiva. Não dele, de si própria, por se importar, por estar chateada. O problema nem era o fato de ele precisar cancelar o jantar, mesmo tendo prometido que jantariam juntos, o problema era ele tê-la deixado esperando, sem dar notícias, sem um aviso, sem nada.

E o pior é que ela se preocupava, queria saber se ele estava bem, se tinha tido tempo de se alimentar, se estava cansado, se chegaria muito tarde, pois ele precisava dormir bem, se preocupava porque sabia que recentemente os tiques do tourette estavam mais aflorados, o que indicava os altos níveis de estresse e ansiedade dos últimos dias, se preocupava porque o amava e queria o melhor para ele.
Agradeceu mentalmente por Larissa e Fred não estarem em casa, ainda bem que os amigos tinham tirado a noite para um encontro, assim ela não precisaria assumir o papel patético que fez ao esperá-lo por horas. Decidiu se recolher e ir para a cama, depois de tudo, não queria vê-lo, não queria ouvir o pedido de desculpas, se é que ele se desculparia, afinal, provavelmente ele nem se lembrou.

Amanda sentia o afastamento entre eles e sabia que em partes era culpa dela, sabia que estava deixando suas inseguranças criarem uma barreira entre os dois, mas como não criar, quando ele claramente não estava tão disposto a estar com ela, como antes.
Parte dela queria culpar Suzzy e sua presença constante, mas do que a mulher teria culpa? De existir? As escolhas de Antônio eram dele e se ele não queria sua companhia, tudo que Amanda podia fazer, era respeitar sua decisão. Ele não tinha obrigação nenhuma de corresponder suas expectativas ou de lhe dar atenção e no final das contas, eles não tinham nada, eram apenas amigos, ele não devia satisfação alguma para a médica.

Deitou na cama conformada, apesar de triste. Se amaldiçoou por dentro por ter deixado que as coisas chegassem naquele ponto. Nunca deveria ter entrado nessa história para começo de conversa, se ela não tivesse cedido ao desejo naquela primeira noite em seu quarto, quando Antônio lhe questionou a respeito de Gabriel, nunca teria descoberto a profundidade de seus sentimentos pelo lutador, mas era tarde demais para se arrepender e de qualquer forma, não se arrependia. Tudo que viveram nesse tempo, foi especial para ela, de um jeito único, mesmo que não tenha sido para ele. Poderia guardar as boas memórias e apenas rezar para que não afetasse a amizade deles.
Amanda não permitiria que afetasse. Guardaria para si os seus sentimentos e então, tudo ficaria bem.

Momentos | DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora