Poderia ter sido

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Antônio

Antônio abandonou a festa apenas alguns minutos depois que Amanda partiu, não havia mais razão para celebrar. Sentia-se devastado com a partida dela, mas compreendia seus motivos, mesmo que doesse e doía mais do que qualquer surra que ele já havia levado.

Levou apenas o tempo necessário para se despedir dos amigos que estavam ali exclusivamente para torcer por ele e que também voltariam para o Brasil no dia seguinte. Foi no momento em que abraçava Tina que a ficha caiu... Ele estaria sozinho daquele momento em diante.

- Foi muito bom te ver, amigo, mesmo com tudo que aconteceu. - Tina disse, enquanto o apertava em um abraço aconchegante. 

- Eu peço desculpas, mais uma vez. Não devia ter duvidado de vocês.

- Está tudo bem, Sapatinho. Você mereceu ser desculpado. - Ela disse, referindo-se ao dia seguinte à festa em que, logo após demitir Suzzy, ele buscou Paula, Tina e Larissa para se desculpar por suas ações e não economizou esforços em um discurso prolongado de arrependimento.

- Eu só desculpei porque você me prometeu que vai me apresentar pro Medina. - Paula se aproximou, rindo. - Parabéns pela luta, Sapato, eu to orgulhosa!

- Obrigado, Paulinha. - Ele sorriu em agradecimento, mas o sorriso não chegava em seus olhos.

- Você sabe que ela vai te perdoar, não sabe? Ela te ama e tem o coração mole. Você conseguiu convencer a Tina e eu que estávamos prontas pra nunca mais olhar na sua cara, com ela não vai ser diferente.

- Nós conversamos antes da luta e o clima até melhorou. Eu pretendia ter uma conversa mais séria quando chegássemos no hotel, ela aceitou, mas foi embora antes disso.

- Pra ser sincera, eu não entendo porque ela foi embora tão cedo. Nós até tentamos convencer ela a ir no mesmo voo que a gente amanhã de manhã, mas ninguém conseguiu fazer ela mudar de ideia. - Tina comentou.

- Acho que ela só precisa de um pouco de espaço. - Paula completou.

- Vocês me fariam um favor? Podem cuidar dela enquanto eu estiver longe? Ela não ficou sozinha desde que aquilo aconteceu e essa vai ser a primeira vez que eu não vou estar por perto, preciso que vocês tomem conta dela e me avisem caso alguma coisa aconteça, eu juro que entro no primeiro avião de volta se ela não estiver bem.

- Não se preocupa, amigo, nós vamos cuidar dela, eu prometo. - Tina respondeu, pousando uma mão no ombro dele em solidariedade.

O trajeto de volta ao hotel foi envolto em silêncio e solidão, uma sensação que ele teria que se acostumar a partir de agora. Ter Amanda ao seu lado constantemente fazia com que ele se esquecesse de quão vazio o mundo se tornava quando ela estava distante. Mesmo que não a tivesse visto nos últimos dias, a simples ideia de que ela estava por perto ou no mesmo país amenizava parte da dor da saudade. No entanto, agora, o sofrimento chegava sem amarras, dilacerando tudo à sua frente.

Agora não havia mais expectativas ou esperança, agora ela não poderia mais fantasiar que ela atravessaria a soleira da porta a qualquer segundo, agora ele estava longe casa. A tristeza o envolvia como um manto, lembrando-o constantemente da ausência dela e da solidão que o aguardava nos dias que estavam por vir.

Entrar em seu quarto de hotel foi árduo, pois sabia exatamente o que o aguardava lá dentro... As lágrimas começaram a brotar em seus olhos antes mesmo de abrir a porta, então Antônio os fechou com força, desejando fervorosamente que tudo pudesse desaparecesse num passe de mágica.

Levou alguns minutos até que a coragem finalmente se manifestasse, permitindo-lhe adentrar o quarto. O arrependimento foi imediato... Lembrar do que o esperava não doeu tanto quanto olhar e imaginar tudo que poderia ter sido. Cada objeto, cada detalhe do ambiente, carregava consigo uma sombra de melancolia, lembrando-o de tudo que não foi dito, tudo que não foi vivido. Ele esperava que aquele ambiente seria o inicio de um novo ciclo, mas agora era apenas uma trágica cena de expectativas frustradas.

Momentos | DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora