36 DIAS DEPOIS
Amanda
Retornar ao Brasil foi tão difícil quanto Amanda esperava que seria, tinha plena noção de que tudo seria diferente dessa vez. Estava habituada a estar perto dele e não, não era como as outras vezes em que ele voltou pra Miami. A relação deles não era igual, por mais que ambos tentassem negar a diferença. Ao menos para ela, não era igual.
Dessa vez, ela sabia que o amava.
Dessa vez, ela estava tentando esquecê-lo.Os primeiros dias foram os mais complicados, tudo lhe remetia a ele. Cada coisa que via, ouvia, interagia, tudo parecia conspirar para trazer Antônio aos seus pensamentos e parte dela gostava disso, por mais torturante que fosse, por mais que a saudade corroesse seu peito... Uma parte dela não queria desistir desse sentimento.
Amar Antônio era bom. A fazia sentir-se bem, simplesmente parecia certo. Se ao menos houvesse reciprocidade, tudo estaria em seu devido lugar. Não precisou de muitos dias para que a médica compreendesse que "desapaixonar-se" por ele seria uma missão impossível. Ela não era capaz. Seu objetivo passou a ser aprender a conviver com o sentimento sem deixar que afetasse a relação de amizade que construíram.
Na primeira semana, Amanda estava decidida a colocar sua vida nos trilhos novamente. Quando deixou o Brasil, tudo estava um caos. Afastada do hospital, insegura em seu próprio apartamento e fragilizada pelo trauma.
Por mais que a experiência em Miami tenha sido, no mínimo, conflituosa, lhe deu a oportunidade de distrair-se do que causava dor. E agora ela se sentia pronta para retomar de onde parou, talvez se não tivesse saído do Brasil, teria levado mais tempo para ser capaz de enfrentar as dificuldades que a rodeavam.Nem ela e nem Larissa tiveram coragem de voltar a morar no antigo apartamento, portanto, ambas ainda estavam sendo hospedadas por Fred, mas decidiram procurar por um novo lugar, onde pudessem se sentir seguras. Entretanto, mudar-se não era um procedimento tão simples assim, levou quase um mês inteiro para que escolhessem o local ideal e ainda precisavam aguardar o término de pequenos consertos para que pudessem finalmente ocupar seu novo lar.
Em sua segunda semana em solo brasileiro, Amanda procurou a direção do hospital e praticamente implorou para que a deixassem voltar antes do prazo. E depois de uma pequena insistência e muita convicção, conquistou seu objetivo, sendo autorizada a retomar suas atividades trabalhistas contanto que seguisse algumas restrições provisórias. Deveria atender apenas em turnos diurnos por um tempo, sua carga horária deveria ser reduzida nas primeiras semanas e nada de plantões. A médica não se opôs, estava suficientemente grata por estar de volta ao lugar que sempre amou.
Embora estivesse feliz por retornar ao trabalho, não pode negar que as vezes sentia-se estranha. Quando estava em companhia da equipe médica, tudo corria bem, mas sempre que ficava muito tempo sozinha em um local isolado do hospital, sentia um arrepio correr em sua espinha. Nunca disse uma palavra para ninguém sobre isso, tinha receio de que a afastassem de novo e ela não podia correr esse risco.
Durante todo aquele mês, usou o foco no trabalho para distrair sua mente. Os amigos de equipe lhe traziam paz, especialmente Vitor, uma grata surpresa que Amanda encontrou ao retornar. Vitor era o novo médico da equipe intensiva, contratado logo depois que ela viajou. Em poucos dias de convívio eles desenvolveram uma amizade muito sincera, eram parecidos em muitos aspectos e ele foi como um sopro de alívio nos dias conturbados da médica, ele era animado, espontâneo e um ótimo ouvinte, além de ter um senso de humor tão duvidoso quanto o dela.
No início de junho, tudo parecia melhor.
Amanda e Larissa estavam acertando os detalhes finais para o novo apartamento que haviam alugado. As coisas no hospital estavam fluindo bem melhor e ela agora tinha autorização para fazer um plantão a cada 15 dias. Mas ainda havia um buraco em seu coração com o formato de um sapato. A saudade era constante e não houve um dia sequer em que Amanda não tivesse dúvidas sobre ter partido.
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Momentos | Docshoe
FanfictionO que acontece quando o amor e a amizade andam lado a lado? É possível amar sem ser amigo? Ou ser amigo sem amor? O que acontece quando uma brincadeira vira algo sério? Quando um flerte vira desejo? Quando um abraço vira um beijo? O que aconte...