Desaparecida

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Antônio

O lutador saiu do banheiro sentindo-se estranho, ele não sabia explicar exatamente o que sentia, mas era uma sensação ruim, quase como uma tristeza repentina que ele sequer sabia de onde vinha, mas que o espremia por dentro. Ele tentou ignorar a sensação de aperto em seu peito e desviar sua atenção de volta ao momento feliz que estava compartilhando com seus amigos, reprimindo a negatividade que parecia querer consumi-lo.

Ao retornar à mesa, porém, encontrou-a vazia. Amanda não estava ali. De início, não suspeitou de nada incomum, presumiu apenas que a médica havia ido ao banheiro também, afinal, sua bolsa e celular ainda estavam sobre a mesa, o que sugeria que, provavelmente, ela pretendia volta logo. No entanto, à medida que os minutos se arrastavam, uma estranheza pairou sobre ele. Cerca de quinze minutos já haviam se passado e a cadeira dela ainda estava vazia.

Antônio se levantou, percorrendo o salão em busca de qualquer informação sobre o paradeiro da loira, mas ela não parecia estar em lugar algum daquela festa. Onde poderia ter ido? Amanda nunca deixaria o lugar sem avisá-lo ou ao menos pedir para que alguém o avisasse. Também nunca deixaria seus pertences para trás. Ela tinha que estar ali... 
Cruzou com Larissa enquanto caminhava de volta até as mesas e aproveitou para questionar a morena sobre o sumiço da médica.

- Lari? - Chamou, capturando a atenção dela.

- Antônio? - Respondeu, parecendo surpresa em vê-lo.

- Você sabe onde a Amandinha está?

- Ué, ela estava contigo.

- Comigo? Não.

- Vocês devem ter se desencontrado, então, ela foi atrás de você.

- Já faz uns quinze minutos que eu sai do banheiro e não vi ela até agora.

- Já olhou no estacionamento?

- Porque no estacionamento?

- Porque tu pediu pra ela te encontrar lá, ué.

- Como assim, Lari? Eu não pedi isso.

- Foi o que ela me disse... - Larissa parecia confusa. - Ela me falou que ia te encontrar no estacionamento, que você tinha deixado um recado com um dos garçons para encontrar ela lá e que tinha planejado uma surpresa ou algo assim.

- Eu não pedi pra ninguém dar recado pra ela. Lari, isso tá muito estranho.

- Não? Mas... Eu até vi o moço conversar com ela... Será que ele avisou a pessoa errada?

- Se fosse isso, a Amanda já teria percebido e voltado.

- Antônio, já faz tempo que ela saiu, porque ela ainda não voltou? - A morena começou a ficar agitada, e o lutador não estava muito diferente.

- Eu não sei, mas nós temos que encontrar ela. - Antônio suspirou. - Você sabe dizer qual era o garçom que falou com ela?

- Claro, sei sim. Vem, vamos procurar ele.

Larissa puxou Antônio pelo braço, arrastando-o junto com ela. Atravessaram o salão em passos rápidos até chegarem à entrada da cozinha, onde encontraram o rapaz organizando algumas bandejas. Ambos emanavam uma tensão quase palpável, a preocupação transbordava tanto dos olhos de Larissa quanto dos de Antônio.

- Oi, você é o rapaz que deu um recado pra Amanda, não é? - Larissa perguntou.

- Sim, senhora. Algum problema?

- Você sabe dizer onde ela está? - Antônio interrompeu.

- Ah... Não, senhor. Eu apenas dei o recado que o namorado dela pediu.

- Eu sou o namorado dela!

- Eu não sei o que dizer, senhor. Eu só dei o recado que me pediram.

- Tem certeza que o recado era pra Amanda? - Lari questionou.

- Sim, a descrição dele foi clara. Amanda Meirelles, a moça loira de vestido rosa.

- Dele quem? Quem te pediu pra falar com ela? - Antônio estava tentando disfarçar o nervosismo, mas seu coração saltava mais rápido do que o sangue corria em suas artérias.

- Ele não se identificou com um nome, apenas me disse que era o namorado dela.

- Você consegue descrever essa pessoa? Onde ele estava? 

- Ele estava do lado de fora, no estacionamento. Eu fui jogar o lixo e ele me chamou, me pediu para dar o recado e se afastou. Era um homem baixinho, de uns trinta ou trinta e cinco anos, pouco cabelo, barba curta...

- Pouco cabelo e baixinho? - Larissa sussurrou. - Antônio... Você não acha que... Não, não pode ser, né? 

- Eu... - Antônio não conseguiu terminar de responder, havia um nó em sua garganta.

O lutador correu em direção a porta dos fundos da cozinha, encontrando o caminho até o estacionamento lotado. A escuridão e o silêncio tornava tudo ainda mais sombrio. Antônio sentia o desespero corroer seu corpo. Percorreu cada uma das fileiras de carros, mas não havia ninguém.

Nada.

Nenhum sinal de Amanda.


Quando chegou ao fim do estacionamento, ele estava suado e ofegante, mas o suor em sua testa era frio, devido ao medo crescente que dominava seu peito mais e mais a cada segundo. Os espasmos em seu peito e ombro começaram a dar sinais, e ele sentia que hiperventilaria a qualquer momento. Sua mente estava inundada de pensamentos dolorosos. Imaginar que Felipe poderia estar com Amanda naquele momento, o fazia tremer.

- SAPATO! - Fred gritou do outro lado do estacionamento, ao lado de Larissa e Antônio foi até eles. - A Lari me contou que a Amanda sumiu, você encontrou alguma coisa?

- Não, irmão. Nada. Eu não faço a menor ideia de onde ela tá, mas acho que sei quem está com ela.

- Você acha mesmo que é possível? - Lari perguntou, e o temor em sua voz era impossível de não ser notado.

- Esse cara não foi preso? - Foi a vez de Fred perguntar.

- Deveria ter sido. 

- Você tentou ligar pra ela? - Fred também parecia tenso.

- Ela não está com o celular.

- Que merda... Você acha que ele é maluco a esse ponto? Como ele ia saber que ela estaria aqui?

- Eu não sei, Fredinho, tudo que eu sei é que eu preciso encontrar a Amanda o mais rápido possível. Eu não quero estragar o seu momento, cara, mas eu tenho que chamar a polícia.

- Esquece o momento, encontrar a Amandinha é a prioridade. O problema é que queixa de desaparecimento é só vinte e quatro horas depois, não?

- Mas não é um desaparecimento, é um sequestro! - Antônio respondeu, sentindo o corpo inteiro tremer e formigar ao dizer isso.

- As câmeras de segurança! - Lari proferiu. - Se tiver alguma imagem do Felipe nas câmeras de segurança nós pelo menos vamos ter certeza do que aconteceu.

Os três voltaram para dentro do salão, indo diretamente em busca da equipe de segurança para ter acesso as filmagens de segurança do local. Antônio se sentia mais e mais angustiado, a sensação em seu peito era esmagadora e crescia a cada instante. Ele odiava essa sensação de impotência, principalmente quando se referia a Amanda. Saber que não era capaz de protegê-la o fazia sentir fraco, acuado e completamente perdido.

Ele não sabia o que esperar das imagens que veria. Rezava para que fosse um mal-entendido, que houvesse alguma outra razão para o sumiço de Amanda ou que ela apenas estivesse distraída em algum lugar da festa. 

Entretanto, havia um aperto em seu coração que lhe garantia o contrário... Como se ele pudesse sentir que ela não estava bem. Era como um mau presságio que, infelizmente, se confirmou quando seus olhos pairaram sobre a gravação na tela do computador.

Antônio ficou paralisado, de pé, dentro da sala de segurança, assistindo Amanda caminhar pelo estacionamento e Felipe surgir ao lado dela. A primeira lágrima escorreu de seu olho quando ele viu Felipe erguer uma arma em direção a ela. 

Seu coração parou quando ela entrou no carro.

Momentos | DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora