Miami

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Amanda

Desembarcaram em Miami dois dias após o showmatch e ficariam por lá até dia vinte e sete, só então voltariam para Nova Jersey por conta da próxima luta, a primeira oficial da temporada. O lutador estava animado para lhes apresentar sua cidade e sua casa. Prometeu diversos passeios, levá-los aos seus restaurantes favoritos, apresentar sua academia e claro, seus amigos.

Amanda estava um pouco tímida no início, era a primeira vez que ia para a casa de Antônio e ele tinha tantas expectativas em relação a estadia dela e dos amigos que a médica temia por não corresponder. E se os amigos de Antônio não gostassem dela? E se ele se incomodasse com alguma coisa? E se ela estivesse atrapalhando sua rotina? Sabia que ele nunca lhe diria caso estivesse incomodado com alguma coisa e era justamente isso que a deixava insegura. Nunca quis ser um peso na vida dele.
Após um tour de apresentação pela casa, foi a hora de se instalar. Antônio insistiu para que Amanda ficasse em seu quarto, mas ela relutou, alegando que não queria tirar a privacidade dele, portanto, ficou em um dos quartos de hóspedes, enquanto Lari e Fred ocuparam o segundo.

Amanda optou por tomar um banho como forma de relaxar e se livrar um pouco da sensação de cansaço pela viagem. Vestiu uma roupa confortável, shorts jeans e uma regata branca colada ao corpo, prendeu o cabelo em um coque e desceu para a sala, na expectativa de encontrar seus amigos.
Se arrependeu da escolha de vestimenta assim que adentrou o cômodo. Não estavam sozinhos, haviam três pessoas desconhecidas conversando alegremente com Antônio, Larissa e Fred.

- Amandinha! - Antônio exclamou alegremente ao vê-la. - Vem aqui, eu tava apresentando o pessoal pra Lari e pro Fred.
- Oi. - Amanda cumprimentou as duas mulheres e um homem que a olhavam.
- Esse daqui é o Lucas, trabalha comigo administrando minhas redes sociais e os conteúdos, sabe?
- É um prazer, Amanda. O Sapato fala muito de você pra gente. - O homem abriu um sorriso largo e amigável, a loira notou que Antônio ficou com as bochechas avermelhadas.
- O prazer é todo meu, Lucas. - Ela respondeu, retribuindo o sorriso dele.
- Essa é a Thay, ela também cuida das minhas redes sociais junto com o Lucas e com a Ceci, mas a Ceci você já conheceu no Brasil.
- Oi, tudo bem? - A mulher ruiva se aproximou e a cumprimentou com um abraço aconchegante e um beijinho no rosto. - Fico feliz em finalmente te conhecer. Você da trabalho pra gente, viu? Sempre que sai uma foto sua com o Sapato, as fãs vão a loucura querendo saber mais sobre você. Vamos providenciar uma conta sua no twitter pra ontem.
- Nossa, me desculpa. - Amanda fez uma careta e Thay riu, com um dos risos mais contagiante que Amanda já havia ouvido.
- Fica tranquila, elas adoram a amiga misteriosa e agora que você está aqui, vamos finalmente poder entregar mimos dos dois juntos e te apresentar pra elas. Se você quiser, é claro. - A ruiva emanava gentileza e Amanda sentiu que se dariam muito bem.
- E essa é a Suzzy, ela faz parte da equipe de gerenciamento das lutas, ela é uma das responsáveis por fechar contratos, acertar os campeonatos, esse tipo de coisa.

A médica observou a mulher em sua frente, diferente de Thay e Lucas, Suzzy não tinha um sorriso nos lábios, mantinha uma expressão neutra, mas Amanda sentiu uma pequena pontada de desdém em seus olhos. Ela era alta, elegante, com cabelos longos e pretos, poderia facilmente ser uma modelo famosa. Ambas eram o completo oposto uma da outra.

- Oi. - Foi tudo que ela disse, com um meio sorriso nos lábios que não transmitia muita empolgação.
- Oi, muito prazer. - Amanda respondeu com simpatia.
- Sapato, precisamos acertar algumas coisas da próxima reunião. - Ela se virou para o lutador, não fazendo questão de iniciar uma conversa mais profunda.

Amanda se aproximou de Larissa e sentou ao seu lado no sofá, ela e Fred já havia engatado uma conversa com Lucas e Thay sobre festas.

- Amandinha, eu tava falando pro Papato e pro pessoal que eu decidi fazer uma festa de aniversário. - Fred contou, empolgado.
- Eu amo as suas festas, Fredinho. Não poderia estar mais ansiosa.
- E eu amo você nas minhas festas, você é presença vip. Ainda espero pelo dia que você vai levar o Paulinho em uma delas.
- Paulinho? Quem é Paulinho? - Antônio perguntou, saindo do outro canto da sala e se aproximando da roda de amigos. Suzzy, que estava conversando com ele até então, veio junto, mas não pareceu feliz com isso.
- Meu Deus, Fred. Não desenterra isso, eu imploro.
- Eu nunca fiquei sabendo da história toda, Amandex. Acho injusto o Frederico saber e eu não. - Lari fez beicinho.
- Mas quem é Paulinho? Eu nunca ouvi falar, era um paquera? - Antônio interrompeu novamente, dessa vez, sentado na poltrona ao lado do sofá, com Suzzy em pé atrás dele, apoiando uma das mãos em seu ombro.
- Ih, olha o Papato com ciúmes. - Fred provocou.
- Você contou pra ele e não me contou, caralho? - Ele fingiu indignação, mas riu em seguida.
- Era o namorado radical da Amandinha. - Fred riu. - Eu diria que foi o amor da vida dela.
- Fred... Não.
- Ah, mas agora eu também quero saber. - Lucas disse.
- Conta, miga. Por favor. - Larissa juntou as mãos como quem suplicava, fazendo Amanda rir e se dar por vencida.
- Quando eu era criança eu era apaixonada pelo cara um cara, assim, no globo da morte, era o Paulinho do Motocross, do circo. - Na primeira frase, Fred já estava rindo descontroladamente. - E eu era criança e falava "cara, eu quero casar com esse cara". Eu tinha certeza, foi minha primeira paixão.
- Ele usava capacete, nunca viu o rosto dele. - Antônio comentou, arrancando ainda mais risadas de Fred e agora, de Larissa que havia se juntado ao namorado.
- Quantos anos você tinha? - Thay perguntou.
- Ah, não sei. Eu devia ter o que? Uns oito?
- Nossa! - O lutador a olhou com a sobrancelha levantada.
- Ué, eu só achava bonito, entendeu? Eu nunca tinha andado de moto. - Ela se defendeu, segurando o riso.
- Achava lindo o capacete dele, todo de bota e a roupa até aqui. - Antônio provocou mais uma vez, usando as mãos para gesticular que a roupa cobria o corpo inteiro. - Ela gostava de uma moto, a famosa Maria Gasolina.
- Eu achava ele radical. Imagina, você é uma criança e vê um cara numa moto rodando no globo da morte? Aí eu menti lá na escola e eu escrevia cartinhas e entregava pro palhaço entregar pra ele.
- E ele? Será que ele recebia? - Lucas perguntou, segurando o riso.
- Acho que sim.
- Mas de onde era esse circo que não rodava o mundo? - O lutador parecia especialmente curioso em relação a história.
- Meu filho, cidade pequena o circo fica até eles conseguirem dinheiro pra ir pra outra cidade, 'cê' entende? Não é cirque du soleil, eu sou acostumada com circo mais rústico. - Respondeu entre risadas. - Foi aí que eu peguei e me apaixonei pelo Paulinho do Motocross, só que eu acho que o palhaço ou ele pegou e resolveu... Ficou com ciúmes, né, com certeza. Recalcado! Ele resolveu me entregar pro pessoal da escola. Aí me chamaram, chamaram minha família, chamaram todo mundo e aí eu não pude fugir com o circo.
- Nossa, vai ver era porque 'cê' tinha oito anos de idade e o rapaz era maior de idade? - Antônio protestou.
- Eles resolveram cortar a nossa história de amor. E ele nunca nem olhou pra minha cara, o Paulinho do Motocross, mas eu sentia que ele sentia a mesma coisa que eu.
- O rapaz com 54 anos de idade e a Amandinha com oito...
- Não, ele era jovem.
- Vai ver o palhaço foi muito sensato na atitude dele. A criança de oito anos de idade escrevendo uma carta toda errada que não dava nem pra ler.
- Eu já era alfabetizada, Antônio. - Amanda ria, enquanto tentava se defender. - E foi isso, a história do meu primeiro amor.

Momentos | DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora