Esperar

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Amanda

A atmosfera impregnada na sala de espera daquele hospital era de absoluta tensão. Não havia uma sequer pessoa ali presente que não se sentisse dessa forma. Até mesmo as pessoas que nem ao menos estavam cientes de tudo que acontecera, não podiam evitar sentir-se tensas ao encarar a mulher loira sentada e imóvel por horas.

Tudo estava silencioso, salvo os ecos de passos apressados e o som distante de aparelhos médicos. Enfermeiras se entreolhavam e encaravam Amanda discretamente, lamentando por ela em silêncio, mas ninguém ousou falar com ela, talvez porque palavra nenhuma pudesse oferecer conforto num momento como aquele ou talvez porque tudo fosse cruel demais para se lidar e o simples fato de mencionar em voz alta parecia tornar ainda mais real.

Amanda não sentia o próprio corpo, não sentia nada. Também não escutava nada ao seu redor. Mal podia-se dizer que estava viva. Seus olhos se perdiam na arquitetura fria e branca do ambiente até embaçarem o suficiente para que as imagens se desfizessem e sua mente divagasse para longe dali.

Seu corpo havia simplesmente congelado no momento em que se sentou e viu a maca de Antônio ser arrastada às pressas por paramédicos e enfermeiros. A única notícia que havia recebido desde então era "eles estão no centro cirúrgico".

Entre as quatro pessoas presentes na casa, Amanda era a única sem ferimentos físicos, já que Antônio e Suzzy haviam sido baleados e Felipe havia sido atingido pela polícia durante a invasão. Em compensação, a dor que inundava seu peito naquela salinha abafada, definitivamente, doía mais do que um tiro.

Sua mente revivia repetidamente o pior momento de sua vida: Os olhos de Antônio a encarando uma última vez antes de se fecharem. Ela viu o brilho se esvair daqueles grandes olhos castanhos, sem que pudesse fazer nada. O som do tiro ressoava em seus ouvidos como um eco doloroso.


- Amandinha? – Fred chamou, fazendo-a despertar de seu transe. – Te trouxe um copo de água.


A médica pensou em negar, mas quando abriu a boca para recusar, sentiu a garganta arranhar e sua voz não saiu, então ela simplesmente pegou o copo.

A pele repuxou e ardeu quando moveu o braço, o sangue que a cobria, agora estava seco. Amanda olhou para as manchas em suas mãos e se lembrou mais uma vez de onde elas vinham. Seu corpo tremeu, como um espasmo, ela fechou os olhos com força. Sentia-se fraca, vulnerável e perdida.

Percebeu a mão de Larissa repousar em suas costas, mas ela não tinha coragem de encarar a amiga, afinal, sabia que tudo aquilo era culpa sua.

E nunca se perdoaria caso Antônio não saísse vivo daquele hospital.


- Quer que eu te leve pra casa? Pra tomar um banho e trocar de roupa? – Fred ofereceu, tentando manter um tom tranquilo, mas a aflição saltava de sua voz. Amanda apenas negou com a cabeça e o rapaz não insistiu. Sair dali não era uma opção. Não deixaria aquele hospital sem Antônio.

- Amiga... – A voz de Lari surgiu num sussurro trêmulo. E como se pudesse ler a mente de Amanda, murmurou: – Nada disso é sua culpa.


Foi o estopim para que as lágrimas ressurgissem, dessa vez, sem discrição. Amanda chorou. Um choro alto, repleto de soluços e tantas lágrimas que faziam os olhos dela arderem. Os braços de Larissa a envolveram e ela se entregou no abraço, permitindo-se desmoronar no ombro da melhor amiga.


- A mãe dele já sabe? – Perguntou aflita.

- Sim, o voo da Dona Wilma deve estar quase pousando uma hora dessas.

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