Morte além do túmulo

70 9 160
                                    

          Há dias que Tresham vinha caminhando de uma cidade para outra, acompanhado por aquele que lhe pagava por seu serviço. Caminhadas árduas, de longevidades surpreendentes, passando por desertos, florestas e cidades ocultas do mundo agreste. A jornada parecia jamais acabar. Para os confins do oeste marcharam, para as montanhas e colinas acima, subindo sempre quando se acreditava não haver mais para aonde ir. Para o isolamento completo eles foram, até enfim um dia encontrarem o destino.

          A dianteira de um castelo se fez à frente de seus olhos. Os muros enormes e cinzentos, protegidos com soldados em suas pontas, vestidos de armaduras avermelhadas. Espadas, arcos e lanças eles seguravam em suas mãos, aljavas eles prendiam às suas costas, e com elmo eles protegiam seus rostos.

          Tresham era veloz, os pulmões mais fortes que um trovão, e por isso chegou ao castelo antes que seu próprio guia de viagem. Os soldados, assustados com sua presença corpulenta, fartaram os olhos e apontaram as flechas em sua direção.

          — Alto lá! — exclamaram-no. — Não se aproxime, Ó besta horrenda!

          Mas Tresham nada os disse. Seus olhos analisaram a periférica, e nada mais.

          De repente, o seu companheiro de viagem lançou-se à sua frente para protegê-lo e entoou aos soldados:

          — Senhores, acalmem-se. Sou eu um morador dessa casa, e este homem está comigo.

          — E quem és tu, pois, para partir e retornar sem que o reconheçamos?

          — Sou um dos soldados que vossa majestade enviou a leste para que trouxesse ajuda. E agora, digo, eu o trouxe.

          — Quem é esse ao teu lado?

          — Tresham, o Matador de monstros...

          E exclamaram baixinho, os soldados, um para o outro:

          — O Demônio da Água Negra...

          Para o vento seu nome a cada dia era voado, para os confins longínquos da sua ordem natural. Não era aquele o destino da sua sina, e por mais de uma vez repensou se deveria prosseguir.

          — Nossa majestade vem procurando por ele  — o guia os continuou.— E agora o encontro. E o trago para as suas portas. Permitam-nos entrar.

          O capitão, ao cume da muralha, pesou o que ouvira, em silêncio. Depois se virou para seus homens e os ordenou, hesitante:

          — Abram os portões!

          O castelo encontrava-se no início de uma montanha, que depois descia e deslizava para uma floresta de uma outra extensão daquele mundo. Tresham e o homem estavam numa ponte que ligava caminho do castelo com a montanha ao outro lado. Era dia, nessas horas o sol vinha com força em seu brilho. Porém, o vento que lhes soprava era tempestuoso de fazer os soldados tremeram os joelhos, a capa de Tresham dançar ao ritmo da ventania, seu capuz ameaçar saltar para fora da sua cabeça. Os portões se abriram, e com o vento o ressoar da ferrugem ecoou.

          No interior do castelo, soldados os esperavam com aquele tom ríspido de desconfiança. Os dois viajantes agora entravam no reino e os portões voltavam a se fechar às suas costas em um estrondo ainda mais trovejante.

          — Esperem-nos no pátio — dizia o capitão.

          Seu companheiro entrou primeiro. Tresham em seguida, sempre atento a cada detalhe.

          O interior do castelo era escuro — mais ainda quando fechados os portões — a única iluminação era a feita por tochas de fogo presas nas paredes, aos montes pelos corredores, dançantes em suas chamas azuladas de brilho mágico. Um dos soldados os apontou para o lado e os disse que seguissem os corredores, e os forros de metal escarlate em seus dedos refulgiram púrpuros pelo reluzir das chamas.

As Viagens de Um Vagante PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora