Capítulo 4

87 9 105
                                    


          Ao reluzir da alvorada seguinte, Tresham andava por todo o palácio dizendo aos soldados o que deveriam fazer, pois uma batalha se aproximava, e se armar precisavam.

          — Coloquem arqueiros ali, ali e ali também — ele apontava. — Mortos vêm sempre de maneira desastrada. Quando atacarmos, se realmente for vingança a razão do confronto, virão para o reino na menos esperada das horas. Coloquem homens nas laterais dos corredores também.

          Mas houve um soldado que, dentre todos não tanto temeu da sua fúria, e sentiu forças para indagá-lo. E disse:

          — Se todo esse confronto realmente nos surgir, acha que o senhor, não duvidando da força da vossa capacidade, mas da força de minha crença, de fato conseguirá encontrar o líder de todos eles e matá-lo?

          Tresham orgulhou-se de sua pergunta, e respondeu:

          — Estamos caçando pela Morte, soldado. E não há coisa mais fácil de se encontrar do que a morte. Para encontrá-la, basta seguir o rastro de mortos.

          E, após isso, nenhuma pergunta mais o foi feita.

         Mais soldados vinham sempre chegando para perto, todos de ouvidos atentos aos seus comandos. O guerreiro era frenético com as instruções, e jamais via-se repetindo o que dissera há pouco. Seus olhos encontraram o rei e ele o expressava seu ódio inflado.

          Foi só o dia amanhecer e os exércitos se encontravam diante da floresta, à frente dos portões traseiros do reino. Tresham tomava à dianteira, imponente como era. Mas nem todos estavam ali. Quando olhou para a varanda do epílogo do reino acima, visualizou o rei, ali, em conforto, vislumbrando seu exército como se o compusesse de alguma maneira; ele os encarava com um vislumbre sórdido, tomando uma taça de vinho. Tresham voltou a olhar a floresta com pupilas num tom fraco de vermelho, em fúria; pois um rei que não lutava suas batalhas não era, para ele, um rei de verdade.

          Mas não era instante para pensamentos. Ele apanhou a espada e saiu caminhando para o interior da floresta. As poucas dúzias de soldados que ali havia, seguiram-no, também empunhando lanças, espadas e machados. E o rei tomando seu vinho como se nada acontecesse.

          O sol batia forte por aquele horário, seu brilho atravessava as frestas do matagal alto e da folhagem das árvores que se abraçavam para se fazerem de teto. Os animais menores corriam e voavam para longe dos soldados de temor pelo que poderiam lhes fazer, enquanto os homens tinham medo de qualquer sussurro que o vento ecoasse. Tresham sabia que uma quantia significativa de soldados traria a atenção dos seres que moravam ali, e para isso os levava consigo. O som de árvores andando novamente ecoou, e só aumentava.

          Ao cruzarem a linha da margem em que a escuridão se dava em início e a luz, minguante em seu poder, a floresta foi se tornando cada vez pior; decrépita e espantosa. A luz do sol já não chegava com a mesma força. As árvores eram todas negras incluindo a folhagem, e nelas não havia frutos. Um horror por elas pairava. Um zumbido chato ecoava mais forte a cada passo que davam para frente, com um assovio de um vento que também já não era mais vivo. Andaram por muitos metros avante, e alguns dos soldados mais jovens já não saberiam voltar para casa sozinhos.

          Viram movimento entre os arbustos, então, e prontificaram-se em ataque. De repente centenas de animais pequenos começaram a passar por entre suas pernas, animais vivos, que não corriam em força de ataque, mas fugindo de algo que não sabiam o que era. O chão tornava-se um tapete deles, tantos eram, e tiveram que ficar parados, os soldados, para não pisarem em nenhum. Havia coelhos, cobras, ratos... inúmeros de inúmeros. Até que se acabaram de repente, como se todos da floresta tivessem partido para longe. Ninguém dizia nada, todos se calavam pelo temor, um silêncio recaiu sobre a floresta e não era bom.

As Viagens de Um Vagante PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora