O tão desejado essência de unicórnio foi trazido para Tresham, enfim; pelo mesmo anão de há pouco, sem que sequer se desse conta da sua saída. O guerreiro o tomou direto do gargalo, em goles tão grandes que fez o homem, à sua frente, questionar a sua origem.
— Você não é um humano, não é? — ele perguntou.
No que Tresham terminou o seu quinto gole, e o respondeu, já um pouco menos amargo por conta da bebida:
— Eu pareço um humano para você?
— Oh, não... Com certeza não. Se ser humano fosse sinônimo da sua aparência e tamanho, então eu seria o pior dos humanos, isso posso afirmar. Mas como não é... considero-me abençoado.
O homem bem que tentou ver o que havia embaixo da sua máscara enquanto Tresham tomava a sua bebida — e, para isso, erguia centímetros minuciosos do pano — mas nada soube ver; o mistério do seu rosto não somente não explicado, como ainda mais inflado.
— Por que essência de unicórnio? — depois o perguntou, após breve silêncio. — Não julgando, mas quando vejo um homem, ou seja lá o que você for, do seu tamanho e força, não é em unicórnios que eu penso. Imaginei que fosse tomar algo mais denso, mais trevoso, como... essência de dragão ou de... de... trolls, entende?
Tresham tomou mais um grande gole, e depois o disse:
— Essas essências que você fala são ácidas demais. De dragões, trolls, lobos... São boas para momentos alegres, para nos amargar e nos fazer lembrar que a vida é dura e perniciosa.
— E as de unicórnio?
— São doces. Certas para momentos tristes, para nos fazer lembrar que a vida também pode ter um pouco, ainda que quase nenhum toque, de alegria.
— Oh, então vasta deve ser a sua tristeza para tomar goles assim tão grandes...
Tresham o respondeu não com palavras, mas com o olhar. Não era preciso ser um leitor de mentes para conseguir entender que ele afirmava o que havia sido dito. De repente, o homem se apiedou dele ao percebê-lo, e não sentia mais medo. E disse:
— Peço desculpas pelo modo com que o tratei há pouco. Você só quis me ajudar e fui estupidamente rude. É que eu queria tanto aquela amalacã e foi difícil para mim perdê-la, e quando estou com raiva... Ora, me perdoe.
Tresham o olhou, em silêncio... Depois tomou um gole da bebida... E nada disse... Era a sua maneira de aceitar suas desculpas. Permitir que um silêncio constrangedor pairasse sobre eles a cada frase ressoada era um conforto para a sua vida. Uma quietude, porém, que assolava o coração do homem e o inquietava; pois ele não parecia ser homem que suportasse silêncio.
— Como disse que se chamava mesmo? — ele perguntou, então. E tomou um gole de rum do seu caneco de ferro.
— Tresham — foi-lhe respondido. Seu vozear ainda mais grave e aterrorizante agora que tomava daquela bebida tão mística.
— Ora, Tresham... Eu sou Jonathan. Prazer em conhecê-lo.
Tresham não o devolveu a cortesia, mas também não a recusou. Antes, tomou mais um gole da sua bebida em silêncio, na sua maneira típica de demonstrar que concorda.
— Parece ser alguém de muitas aventuras, Tresham. Seu subtítulo, digamos assim, é mais do que uma prova disso. Demônio da Água Negra — então saboreou. — O que significa, se é que posso perguntar?
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As Viagens de Um Vagante Perdido
Fantasy"... Seus olhos eram afiados, seu coração era mistério. Para o além dos mares e das terras ele marcha, sem ninguém jamais saber para onde vai. Uma espada à cintura, poções ao cinto, uma máscara ao rosto, e um oceano de monstros a matar. Uma sombra...