Capítulo 5

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          Alguns metros adiante houve o término de sua labuta em forma de um penhasco. Estava em seu epílogo, e os monstros escalavam a montanha para encontrar-se com os vivos em batalha. E saltavam sobre Tresham a cada novo respirar. Então ele se lançou da montanha e como rocha meteórica se fez arrastar a mão na parede para alerdar a queda, quebrando montículos de pedra que garoavam — e depois tempesteavam — ao seu lado sobre tudo o que jazia abaixo deles. Assim, enquanto caia seu corpo prosseguia chutado e golpeando a imensidão de soldados semi-mortos que, como aranhas, escalavam a face do abismo. E às centenas ele os fez cair. Um longo passeio fora aquele, pois largo era o penhasco. E a sua capa, dançando com o vento e a sua capa se sujando pelas névoas de areia seca emanadas dos destroços da face de pedra.

          Mas dentro solo ainda jaziam muitas das bestas roçadeiras, e algumas mãos começaram a sair da parede tentando lhe apanhar. Porém rápido caia o corpo vasto, e velocidade tamanha que as mãos eram decepados pelo seu peso e jamais conseguiam lhe segurar. E por assim se perdurou a queda até que, a polegadas consideráveis de atingir o solo profundo, ele saltou para frente, rodopiou no ar e caiu de pés firmes sobre o chão, e por uma vez mais voltou a correr pela floresta, abaixo da altitude do reino.

          Ainda estava numa floresta, só que numa parte muito mais inferior, e o vento era menos severo, e havia maior penumbra sobre as árvores e as gramas pretas. O cheiro de morte também se alastrava com maior vigor. E a escuridão era vista por todos os cantos, estranho, pois, sendo, encontrar qualquer semelhança de faísca de qualquer cor do mundo imaginado ou não que não fosse cinza ou preto pútrido. As árvores se contorciam em agonia, como se torturadas, e seus galhos pendiam pontas afiadas e moldes de espinhos. O chão era coberto de folhas secas que estalavam um barulho gritando ao serem pisadas, e o terrível som de moscas batendo as asas em volta dos corpos putrefatos.

          Os inimigos pararam de vir por um instante, o que, mais que qualquer outro som, o fez perturbado. Mas os sussurros das vozes mortas voltaram a se predominar entre as matas, e Tresham caminhava olhando para todos os lados com extrema atenção, brandindo a espada entre seus dedos firmes, à espera do ataque do além.

          E eis que o esperado o acontecera, e uma horda dos semi-mortos — soldados e animais — surgira correndo para fora das matas e para fora do próprio solo tão rápido quanto um piscar de seus olhos. Mais uma vez teve ele que prosseguir golpeando; os pedaços de carne e gosma fatiadas respingando para todos os lados sem fração de pausa. Pois estes que agora o vinham eram maiores e mais fortes, pois eram os guardas do covil do seu líder. Estava perto de encontrá-lo, ele farejava. E vinham todos ao mesmo tempo.

          Naquela região, ao menos, as árvores eram por total despidas de flores e o sol conseguia se infiltrar com maior esplendor. Então seu brilho descia do céu e batia sobre as armaduras dos mortos, e fulgor prateado resplandecia sobre todos. Um reluzir contraditório com a imagem atual da floresta, tão decrépita e sem brilho. E o vento cuspindo-os, uivante, com um terror sussurrante piorado.

          Tresham era vigoroso em seu combate e lançava das suas poções contra eles, daqueles pequenos frascos que trazia em seu cinto, já aminados na quantidade por conta da jornada antecedente. E assim os frascos eram jogados contra o chão e fogo emergia deles e sombras de explosões, desmembrando alguns dos mortos que, ora, já vinham pendendo pedaços por toda a floresta; e os que não explodiam ao menos eram devorados por um incêndio corrosivo em seus corpos, e uma pequena parcela os endurecia feito pedra. Um rastro de corpos era deixado por onde o guerreiro caminhava, mas os mortos não morriam por meros ataques, e continuavam correndo ainda que por vezes sem a cabeça, ou braços, ou pernas, ou qualquer outro membro que ainda os restasse. A muitos Tresham desceria golpes que lhes arrancassem os braços para imobilizá-los de armas, porém embebida em fúria vinham, e correndo prosseguiam, nem que tivesse de empunhar lâminas com os próprios dentes. E em tamanho intento também faziam quando não mais se provinham de pernas, e se arrastavam pelo solo fazendo das mãos os novos pés.

As Viagens de Um Vagante PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora