Já era o almoço do dia seguinte mas os pais de Wednesday seguiam em choque. A filha —que mal ficava na sala de estar— de repente havia saído de casa e demorado para voltar, por outra direção. Além disso, ela não tinha dito nada, nem mesmo no jantar, e havia deixado que os pais a abraçassem quando ela chegou —visto que percebeu a preocupação que causara com sua impulsividade. No entanto, os adultos não queriam perguntar, preferiam que ela contasse por vontade própria.
E ela sabia disso.
— Vocês conhecem os Sinclair? —Perguntou de repente, quase conseguindo os assustar— Eles moram na rua de trás, seguindo um pouco pela esquerda.
— Oh, sim! Murray e Esther junto com os quatro filhos. Chegamos a recebê-los quando chegaram na vizinhança.
Wednesday assentiu, mesmo sem saber se os fatos procediam. A garota de olhos azuis aparentava ter jeito com crianças tanto quanto tinha com Cherry.
— Eu caminhei com ela ontem. A Enid.
Eles arquearam as sobrancelhas e se entreolharam.
— Não sabíamos que vocês eram amigas.
— Não somos. Acho que por isso foi um pouco mais fácil. Sabe, aparentemente ela não me conhece e também não sabe do que aconteceu no ano passado. Não precisei responder perguntas cuidadosas e planejadas sobre os meus sentimentos ou recebi olhares de pena. A pressão era menor.
— E como exatamente aconteceu?
— Nós basicamente andamos, lado a lado e em silêncio, com a cadela da vizinha dela. Sentir ar fresco em um ambiente diferente fez bem. Além disso, era como se... estivéssemos sozinhas, só que juntas. Céus, isso nem faz sentido.
— Nós entendemos, querida. E estamos muito felizes por você! —Morticia exclamou— Foi a primeira vez que se viram?
— Para ela sim, mas eu a observei passar por aqui todos os dias úteis da semana anterior.
— Se ela vier hoje, você poderia tentar sair de novo —Gomez sugeriu enquanto Morticia concordava com a cabeça— O que acha?
— Pode ser que sim —Respondeu com simplicidade, mas fora o suficiente para deixá-los esperançosos.
— Então gosta dela?
Wednesday abriu a boca para responder mas interrompeu-se. Ela tinha gostado da companhia da garota, ela era bonita, mas se respondesse positivamente seus pais teriam uma impressão um tanto equivocada do que ela realmente gostaria de expressar.
Só que o silêncio soou quase como uma afirmação.
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Enid havia passado a noite anterior quase inteira pensando na garota de cabelo trançado. Estava curiosa, com certeza, várias bases de lacunas surgiram em formato de dúvidas, mas faltava o desenvolver: Notoriamente as íris castanhas eram repletas de nervosismo e dor —ao mesmo que sua fisionomia mantinha-se apática, o que era, no mínimo, interessante— porém não sabia o motivo exato disso —ou dela ter decidido acompanhá-la, sendo que nunca conversaram antes. Céus, ela sequer sabia o primeiro nome da outra. E só sabia o sobrenome por uma vaga memória mencionada por seu pai e alguns conhecidos —por ser uma família influente— porém decidira não se aprofundar demais já que, na época, sentia algo extremamente melancólico rodeando-os.
Mas agora pretendia descobrir.
Quando sairia de casa para buscar Cherry, ouviu Zachary e Isaac a chamando.
— O que aconteceu? Vocês parecem agitados.
— A Lucy não tá bem, Nid. Vem ver!
Enid prontamente deixou suas chaves de volta no suporte e subiu com os meninos. Quando entrou no banheiro, viu sua irmã caçula sentada no chão e chorando de frente para o vaso sanitário sujo do que provavelmente era o seu almoço.
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Caminhar • Wenclair
FanfictionEnid precisava arrumar dinheiro. E rápido. Então, começou a levar a cadela da sua vizinha para passear depois da aula. Todas as vezes ela passava na frente da casa de Wednesday, que por sua vez ficava a observando pela janela. Um dia, ela decidiu se...