46.

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Aproveitando que era intervalo e os amigos estavam ocupados com preparativos para a formatura e o final do ano letivo, Wednesday lia O pequeno príncipe no Quadrilátero. Era um dos livros favoritos de Enid então, já que suspense, terror e quaisquer histórias que a deixassem minimamente agitada estavam suspensas por hora, decidiu dar uma chance. Para sua surpresa, estava genuinamente gostando, refletindo, e a Sinclair amando ouvir sobre e ter suas reações em primeira mão, o que só a incentivava a continuar.

— Esse livro é ótimo —Xavier apontou enquanto chegava e ela concordou, sem nem tirar os olhos da folha— Só não acho que você leria por conta própria.

— Não que eu me importe, mas por que diz isso?

— Você não parece uma pessoa que reflete sobre a vida do jeito que ele induz.

— De fato não costumo, mas estou ampliando os meus horizontes.

O garoto assentiu, sentando-se ao lado dela.

— "Para nós, que compreendemos o significado da vida, os números não têm tanta importância." —Xavier citou um trecho e só então Wednesday o encarou— Da primeira vez que li era muito pequeno e não entendi direito, mas depois me ajudou muito. Por exemplo, decidi que vou tentar o meu curso dos sonhos ao invés do que supostamente garante que eu vá ganhar bem.

— Inspirador —Limitou-se a falar, não muito interessada.

— Bastante. E hoje também tenho em mente que a quantidade de tempo não é tão importante quando você aproveita da melhor forma possível. Parei de ter tanto medo do amanhã e passei a viver um pouco de cada vez.

A Addams travou o maxilar. Sabia onde ele queria chegar.

— Você já pode ir? Estou no meio da página e o sinal logo vai soar.

— Eu vou, mas antes queria aproveitar que te achei sozinha e pedir desculpas pelo outro dia.

— Aceitas, mas não o farei de volta pelo soco. Seriam vazias, pela ausência de arrependimento.

O menino riu.

— Tudo bem, eu também não me arrependeria no seu lugar. Ainda mais pelo nosso histórico.

— Então o que você espera de mim, exatamente?

— Apenas perdão, garanto. Inclusive pelo que aconteceu com o Pugs. Sei que não houve exatamente um culpado mas eu insisti apesar das condições perigosas e ainda te machuquei outras vezes, mesmo sem querer, ao te trazer de volta à esse assunto. Então, pela última vez, eu sinto muito, Wednesday. Por tudo.

A garota de olhos castanhos demorou um pouco para responder, absorvendo o que ouvira. O sentimento era bom, uma mistura de satisfação com um pouco de, enfim, paz. Portanto, naquele momento, decidiu deixar-se levar.

— Por muito tempo eu te culpei. Por ser infantil e assim ter supostamente acabado com uma das únicas coisas que eu prezava. Mas a verdade é que não foi sua culpa. Nem minha, por não ter conseguido salvá-lo. E nem de mais ninguém, pela situação ter passado despercebida —Confessou e ele assentiu, focado em cada palavra e sentindo-se um tanto chocado pela sensibilidade ali exposta— Você errou, Thorpe. Não pensou nas consequências das suas ações e escolheu momentos ruins para tentar resolver. Mas isso significa que você é humano. Ter reconhecido o seu erro, se arrependido e buscado melhorar, vale muito.

— Muito obrigado por entender. E por ter dito tudo isso. Quer dizer que to perdoado? —Questionou esperançoso e ela assentiu genuinamente— Sério? Estamos bem mesmo? —Animou-se. Havia achado que teria que argumentar muito mais para obter aquele resultado.

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora