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Se alguém disse alguma vez já foi dito que o amor é um bom curativo para a alma mas também deixa as suas próprias cicatrizes: estava certo.

A sexta-feira passara rápido, nem parecendo ter vinte e quatro horas. Wednesday, Enid e Fester, que estava de folga no trabalho, cozinharam juntos, conversaram e até jogaram cartas —em que na última rodada tiveram que deixar a Sinclair ganhar para que ela não ficasse tão triste. À noite, após uma longa despedida de Fester, fazendo-as prometer que voltariam logo, as meninas pegaram a estrada.

No sábado, a Sinclair ficou com irmãos, Yoko, Divina e Ajax em casa, contando tudo o que acontecera durante os últimos dias —ou quase tudo, tinham crianças na sala. Enquanto isso, na rua de trás, Wednesday passara a tarde com Tyler, Eugene e os pais. Havia sido ótimo, as duas reconheciam, mas custou que não se falassem e a mudança brusca fazia Enid virar de um lado para o outro na cama —na medida do possível— sem conseguir nem piscar prolongadamente. Gostava de saudade quando não a deixava como uma criança mimada e birrenta. Enid nunca fora apegada à nenhuma companhia. Amou estar com cada pessoa importante que passou pela sua vida, sentia saudades quando não conseguiam se ver e até ficava triste por alguns dias quando brigas aconteciam, porém soava diferente. Era como se estar com Wednesday fosse seu estímulo para qualquer situação. Tudo o que precisava era ouvir a voz dela, no mínimo.

E então ela teve uma ideia.

A garota de olhos azuis levantou cuidadosamente da cama, tentando não acordar ninguém, pegou o celular em cima da cômoda e andou até a escada de sua casa, ligando para o contato:

Oi, cara mia. Tudo bem? —Questionou com a voz sonolenta enquanto atendia, o que Enid achou amável.

— Te acordei, mon cher?

Sendo sincera, sim. O que aconteceu?

— Nada. Desculpa. Volte a dormir —Disse sentindo-se um pouco culpada agora que pensara no que acabara de fazer.

Não! Estou ouvindo.

Por um segundo, a Sinclair ficou em silêncio, mas enfim suspirou e confessou com toda fragilidade que poderia:

— Já to com saudade.

Wednesday sorriu do outro lado da linha.

É mesmo?

— Sim. Desaprendi a dormir sem o seu cheiro. E o seu abraço. E os seus beijinhos.

Enid Sinclair, não me faça querer sair de casa às duas da manhã.

— Se meus irmãos não estivessem dormindo comigo, eu já estaria na sua porta agora.

Espera, por que seus irmãos estão dormindo com você?

— Ficaram com saudade e agora tem quatro pessoas dormindo na mesma cama. Foi um sacrifício sair de lá pra te ligar.

A Addams riu. Enid sentiu borboletas com o som e imaginando como as covinhas dela estavam evidentes no momento.

Estou feliz por ter ouvido a sua voz.

— Mesmo que eu tenha te acordado no meio da madrugada só pra isso?

Na verdade, essas pequenas coisas, que expressam a sua singularidade, me encantam.

— Você fala bonito até com sono. Tenho um fraco por mulheres inteligentes.

Mulheres, hm? No plural? —Fez drama.

— Sim. A minha Willa, a Wed, a Wednesday e a filha da Morticia Addams.

Quanta concorrência!

— Que nada, são todas minhas namoradas.

Boba.

— Lá no fundo você gosta.

Pode ser que sim —Brincou enquanto se ajeitava na cama— Almoça comigo amanhã?

— Eu amaria, mas não tem como. Prometi aos meus irmãos que comeríamos cedo e iríamos no parque.

Janta então?

— Só se você dormir comigo depois.

Não vão caber cinco pessoas na sua cama.

Enid teve que tampar a boca para não rir alto e depois rebateu:

— Depois a boba sou eu.

Você quem me contaminou, mas também estou bem assim.

— Então você ainda me ama? —Perguntou repentinamente.

Como... Que tipo de pergunta é essa?

— Responde! —Exclamou, tratando como se fosse uma brincadeira.

É claro que eu te amo, Enid.

— Enid? Não me convenceu.

Eu te amo, cara mia. Muito, aliás.

— Eu também te amo. Boa noite, Willa —Desejou e desligou a chamada, já tranquila para dormir.

Do outro lado, a Addams pensava com o coração aquecido. Também nunca fora apegada à ninguém além do seu irmão, e até jurava que não seria mais por conta de tudo o que passou, porém estava feliz com a decisão que seu coração tomou de contrariar sua mente, seus medos. Estava em boas mãos. Com uma pessoa linda, engraçada, inteligente, esforçada, uma obra de arte, ela pensava. Cogitar perdê-la embrulhava o seu estômago.

"São pequenos detalhes, pequenos gestos, pequenas ações no dia a dia, que nos mostra quem é quem, cabe a nós querer enxergar.
Muitas vezes devemos ouvir nossa razão racional(mente), pois nem sempre o nosso coração nos leva ao caminho certo, pois ele é irracional, ele só sente, e a vida não é só sentimentos." — Dias, Léla.

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Olá, seres.

O que acharam?

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora