10.

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Após um final de semana agonizante, Wednesday esperava ansiosamente Enid passar com Cherry. Não sabia como pedir desculpas por uma suposição tão agressiva —na verdade, não sabia pedir desculpas no geral— mas depois de muito pensar decidiu que tentaria.

Não enxergava a Sinclair com maus olhos, porém estava tão acostumada com decepções que decidiu arriscar o pior e acabar com as dúvidas de uma vez. O tipo de ação geralmente não a deixava orgulhosa, mas ela não contava que desta vez seria pior. Ou seja, que passaria dos limites, ouviria Enid dizer com tanta facilidade que gostava dela, mesmo daquele jeito, e ainda terminaria o dia sentindo-se uma completa idiota por ter magoado uma das únicas pessoas que, no momento, a faziam se sentir segura e viva novamente.

Logo que viu o mínimo movimento na rua, saiu, dando de cara com Enid. Diferente do habitual, a mais alta sequer parou. Nem mesmo para um momento de contato visual. Estava prestes a passar reto, como ae fosse uma casa qualquer, quando Wednesday andou rápido e a alcançou.

— Tem um instante?

— Se eu disser que não e continuar andando, porque estou chateada, vou confirmar a sua teoria de que era só uma enxerida?

— De forma alguma. Você tem todo o direito de estar brava. Se quiser, posso voltar pra casa e conversamos quando estiver disposta.

Enid respirou fundo e parou. Apesar do seu estado de humor, detestava assuntos pendentes. A deixavam ansiosa e, neste caso, chateada. Querendo ou não ela ainda gostava da garota de olhos castanhos e até estava sentindo falta da presença sutil em sua vida. Então, virou-se para ela e falou:

— To ouvindo, Addams.

Okay, eu mereço, Wednesday pensou enquanto engolia a indignação pelo vocativo.

— Eu... Não sou boa com isso. Peço paciência. E sem interrupções.

— Wednesday...

Me desculpa, Enid. A intenção era realmente saber se não havia nenhum interesse seu no meu passado, não estou acostumada com coisas tão boas quanto você aparecendo de repente na minha vida, mas reconheço que não é exatamente um bom motivo e que passei dos limites. Eu sinto muito.

A Sinclair se esforçou para manter sua expressão o mais apática possível. Não queria sorrir só porque era gostoso para o ego ter alguém que todos têm medo e veem como uma rocha expressando arrependimentos e quase implorando por perdão, mas porque ali era só a Wednesday, a garota que de repente começou a caminhar com ela simplesmente por companhia; Que tem um coração, um lado menos racional —mesmo que por baixo de uma grossa armadura que expõe; Que tem medo de altura e só confessa quando precisa que segurem a sua mão; Que faz de tudo por um amigo verdadeiro e sente muito, como qualquer pessoa.

— Poderia só ter me perguntado.

— E você poderia ter mentido —Rebateu no automático— Quero dizer...

— O que mais eu tenho que fazer pra você confiar em mim?

Wednesday tirou um minuto para pensar. Enid desde o princípio havia sido gentil —apesar de toda a sua arrogância, um livro aberto —mesmo com todo o seu mistério— e tinha cuidado dela em diversos momentos, independente do motivo e às vezes sem nem saber disso. Eram provas mais do que suficientes, reconhecia, mas seu medo era irracional. E agora ela queria provar isso.

— Na verdade, acho que agora é a minha vez. Eu só não sei exatamente o que ou como, precisei de dois dias pra te pedir essas desculpas, mas se fosse ao contrário a minha confiança estaria abalada. Não vejo motivos pra sua não estar.

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora