13.

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— E os seus amigos? Chegou a vê-los? —A psicóloga perguntou após ouvir Wednesday contar sobre Thing e como Enid, que estava com ela no dia que decidiu querer adotá-lo, havia a surpreendido ao aparecer em sua casa com ele poucos dias depois.

— Sim. Ontem. Avisei que poderiam aparecer por lá ainda essa semana e foram logo no dia seguinte.

— Isso é ótimo! Como foi?

— Até que bom. Eles conheceram o Thing e me trataram com maior normalidade. Talvez estejam se acostumando finalmente.

— O que te fez começar com até que?

— O fato de também ter sido um tanto incômodo, querendo ou não.

— Por causa do medo?

— Não. Pela primeira vez em muito tempo, o que senti não teve nada a ver com Pugsley ou o acidente —Confessou em voz alta, surpreendendo tanto a profissional quanto a si mesma.

Estava conseguindo mas, neste caso, a que custo?

— Sabe me dizer algum outro motivo então?

— Sequer tentei entender no primeiro momento. Aconteceu quando a Enid chegou pra fazermos o nosso caminho quase diário.

Ela assentiu e anotou.

— Você está bem próxima da Enid ultimamente. Seja presencialmente ou falando sobre.

— Bom, ela quem tem agitado a minha rotina de uma forma confortável.

— Realmente é só isso que tem a dizer?

Wednesday tentou pensar e sentiu-se levemente irritada ao não chegar em lugar algum. Estava virando rotina novamente ela não saber de algo sobre si mesma.

— Eu só sei que ela tem algo a ver com esse sentimento estranho. Ontem não foi a primeira vez. Foi com a Bianca, uma amiga dela que trabalha no lugar em que adotei o Thing, e só depois com o Eugene, duas vezes ontem.

— Consegue descrever que tipo de desconforto é esse?

— É amargo, quase me sufoca e me deixa irritada com coisas banais, irracionalmente.

— O que a Bianca e o Eugene fizeram com a Enid pra te provocar esse sentimento?

— Ela chamou a Enid por um apelido carinhoso, apesar de genérico, e a deu um beijo em sua bochecha. Ele ficou a elogiando excessivamente quando foi na minha casa.

— Nem sequer passou pela sua cabeça que sejam ciúmes? —Apontou de uma vez.

Dito isso, muito fez sentido para Wednesday. Não sobre os seus sentimentos em si, ela decidiu que pensaria sobre isso mais tarde, mas o comportamento estranho dos meninos. Se uma pessoa que sequer viu ela e Enid no mesmo ambiente havia presumido isso, certamente eles também. De repente, vieram em sua mente flashes de memória deles falando baixo e depois os elogios justamente sobre Enid.

E ela havia caído em uma das armadilhas mais patéticas que poderia, pensava. Tinha cedido e ido embora, sem dar qualquer explicação lógica para eles. Era quase como gritar sim para uma pergunta indireta. Como não enxergara isso antes?

— Ciúme é uma insegurança relacionada ao sentimento de insuficiência para com outro, geralmente provocado por uma ameaça a algo como uma relação —Tentou defender-se com argumentos técnicos e objetivos.

— Não precisa verbalizar de imediato, Wednesday. Só peço que não minta.

Por sorte, o relógio marcou o fim da sessão.

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Enid estava prestes a sair quando assustou-se ao ouvir sua mãe perguntar:

— Aonde vai?

Ela empalideceu, estremeceu, sentiu seu sangue gelar e o suor frio correr por sua espinha.

— Nada demais —Limitou-se a dizer, torcendo para ser suficiente.

— Bom, então pode ir outra hora, certo? —Sugeriu e deu um sorriso, suspeito para Enid.

— Por quê? Precisa de ajuda com alguma coisa?

— Gostaria de conversar. Faz tempo desde a última vez que passamos uma tarde juntas. O que acha de prepararmos um bolo de chocolate?

— Uma boa ideia. As crianças amam e o papai pode levar pro trabalho se quiser.

A matriarca assentiu e ambas foram para a cozinha. Pegaram os ingredientes juntas e enquanto a mãe batia as claras em neve, Enid misturava as gemas, a margarina e o açúcar até obter uma massa homogênea. O silêncio era quase confortável, até Esther decidir puxar assunto:

— Você acha a mamãe inútil? —Perguntou de repente, como se fosse algo normal, sem sequer parar o que estava fazendo.

Enid assustou-se com a pergunta, tanto que quase derrubou o recipiente em suas mãos.

— Claro que não! Por que me perguntou isso?

— A reação de vocês depois da demissão não me ajudou a pensar o contrário. Senti que ficaram decepcionados, que me queriam longe.

— Só queríamos te dar espaço pra aceitar o que tinha acontecido, não te afastar de nós.

Ela concordou, tentando conformar-se. Enid voltou a acrescentar o leite e a farinha de trigo aos poucos em sua mistura, seguindo a receita, mas permanecia observando sua mãe pela visão periférica. Era como se estivesse bem, passando por um dia comum, mas agora a filha tinha certeza de que a situação era anormal, talvez nova.

— Você acha que seria melhor pra todo mundo se a mamãe não estivesse mais aqui?

— O que quer dizer com isso? —Questionou torcendo para ter entendido errado e adicionou as claras em neve e o fermento na mistura.

— Se eu fosse pra um lugar melhor, talvez seu pai não tenha mais que trabalhar tanto, as crianças poderiam brincar pela casa o quanto quisessem e você não teria mais tantas responsabilidades. Eu atrapalho a vida de vocês.

— De que lugar você diz? O hospital que sugerimos?

A mulher ficou alguns segundos em silêncio, encarando os raios de Sol que iluminavam a cozinha através da janela, antes de simplesmente responder:

— Qualquer um que seja distante o suficiente soa válido.

Se antes a situação enquadrava-se apenas em estranha, agora era completamente suspeita. Enid conhecia a mulher o suficiente para saber que ela só estaria pensando naquilo se algo mais tivesse acontecido —o que era improvável neste caso— ou se alguém tivesse dito algo sugestivo —involuntária ou intencionalmente.

O problema era descobrir quem e o que. Esther mal estava saindo do quarto nos últimos dias —quem dirá de casa, Enid certamente saberia se recebessem visitas —por seus irmãos ou a própria mãe— e estava tarde para mais reações negativas sobre a demissão de um emprego que ela sequer gostava. Ou seja, fora obrigada a perguntar diretamente pela primeira vez em muito tempo:

— Alguém te disse isso?

— Várias pessoas, mas que moram aqui —Disse e apontou para a própria cabeça.

Era um novo estágio.

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Olá, seres. Aparentemente já temos um felt first. :)

O que acharam?

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora