14.

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Eram quase cinco horas da tarde mas as meninas ainda estavam passeando. Ao mesmo tempo que queriam fugir dali o mais rápido possível, enrolavam para ver se conseguiam expulsar o elefante na sala.

Wednesday sentia dores de cabeça de tanto ponderar sobre o que seus amigos pensavam à respeito dela e Enid e as suposições da psicóloga —sobre aquela palavra com c— durante as últimas duas sessões de terapia. Ademais, estava assustada, o que gerou um certo afastamento entre as duas.

Enid também refletira demasiado, mas por culpa de alguns diálogos que tivera com Ajax. Na primeira vez que falaram abertamente sobre a garota de olhos castanhos, em sua casa, ele havia supostamente cedido, mas acabaram caindo no assunto novamente diversas vezes —propositalmente, ela acredita— e todas com um novo questionamento. A princípio ela ignorou, alguns dos argumentos sequer faziam sentido, mas de tanto ele insistir e a Addams realmente ter mudado sutilmente o seu comportamento nos últimos onze dias, aproximadamente, a Sinclair começou a sentir-se incomodada.

As incertezas as sufocavam. Era como uma avalanche, uma grande bola de neve descendo em velocidade máxima na direção delas. Ambas tinham conhecimento, mas fora Wednesday quem começou a impedi-la de causar um estrago maior:

— O que aconteceu com você? Está estranha há dias.

— Por que presume que algo aconteceu comigo? —Rebateu a pergunta quase que automaticamente.

— Sabe que isso só confirma que tem alguma coisa errada, certo?

Enid suspirou pesadamente.

— Basicamente, um amigo vem colocando paranóias na minha cabeça.

— Gostaria de falar sobre? Considero-me uma boa ouvinte —Tentou brincar e a outra sorriu, concordando.

— Ele acredita fielmente que uma pessoa vai acabar me machucando, como acabou fazendo com outras pessoas no passado. É um assunto incômodo e cansativo, mas ele ainda insiste.

Wednesday não era boba. Sabia que estava falando dela. E, utilizando lógica, também já tinha um nome. Não poderiam ser Tyler ou Eugene, eles certamente não gostariam que elas se afastassem, e Enid tinha três melhores amigos, sendo que apenas um deles era homem —e duvidava que a opinião de qualquer outra pessoa importasse tanto.

— Não há como negar que é um risco a se correr. Não só com essa pessoa, mas com qualquer uma. Inclusive ele, já que você está falando disso com um tom acanhado, ou seja, está chateada.

— Pois é! Sabe, eu queria que ele confiasse em mim. Não preciso de alguém me lembrando o tempo todo que as coisas podem mudar de repente. É normal.

— Entendo, apesar de em uma circunstância diferente.

— Se importa de me contar? Seria ótimo ter qualquer outra coisa pra pensar agora e nenhuma banalidade tá conseguindo ajudar.

Wednesday respirou fundo. Ficaria desconfortável, sabia disso, mas achava que valeria a pena se realmente ajudasse Enid. Inclusive, não sabia em que ponto tinha se tornado uma pessoa tão empática, pelo menos com a garota de olhos azuis, mas uma parte de si se agradava com isso então não via motivos para evitar.

— Depois do acidente do meu irmão, muitas pessoas vieram falar comigo. Desejar condolências, entregar coisas do Pugsley e outros presentes. Pra onde quer que eu fosse, alguém me fazia lembrar dele. Não ajudava nem um pouco.

— E como ainda era muito recente, você tava chateada então parou de tentar sair e interagir —Concluiu e Wednesday concordou com a cabeça— Mas por que esse afastamento envolveu os meninos? Eles eram seus amigos mais próximos desde bem antes disso tudo, poderia só ter avisado que não gostava. Não acho que eles insistiriam.

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora