42.

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— Não acredito que você pagou os dois ingressos e o lanche, que eu praticamente comi sozinha, mas agora tá de birra porque eu quero te comprar um café —Enid disse indignada, vendo Wednesday esconder a sua cateira na bolsa.

— Eu te convidei e disse que a sua única preocupação era estar arrumada. Sossega.

— Posso, pelo menos, buscar? Você disse que queria ir ao banheiro.

— Certo, mas sem trapaça!

— Não será necessário. Um dia eu vou te convencer —Avisou, deu um selinho na namorada e levantou-se.

Wednesday revirou os olhos brincalhona e saiu andando com um leve sorriso no rosto, acompanhado de um sentimento bom no peito. Há horas não sabia o que era estar mal. Aquele final de tarde com Enid estava sendo como um estimulante além das expectativas para ela. Mesmo em locais públicos, em uma sexta-feira e com a Addams em uma fase levemente intolerante, no momento, nada disso parecia importante o suficiente para acabar com o clima leve.

Por enquanto.

Logo que Wednesday entrou no banheiro, sentiu o ambiente mais úmido. A placa amarela de "Cuidado! Molhado" bem no meio do chão e virada para a porta fazia um bom trabalho de avisar que há pouco o lugar havia sido limpo. Tentou ignorar o arrepio e entrou na cabine, trancando-a em seguida. Porém, quando levantou a tampa do vaso sanitário, sentiu o cheiro de cloro. A sua respiração começou a ficar rápida. Mais uma vez, insistiu em ignorar. Cogitar ir embora naquelas circunstâncias por causa de uma sensação era muito frustrante para ela. Trêmula, a garota prendeu a respiração e foi rápida ali. Porém, fora da cabine, o cheiro persistia e sua cabeça começou a doer.

Quando abriu a torneira para lavar as mãos e sentiu a água gelada chegar até os seus pulsos, Wednesday começou a chorar. Forte. Ansiosamente. Envergonhada e atordoada para sair, ela foi para a última cabine e sentou-se, abraçando os joelhos.

Do lado de fora, onde o café esfriava, Enid sentiu algo ruim acertá-la em cheio. Pensou imediatamente em sua namorada e quis ir atrás, porém lembrou do que fora dito por ela mais cedo, sobre não precisar "ser monitorada". Mas agora era diferente, certo? O sentimento era forte, certeiro, amargo. E ela estava demorando. Com os pensamentos nisso, a garota de olhos azuis levantou-se, recolheu as bolsas e foi até o banheiro.

— Willa? —Chamou, ouvindo apenas um choro baixo familiar na última cabine. Obviamente correu até ela— Ei, tudo bem?

— O cloro, a água gelada...

— Mon cher, destrava a porta —Pediu com paciência, apesar da preocupação.

— Sem ar...

— Você tá sem ar? —Perguntou e a ouviu começar a tossir— Wednesday, abre!

Apenas com a ponta dos dedos, completamente tonta, ela obedeceu, deixando seu corpo cair para frente, nos braços da namorada. A Sinclair a pegou no colo, colocou em cima da pia e ligou a torneira. A Addams desligou e a abraçou com os braços e pernas.

— Eu estou tão cansada —Lamentou com a voz baixa, trêmula e abafada pelo pescoço da namorada.

— Quer que eu ligue pros seus pais virem te buscar? —Perguntou e ela negou— Eu não sei dirigir, mon cher.

— Não quero que você vá embora.

Com o coração apertado, Enid a abraçou mais forte.

— Eu não vou se você não quiser, tá bom? Mas você precisa respirar.

— Aqui não dá —Falou e desfez o contato, descendo a bancada.

Enid assentiu e saíram dali. Como a conta já estava paga, passaram reto pelas mesas do estabelecimento e foram para o carro de Wednesday, em que ambas decidiram sentar nos bancos de trás —para ficarem abraçadas— com as janelas um pouco abertas. Juntas, fizeram uns exercícios de respiração e tentaram conversar sobre outros assuntos. A princípio fora complicado mas, conforme os minutos passaram, a Sinclair percebeu a Addams ficar mais tranquila.

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora