19.

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Após aquele dia, há duas semanas atrás, Wednesday e Enid saíram juntas várias vezes, sendo dias úteis ou nos finais de semana, para caminhar, lanchar ou apenas conversar. Elas apenas não conversavam por celular porque Wednesday não utilizava um. Com isso, além de ainda mais próximas, estavam permitindo-se aceitar o clima entre elas cada vez mais.

Inclusive, alguns hábitos novos foram adquiridos.

Aos poucos Enid havia buscado ter ao menos um contato físico com Wednesday toda vez que se encontravam. Abraços, ombros se esbarrando propositalmente enquanto caminhavam e uma dia quase deram as mãos novamente, porém, ao perceber, Wednesday cruzou os braços, sentindo seu rosto corar fortemente. Não que não quisesse, mas para ela já era automático fugir desse tipo de coisa, um reflexo.

Ademais, Enid arriscava constantemente chamá-la por um apelido que inventara por conta própria: Willa. A garota de cabelo escuro ainda não tinha se acostumado —ou sequer permitido exatamente, não gostava de apelidos— mas a Sinclair tentava.

Os irmãos mais novos da garota de olhos azuis agora amavam Wednesday. Por diversas vezes pediam que ela viesse vê-los —e eram atendidos caso os pais não estivessem em casa— ou para que eles fossem até ela —o que ocorria com maior facilidade, e os Addams mais velhos apreciavam a companhia das crianças, visto que trazia um ar inocente à casa que há muito tempo não o tinha.

Wednesday estava contando sobre tudo isso na terapia —ou pelo menos o que a psicóloga ainda não sabia, levando em consideração que houve uma outra sessão antes desta.

— Temos alguma outra questão pra discutir hoje ou passaremos mais trinta minutos falando sobre a Enid? —Perguntou brincalhona.

Era realmente impressionante. O que antes tratava-se exclusivamente dela —e às vezes seus pais e amigos, de repente tornara-se sobre a Sinclair. Como Wednesday se sentia viva na presença dela. Na verdade, como Wednesday se sentia no geral quando ela estava em questão.

— Bom, eu estou melhorando. Saindo quase diariamente, tendo maior facilidade com socialização, vejo meus amigos com muito mais frequência. Não sei exatamente o que dizer sobre.

A mulher anotou.

— Fico feliz que esteja se saindo bem com o TEPT, mas não é apenas isso que a pergunta engloba. Tem algo confuso, mal resolvido, desconfortável ou quaisquer sinônimos disso te incomodando agora?

— Os meus sentimentos, mas boa parte deles tem a ver com a Enid.

— Fale mais sobre isso.

— Pareço mais empática e sensível a cada dia. Também estou rindo com mais frequência. Sei disso porque sinto constantes dores nas bochechas. E às vezes queimam.

— Queimam? Como assim?

— É. Quando algo me desconcerta.

Ela assentiu, segurando um sorriso pela inocência da Addams em determinados assuntos, e anotou novamente.

— E os seus ciúmes? Como vão?

Wednesday endireitou a postura.

— Não vão, porque não sinto.

— Posso te passar uma lista de situações que dizem o contrário. Em ordem cronológica.

— Por que isso é importante?

— Aceitar vai te ajudar a entender o que sente. E tratar o que não é saudável sentir.

A Addams suspirou.

— Não é como se eu fosse possessiva ou insegura.

— Okay, o problema não é com você, então com o que é?

Caminhar • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora