34

390 32 15
                                    

Sodo on.

Theo foi conduzido para um pronto socorro, e o caminho todo foi chorando, ele estava muito assustado com aquelas pessoas estranhas, com um carro estranho, com todo o barulho ao redor.

-Bebê, eu estou aqui! E nós vamos cuidar de você, não precisa ter medo.

Eu fiquei o tempo todo no campo de visão dele, e por mais que eu estivesse sentindo que meu mundo estava desabando, eu não poderia perder a postura, precisava transmitir segurança, então, segui engolindo o choro várias vezes, respirando fundo todas as vezes que ele fazia cara de dor, e tentava se mexer para ir para o meu colo, e se frustrava por estar imobilizado, meu coração seguia despedaçado.

Aquele trajeto pareceu durar uma eternidade, apesar das conversas entre os socorristas, aquele chorinho predominava, não era alto, mas era muito sentido. Eu nunca senti tanto por não poder dar colo ao meu filho.

Quando finalmente estacionamos, assim que começaram a levá-lo para dentro do posto, ele me chamou.

-Papai?!

-Estou indo, meu  amor! Não vou te deixar.

-Calma pequeno, você vai ficar bem! Nós vamos cuidar dos seus machucados, e seu papai ficará com a gente o tempo todo. Já já vai passar, e você vai poder ir para casa! -disse o médico, acariciando seus cabelos.

Ele assentiu, entre soluços.

Quando eu estava passando pela porta, senti uma mão segurar meu braço, era o Rain, e assim que o olhei, o abracei fortemente.

-Como ele está, Dewdrop?

-Eles vão fazer um raio-x antes de qualquer coisa, mas eu estou com medo, Rain.

E naquele momento eu me deixei desabar, nos braços, e no abraço dele.
Ele me consolava acariciando minhas costas, me pressionando contra seu peito.

-Vai dar tudo certo, e eu estou contigo! Vamos passar por esse susto juntos. -falou de maneira firme.

Eu não tinha tido tempo de sentir raiva até então, meu foco era ver o Theo bem, já o Rain estava virado no Satanás, eu nunca tinha o visto com tanto sangue nos olhos, essa versão dele era inédita.
Respirei fundo, tentando me recompor, e ele continuou falando:

-Nós vamos cuidar dele, e eu cuidarei do Drake pessoalmente!

-Rain...

-Não, Sodo! Eu já estou cansado desses dois, chega!

-Acredite em mim, eu também, mas por enquanto não podemos agir de cabeça quente!

-Não se preocupe quanto a isso!
Nossa conversa foi interrompida por uma jovem que vinha do lado para onde Theo foi levado. A boa notícia, é que na cabeça dele, foi apenas um corte, que seria acompanhado por uma marca roxa, e um dentinho trincado, mas este ainda era de leite, a má, é que ele estava com um osso do braço também trincado. Mas ainda assim, estávamos muito aliviados, pois poderia ter sido pior.

Precisaríamos apenas esperar eles preparem uma tala, e ser medicado para a dor, e ele poderia ir embora. Quando liguei para Camille para explicar o que estava acontecendo, eu poderia jurar que ela me espancaria via ligação mesmo. Também descobri que ela não estava na cidade, que teve que viajar a trabalho de última hora porque o Drake não pode... a reação dela ao saber que o motivo do cara não poder ir era justamente o acidente do nosso filho, me fez ter certeza que quem mataria o Drake seria ela, e não o Rain, que pena, porque quem deveria fazer isso era eu.

Apesar de eu não ter tido culpa, eu me sentia muito responsável por tudo. O olhar assustado dele, e seu choro de dor, ecoavam na minha mente sem parar. Até então nunca tinha acontecido nada tão sério com ele, nada tão perigoso... aquele medo que eu senti era novo.

-Papai?

Escutei sua voz ao longe, me chamando.

Ele estava sentado em uma cama, a porta estava aberta e eu estava em seu campo de visão. Segurei a mão do Rain e caminhamos até ele.

-Pai, seu garotinho é muito corajoso, nem está mais chorando.

Disse o médico enquanto ainda manipulava o bracinho do Theo.
Ele observava o processo ainda com um semblante de dor, e um biquinho de choro nos lábios, mas, segurou firme. Ainda soluçava por antes, mas não voltou aos prantos.

Quando finalizou, o médico deu a ele um pirulito.

-Essa é sua recompensa por ter sido forte, campeão! Parabéns!

Em seguida, bagunçou seus cabelos novamente.

Theo pegou, mas não esboçou nenhum sorriso.

-Agora agradece, filho.

-Obrigado, tio! -Falou fungando.

O médico sorriu.

-Você mereceu, pequeno.

Peguei o Theo com cuidado.

-Parabéns, pai! Seu filho é muito lindo.
Sorri concordando.

-Obrigado!

-Lindo igual ao papai dele!

Fiquei levemente desconfortável com o comentário, mas o maior sentimento ali era voltado ao Theo.

-Muito gentil de sua parte! -sorri de canto.

Rain o encarava sério, e por um segundo, brotou um sorriso em meu rosto.

Quando Theo o viu, esticou o braço para ele, pedindo colo.

-Papai Rain! Me leva pra casa?

-Oi, meu amor! -Rain o pegou, e beijou seu rosto-

-E o gatinho é casado! -falou baixo o médico, enquanto recolhia as coisas.

Casado... não era a palavra correta, mas observando a forma como o Rain cuidava do Theo, e como nosso pequeno o amava, eu sentia que isso não importava! Não precisava de uma palavra para definir o que éramos, nem o que tínhamos, apenas a minha certeza de que eu tinha feito uma boa escolha.

Me aproximei deles e acariciei as costas do Theo.

-Podemos ir para casa, por favor?

Falei olhando para o Rain, que assentiu.

-Papais, estes são os remedinhos que ele vai precisar! -o médico se aproximou novamente- mas o mais importante é cuidar para ele não agitar muito esse braço, ok senhor Theo? Mas isso aqui irá ajudá-lo com  a dor... só tomem cuidado na hora limpar os pontinhos da testa.

Assenti, pegando aquela receita.

Por sorte, aquele corte seria coberto pelos cabelos, ele não ficaria com uma cicatriz tão visível.

-Vamos cuidar muito bem do nosso bebê! -falou Rain, com um sorriso um tanto irônico.

Rain ciumento se tornou minha religião.

-Aposto que sim! -ele acariciou o rosto de Theo- te vejo daqui uns dias garotão!

Theo negou, e nós rimos.

Ele foi caminhando até o carro lá fora, estava ansioso para sair logo daquele local. Todos os resultados referentes a sua integridade foram encaminhados para a polícia, eu fazia questão de processar o infeliz do Drake, além da denúncia. Tenho certeza que a situação com a Camille também seria delicada e isso muito me alegrava! Ele finalmente teria uma boa punição.

Eu já me sentia seguro para dirigir, e Rain foi no banco de trás com o Theo, contando historinhas de um app de conto de fadas que ele tinha baixado no celular, cheio de narrações e músicas.
Não demoraria muito para que nosso pequeno dormisse, então fui direto para casa. Na verdade, com a história que Rain contava, ele já começava a ficar meio sonolento.

Quando chegamos em casa, agradeci mentalmente por ele estar junto, por não ter precisado dormir fora.

-Vamos tomar um banho bem rápido, Theozinho?

Falei ao entrarmos, mas ele apenas negou, deitando no sofá.

-Então deita na sua cama, bebê! -sugeriu Rain.

-Não papai!

-Tudo bem, fica ai então enquanto eu faço chocolate para você! Mas é para ficar quietinho, ok?

Ele sorriu, finalmente. Chocolate quente e seu poder de sempre consolar essa ccriança.

-Fica com ele enquanto eu arrumo, meu amor?

Rain assentiu, me dando um selinho.
Enquanto eu preparava a segunda receita favorita do Theo, ouvi uns sons um pouco estranhos, mas a princípio não dei tanta importância assim, deixando para verificar somente quando deixei esfriando sobre a mesa.
Um pouco antes de chegar na sala, reconheci aqueles sons como dedilhados de violão, e me aproximei silenciosamente, até avistar a cena do Theo deitado no sofá com quase todas as almofadas para si, e o Rain sentado no chão, de pernas cruzadas, de frente para ele, tocando uma suave e lenta canção. Ver aquilo aqueceu meu coração, e me arrancou um sorriso bobo. Theo estava quietinho o assistindo, estava gostando daquilo, e eu apenas me encostei na parede, com os braços cruzados, admirando aquela cena que poderia ser facilmente uma das mais lindas da minha vida.

Ainda dedicando sua atenção ao Theo, ele começou a cantar as notas.
Aquela voz estava me envolvendo, e eu poderia muito bem repousar em seus braços e ouvi-lo cantar o dia todo, e pensando nisso, tenho certeza que ele já estava fazendo o Theo se entregar ao sono.

Continuei os assistindo, enquanto sorria. Então, ele me avistou ali, e piscou, me convidando com um aceno a participar.

Me aproximei e verifiquei se o Theo já dormia, mas não, ele me olhou e sentou.

-Não bebê! Fica deitadinho aí!

Sentei ao lado dele e ele veio para o meu colo.

-Está com dor? -perguntei após beijar seu rosto, seu lábio estava um pouco inchado, e ele quase nem mexia o braço, de medo.

Ele assentiu fazendo um biquinho de choro. Seus olhos denunciavam que ele já não aguentava mais de nosso.

-Já vai passar! Vai doer só um pouquinho.

O aninhei com cuidado em meu colo, e Rain voltou a dedilhar o violão.

Ele suspirou e começou a fechar os olhos.

-E o seu chocolate, amor? Vai deixar para depois?

-Eu não quero mais, pai!

-Não tem problema, depois que você acordar, você toma!

Enquanto a música de Rain o embalava, eu o acariciava, até que se entregasse definitivamente ao sono.

-Obrigado! -sussurrei para o Rain, que sorriu, e jogou um beijinho.

Mesmo um tempo depois do Theo adormecer, ele continuou caminhando pelas cordas, até que finalizou e deixou o violão de lado.

Ele sentou ao meu lado e me deu outro selinho, um pouco mais demorado, em seguida, passou suavemente os dedos pelos cabelos do Theo,  enquanto o olhava por cima do meu ombro. E eu encostei minha cabeça em seu peito, sentindo pela primeira vez a proteção por ele ser um pouco maior que eu.
Todos nós estávamos cansados, afinal. O dia estava sendo uma montanha russa.

-Você se importa se eu passar um tempinho fora? -ele perguntou enquanto mexia em meus cabelos.

O olhei um pouco confuso, mas neguei.

-Não, Rain! Desde que não faça nenhuma besteira...

-Defina!

-Não quero que faça nada que possa te prejudicar... Temos um neném para criar... Lembra? Você já não disse que ele é nosso?

Falei olhando novamente para o Theo.

-É exatamente por isso que eu preciso fazer uma coisa... Mas não se preocupe, eu volto para vocês.

-Pelo visto os nossos papéis se inverteram né?-Ri brevemente.

-Nunca me deram um motivo para ficar tão irado... Nem mesmo você! 

-Que tal deixar isso para depois então? E ficamos aqui mimando esse garotinho dengoso e dodói?

Ele respirou fundo.

-Sooodo!

-Ele acabou de sair do hospital, estamos nos recuperando de um grande susto, só vamos apenas curtir ele hoje! Pode ser?

Ele se rendeu.

-O que eu não faço por vocês dois?

-Obrigado!

-Quer levar ele para a cama?

Neguei.

-Passei horas sem poder dar colo a ele, e o tanto que ele queria e precisava, agora vou aproveitar para fazer isso o máximo de tempo que ele quiser.

-Tudo bem! Então eu cuido de vocês enquanto você cuida dele.

Ele se ajeitou melhor naquele sofá, para que eu pudesse ficar mais confortável para abrigar o Theo em meus braços. Assistimos a um filme por um longo tempo até o Theo acordar novamente, e finalmente tomarmos o chocolate quente dele, que precisou ser requentado.

Ele estava tão dengoso, mas não deixamos de mimá-lo um segundo sequer. Finalizamos o dia em casa, com uma típica programação de pais e filho, e ao fim ele já estava mais animadinho, até conversou com Camille por chamada vídeo.

Dormimos todos juntos no meu quarto, Rain e eu acordávamos inúmeras vezes para verificar se ele estava bem, se tinha dor, se não estávamos o machucando mais com aquele braço trincado.

Ele dormiu serenamente a noite toda, descansou de toda aquela agitação que passara. Ele merecia todos os cuidados possíveis dos papais dele. E nós o fizemos.

~x~

Sweet & Psycho - Dewdrop e RainOnde histórias criam vida. Descubra agora