01, Ella.

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Os dias passavam cada vez mais rápidos, a escola havia acabado, e eu me tornaria adulta em breve, eu ainda não tinha parado para pensar sobre a faculdade e sobre os cursos incríveis que trariam benefícios para minha vida e 'blá blá blá.

A maior parte dos meus amigos estavam focados em suas carreiras, e eu com meus 18 anos, estava pensando em como eu faria para sobreviver um dia após o outro, minha adolescência está indo embora, mas as feridas que ela deixou, está sendo meio complicado de cicatrizar.

Expirei a fumaça do cigarro para fora dos meus pulmões e o apaguei no cinzeiro, chovia muito e eu não tinha nada para fazer, além de dormir ou simplesmente ver um filme na TV até que a noite chegue e eu possa sair com alguns amigos.

Escuto o telefone fixo tocar na sala, saio da varanda correndo e vou até lá atender, deve ser minha mãe, acabei esquecendo de conectar o celular no carregador e provávelmente ele está desligado em algum canto, tiro o telefone do gancho e atendo aquele treco barulhento.

Alô? ─ Digo calma.

Porra, até que enfim Ella, te liguei e só dava na caixa postal, você por acaso perdeu o telefone? jogou fora? por Deus! ─ A voz preocupada de Ashie, meu melhor amigo, era perceptível.

Na verdade ele só descarregou e eu fiquei com preguiça de por pra carregar. ─ Me jogo no sofá e prossigo. ─ Mas por que você 'tá ligando?

Vamos sair hoje, tem um show de uns caras bem maneiros e eu gastei horrores com os ingressos, chamei a garota que eu estava afim, mas advinha? me deu bolo, então você vai comigo. ─ Incrível que ele nem perguntou se eu gostaria de ir, que mania esse garoto tem de me dar ordens.

Não tenho nada melhor pra fazer, se tiver álcool e música boa, eu certamente vou.

Garanto isso, esteja pronta as 21h.

Ele nem me esperou falar nada e desligou na minha cara, acabei de perceber que vou ser um tapa buraco, mas não me importo tanto com isso, o tempo chuvoso me deixa animada, sempre tive um grande apego por dias nublados, escuros ou chuvosos.

Acabei cochilando no sofá depois de ter colocado algum filme aleatório, assim que olhei para o relógio na sala vi que passava um pouco das 20h, levantei em um pulo e acabei batendo o pé na quina do sofá, saí pulando com um pé só até o banheiro, xingando inúmeros nomes.

Ashie era extremamente pontual e odiava esperar e eu sempre era a atrasada que tinha que ser esperada, o equilíbrio perfeito em uma amizade.

Joguei uma água no corpo, lavando o necessário e corri para me trocar, coloquei uma meia calça preta pouco transparente, uma saia jeans e uma blusa curta de manga preta de alguma banda que sou suspeita para falar, também coloquei os anéis que eu gostava de usar porque combinavam com as unhas pretas, passei lápis no olho e dei uma leve esfumeada, gostava do destaque que dava para os meus olhos castanhos, eles beiravam quase um amarelo. Soltei meu cabelo e só baguncei um pouco as mechas ruivas, calcei os coturnos e estava pronta.

21h em ponto alguém bateu na porta da frente, sabia quem era, então corri e deixei um bilhete para minha mãe na bancada da cozinha, como era apenas nós duas, não me preocupei com tanto.

"Saí com o Ashie, não sei que horas volto, meu celular 'tá com pouca bateria, se precisar, ligue pra ele, ok? te amo muito.
Ella."

Peguei minha bolsa que continha apenas o necessário, meu celular que coloquei antes de entrar no banho e fomos. Assim que chegamos lá, era um lugar bem grande, havia garotas eufóricas gritando por todo o canto e eu tentando entender onde foi que Ashie havia me enfiado.

Entramos no lugar e a banda não demorou muito para entrar no palco e nós irmos procurar algo alcoólico, sorte que tinha um bar, não muito grande, mas tinha bebida, pedi uma dose de vodka e virei na boca, sensação quente e ardida na garganta, sempre bem vinda. As músicas eram realmente boas e depois do terceiro shot de vodka, eu comecei a prestar mais atenção no jeito que eles tinham uma sincronia perfeita em palco.

Meus olhos pararam no guitarrista, ele tinha uma coisa com aquela guitarra, ele existia ali por ela e ela por ele, era tão leve e perfeito, o jeito que seus dedos passavam pelas cordas e suas expressões faciais, como se ele estivesse adorando tudo aquilo, era incrível.

Meu coração por um minuto errou a batida, quando de longe, o olhar dele se conectou com o meu, aquela música entrava como uma agulha nos meus ouvidos, era viciante, e os meus olhos estavam grudados nos dele.

Me levantei do banco do bar sem perceber e caminhei entre a multidão até a beirada do palco, nossos olhares ainda estavam conectados, há todo segundo, ele se aproximou mais da beirada assim que eu cheguei perto o suficiente, ele sentia o mesmo que eu, eu percebi, era uma onda elétrica que arrepiava os pelos de todo o corpo, era insano.

"Running through the monsoon
Beyond the world
To the end of time
Where the rain won't hurt
Fighting the storm
Into the blue
And when I lose myself, I'll think of you."

Eu nunca havia ouvido essa banda, eu tenho certeza, mas esse trecho era tão familiar, ele era tão familiar, mas quem diabos é ele?

O último acorde de sua guitarra foi tocado, e eu voltei para o mundo real, me desconectei do seu olhar e saí dali um pouco apressada, precisava tomar um ar, Ashie me viu correndo para a saída e foi atrás de mim.

─ Ei, você 'tá bem? ─ Apoiou a mão nas minhas costas enquanto eu tirava o cigarro da bolsa e acendia, precisava acalmar minha ansiedade momentânea.

─ Sim, a multidão me deixou com pouco ar, estou bem, Ashie. ─ Disse calma enquanto dava uma tragada no cigarro. ─ Vamos voltar, ainda está cedo e eu quero beber mais um pouco vendo o show, pagou caro então vamos curtir, tudo bem? ─ Joguei o cigarro e o apaguei com a sola do coturno.

─ Tudo bem, mas vamos com calma nessa bebida!

Ashie pegou minha mão e me levou para dentro, eu precisava beber para tentar esquecer essa sensação, era impossível que algo fosse adiante, então me sentei naquele barzinho e pelas próximas horas, muita coisa aconteceu.

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