15, Ella.

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Comida, água, sono e oxigênio. São as príncipais coisas listadas para que sobreviva, o que não me ensinaram, era que a quinta coisa da lista, era se ter por perto alguém que você nutre um amor incondicional. E esse era o tipo de amor que eu sentia por minha mãe.

Eu ainda estava em choque, ainda não tinha visto minha mãe e para piorar, sentia uma dor de cabeça descomunal. Tom estava ao meu lado, eu escorava minha cabeça em seu ombro e ele sempre fazia carinhos em meu cabelo, Izzy e Billy foram tomar um banho, mas não demoraram de voltar.

Em um mês eu comecei a me relacionar com um garoto famoso que é mulherengo e sempre me afasta, descobri que me acidentei e perdi parte das memórias, quase fui abusada novamente e agora minha mãe está internada. As coisas só pioram e o número de chicoteadas que a vida me dá, só aumentam.

─ Há algum famíliar da Sra. Mallmann presente? ─ Um médico alto apareceu na sala de espera segurando uma prancheta, enquanto vagava os olhos pelo local.

─ Sim, eu sou filha dela. ─ Me levantei e caminhei até ele. ─ Como ela 'tá?

─ A batida foi forte, mas sua mãe foi um pouco mais esperta do que esperávamos, quando o carro estava para colidir com o muro, ela acabou pulando antes que o estrago fosse maior. ─ Não sei se eu ficava aliviada ou continuava preocupada. ─ Apesar de ter se salvado, ela acabou chocando seu corpo com uma certa força no muro também, resultou em uma concussão na cabeça e uma costela fraturada.

─ Eu posso ver ela? ─ Meus olhos marejaram, mas eu estava cansada de chorar, porra, era exaustivo.

─ Sim, mas por pouco tempo, ela não vai demorar de receber alta, mas ainda precisa de descanso. ─ Fez um gesto para que eu o acompanhasse e sem demora, segui o mesmo.

Chamei Tom, pedi que ele fosse comigo, talvez em minha cabeça naquele momento, eu estava colocando ele em uma posição muito alta em minha vida, talvez eu me arrependesse amargamente também por tratar ele como um igual de Ashie, Izzy e minha mãe.

Chegamos em um quarto com o número 25 na porta, adentramos o cômodo e eu pude ver minha mãe deitada naquela cama hospitalar, ela tinha um olho roxo e uma faixa na cabeça, foi difícil de olhar muito, meu coração batia na porra da minha garganta.

─ Filha? ─ A voz de minha mãe soou por aquele quarto e eu quase desmoronei novamente, mas ao invés disso corri para seus braços e me deitei vagarosamente em seu peito. ─ Shh, eu estou bem. ─ Minha mãe passava seus dedos pelos meus cabelos e fazia um carinho reconfortante.

Eu não conseguia dizer uma palavra, mas eu continuava segurando o choro em minha garganta, eu estava cansada de ser fraca, e no momento, minha mãe que precisava de conforto, não eu.

─ Quem é o garoto? ─ Interrogou calma, eu tinha esquecido completamente da existência de Tom naquele quarto. Merda.

─ Mãe, ele é o Tom. ─ Minha voz saiu um pouco fraca, não sabia se minha mãe lembraria dele, me virei e o garoto estava estático nos encarando. ─ Ele é o garotinho que brincava no parque comigo, você se lembra dele?

Tom aos poucos foi saindo de frente da porta, onde estava quase um breu, caminhou até perto da cama sem dizer uma palavra, seu silêncio era confuso, ele era sempre tão comunicativo e engraçadinho, isso era novo.

─ Ah, meu Deus.. eu me recordo de você agora, garoto. ─ Ela conseguiu ver seu rosto, e assim que se lembrou, sorriu largamente, e em muito tempo, meu coração saltou de alegria por ela se recordar dele também, tanto quanto eu. ─ Eu vi você há um tempo atrás, mas não pude me comunicar com você, desculpa.

Tom ainda não dizia nada, nós duas olhávamos para ele com semblantes confusos, eu não entendia o porquê de ele não falar nada ou reagir. Depois de alguns segundos eu me recordei, Tom sabia que minha mãe não tinha desmentindo sobre minha morte quando era pequena, puta que pariu.

─ Espero que melhore logo, Sra. Mallmann. ─ Girou os calcanhares e caminhou em direção à porta, abriu a mesma e desapareceu dos nossos campos de visão.

Eu não podia ir atrás dele, no momento e sempre, minha mãe seria mais importante que essa confusão que temos, eu estava exausta do afastamento de Tom, esse joguinho que ele gostava de jogar, eu não gostava, prefiro desistir de algo que nunca tive do que ter e sentir que não é realmente meu.

Minha mãe já dormia novamente, ela estava bem e fazendo as mesmas gracinhas de sempre, dona Norma nunca foi de se deixar ser triste, admirava isso.

Então fui para casa de táxi tomar um banho e comer algo, eu estava com a roupa do dia anterior ainda, muitas coisas aconteceram nas últimas 24h e eu precisava no mínimo de 6 horas de sono, ainda era de madrugada, dava tempo de umas horas cochiladas.

Cheguei em minha casa e fui correndo para dentro, queria desesperadamente me jogar na cama. Mas quando entrei em meu quarto pude ver uma sombra bem conhecida pela minha mente, era inusitado, mas tudo bem.

Tom estava sentado em minha cadeira perto da janela fumando um cigarro, eu entrei devagar no quarto e me sentei na cama o encarando, o mesmo não me olhou nenhuma vez, meu consciente sabia que ele havia notado minha presença mas decidiu ignorar.

─ Tom, o quê aconteceu? ─ Me levantei indo até ele, me sentei na janela e fiquei de frente para ele, sem sucesso, ele não respondeu, apenas se inclinou colocando a ponta do cigarro em minha boca deixando que eu tragasse a fumaça e a jogasse para fora.

─ Eu não sei se posso continuar isso, Ruivinha. ─ Na verdade, nem eu sabia se aguentaria.

─ Eu estou cansada do seu afastamento, estou cansada de você vindo atrás de mim também, eu nunca escondi o que eu queria, eu só não queria que você me machucasse. ─ Me levantei encarando o garoto, ele não me olhava mais, estava frio novamente. ─ Que porra foi aquela no hospital?

─ O quê você esperava, Ella? ─ Se levantou junto a mim e jogou seu cigarro pela janela. ─ Esperava que eu fosse completamente atencioso? eu entendo os motivos de sua mãe ter te escondido de Lípsia toda, mas ela me viu, e não me contou, eu passei por um drama fodido por causa disso e foi completamente em vão, porque podia ter sido evitado.

Eu compreendia sua dor, e eu queria abraçá-lo nesse momento, queria dizer que ele não tinha culpa de nada mas era algo que ele tinha noção. Eu não podia apagar seu passado, mas eu podia tornar seu futuro um pouco melhor, ele teve que viver uma vida inteira sem mim, e agora que eu estou aqui, ele vive desistindo.

─ Eu vou embora, me desculpa por hoje, eu não vou te procurar mais, sua vida já está cheia de complicações, eu não vou ser mais uma. ─ Passou por mim esbarrando seu ombro no meu. ─ Eu nunca quis isso Ella, eu nunca quis me relacionar, eu gosto da porra da minha vida. ─ Foi em direção à porta e eu o segui.

─ TOM, SE VOCÊ SAIR POR ESSA PORTA, VOCÊ NUNCA MAIS VAI VOLTAR PARA MINHA VIDA. ─ Seus pés pararam abruptamente na frente da entrada, ele não se virou de costas pelos próximos 10 segundos, minha visão ficou embaçada pelo cansaço, não porque eu iria chorar. ─ Kaulitz, você vai passar o resto da sua vida distante de mim, se você for, você não vai voltar, e se voltar, não vai me encontrar.

Como eu esperava. Ele se virou e caminhou em minha direção, segurou em meu rosto e me beijou como nunca tinha beijado antes, por mais que todos os outros tenham sido arrepiantes. Passei meus braços por seu pescoço e pulei em seu colo, ele me pegou e segurou firme em seus quádris.

─ Eu vou ficar, ruivinha.. ─ Disse enquanto cessava o beijo e encostava sua testa na minha. ─ Eu vou ficar porque passar mais uma vida longe de você, seria torturante.

─ Por favor, não vá nunca. ─ Ele me deu vários beijinhos no rosto e eu desci de seu colo sorrindo em resposta.

Tudo parecia calmo agora, saber que minha mãe estava bem e que Tom finalmente tinha feito sua escolha acalmava meus nervos de uma forma absurda, eu estava em paz por agora.

Tomei um banho e ele cozinhou algo para comermos, depois de tudo, fumamos mais um cigarro na janela e dormimos juntinhos em minha cama, era reconfortante estar assim com ele, tudo era um misto de sensações ainda, e eu não estava cansada de descobri-las.

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