04, Ella.

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─ Eu disse que voltaria, não disse?

─ Sim, você disse, mas ainda não disse o porquê.  ─ Encarei o garoto à minha frente, não fazia sentido ele estar ali aquela hora.

Tom ficou calado por um tempo, e eu estava esperando sua resposta por tempo demais, então simplesmente desisti, peguei um cigarro, acendi e me sentei na janela, fiquei observando a chuva que começava e como o vento balançava as folhas das árvores.

─ Eu te vi hoje, naquele bar, e sei que você me viu também. ─ Então ele havia me reconhecido, meu coração errou uma batida quando veio essa confirmação.

─ Entendi. ─ Continuei fumando meu cigarro olhando a chuva.

─ Quer que eu vá embora? ─ Perguntou se levantando e ficando em pé ao meu lado.

─ Se for, sai pela cozinha que nem gente normal, Tom. ─ Suspirei de cansaço e não olhei para seu rosto nenhuma vez.

─ O quê caralhos você tem, Ella? ─ Falou um pouco irritado e se sentou na janela ao meu lado.

─ Eu sou uma garota complicada, Tom. ─ Dessa vez eu olhei para seu rosto e no fundo de seus olhos. ─ Você acabou de pular a porra da minha janela quando simplesmente podia ter batido no inferno da porta! ─ Joguei o cigarro para fora e me levantei, ainda olhando para ele. ─ E você não precisa ser gentil, eu sei que tudo que você quer é se enfiar no meio das minhas pernas também, e sinto muito Kaulitz, não vai rolar nem fodendo.

Simplesmente sai do quarto e fui em direção à cozinha, eu estava irritada e céus, quando sentimentos ficam acumulados por muito tempo, eles explodem igual uma bomba relógio que está se segurando por longos minutos, esperando ansiosamente só para fazer o trabalho em que ela realmente foi criada, explodir e foder tudo.

Apoiei as mãos no balcão e abaixei a cabeça, pude ver ele se aproximando e me levantei, escorei as costas no balcão dessa vez, Tom parou na minha frente e enlaçou um dos braços por volta da minhas costelas sentido as costas, me puxando para perto dele e me abraçando forte.

─ Me responde, o quê você veio fazer aqui? ─ Minha bochecha estava apoiada em seu ombro, seu peito subia e descia um pouco mais rápido que o normal, eu podia sentir seu cheiro amadeirado novamente, um pouco nostálgico.

─ Eu queria te ver, essa é a verdade. ─ Falou um pouco travado, parecia que sentia medo de dizer essas coisas, como se a cada palavra sentimental que ele falasse, doesse nele.

Ergui a cabeça e passei a mão pelo seus dreads, será que ele tem idéia de como fica lindo com eles? foquei em seus olhos e ele parecia assustado, passei a mão pelo seu rosto e ele o deitou um pouco em minha mão, realmente lindo.

Alguns segundos se passaram assim e eu segurei sua mão e saí puxando ele para a varanda, ele não estava entendendo ainda, mas logo entenderia.

Abri a porta e corri para o quintal, a chuva já estava um pouco mais forte, e de repente nossos corpos estavam se molhando na chuva, assim como no dia em que nos conhecemos, que déjà-vu.

─ A gente tem um lance com a chuva, ou com tempestade, deve ser por isso que você me chama de Senhorita 'Monsun'. ─ Falei rindo e Tom me acompanhou.

─ Sim, você é uma baita tempestade, e eu tenho medo de ficar tanto tempo nessa tempestade e pegar um resfriado daqueles. ─ Ele estava com medo de se machucar?

─ Nem sempre a chuva trás um resfriado, as vezes ela vem, e mostra como é gostoso estar nela, como é bom sentir que a alma foi lavada. ─ Disse me aproximando, e apoiando as mãos na sua blusa, agarrando com um pouco de força, como se não pudesse soltar.

Ficamos assim, sentindo a chuva nos molhar, e possívelmente pegariamos um resfriado, até porque a vida não é uma metáfora, sabe? eu precisava dele, e sentir muito mais isso, eu sentia que podia tudo se estivesse com ele.

─ Me beija, Kaulitz. ─ Suspirei e mordi o lábio, eu estava com medo, mas foda-se, eu queria isso e agora, só hoje. ─ Me beija agora, por favor.

Ele sorriu, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, me puxou pela cintura e enfim colou nossos lábios, sua língua adentrou a minha boca e era tão quente, tinha gosto de menta, era tão bom.

Meu corpo sentia uma onda de tremores, como se naquele instante o mundo tivesse parado para observar o acaso mais injusto e mais incrível que havia acontecido na minha vida nessas últimas semanas.

Tom apoiou uma mão no meu rosto e depois deslizou a outra até a minha bunda, deu um leve apertão e eu gemi contra sua boca, o contato era demais, ambos estavam perdidos naquele beijo.

Minhas mãos foram até sua nuca e eu arranhei bem fraco, mas o suficiente para deixar uma marca, ele rosnou entre o beijo e me puxou para mais perto, mordi o seu lábio e separei nossas bocas, ficamos por alguns segundos nos escarando, poucos centímetros um do outro, se não fosse pela chuva, estaríamos ouvindo nossas respirações.

─ Não volte mais, Kaulitz. ─ Me soltei dos seus braços e me afastei dele, a expressão de felicidade dele quebrou na hora, e meu orgulho se reconstruiu nesse exato momento. ─ Eu não posso ser seu brinquedinho, nem seu passatempo, eu não posso te dar a chance de me quebrar mais do que eu já sou quebrada, entende?

─ Entendo, e sei que isso é pra não se machucar, porque você sabe que eu vou te machucar, mesmo não sendo intencional. ─ Ele estava tranquilo, e isso me machucou um pouco, no fundo eu queria que ele quisesse não fazer isso.

─ Sim, agora vai, por favor.. ─ Minha voz saiu falha, ele me olhou e depois abaixou um pouco a cabeça, comprimiu os lábios e fez um gesto de "sim" virou as costas e caminhou até seu carro.

Fiquei ali na chuva, esperando ele ir embora, quando entrei para dentro, não consegui processar nada muito bem, só entrei no banheiro e me sequei, fui até a cozinha e peguei um remédio para dormir, antes de tomar mandei uma mensagem para Ashie, dizendo que precisávamos conversar.

Tomei o remédio e me deitei nas cobertas, adormeci e rezei para não acordar cedo, a realidade seria cruel depois de hoje.

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