18, Tom. | End Pt. 1.

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Choques emocionais são causados por eventos traumáticos, na verdade o choque é o começo de tudo, mas no momento eu sentia que o fim de tudo que havia chegado. Minha cabeça girava em uma velocidade anormal, e eu sentia que o próximo corpo ir de encontra ao chão seria o meu, não de Ella.

Eu não posso mais aguentar o que sinto em relação ao passado, todo o evento pós-traumático que meu pai me fez passar e também da vida de Ella sendo encerrada antes do tempo e depois sendo constatada como uma mentira, me tiraram parte do ser humano em que eu queria ser.

Se qualquer pessoa me perguntasse há exatamente 10 anos atrás o que eu desejava ser, eu diria que era ser gentil. E era a verdade, eu me tornei gentil, mas parte de mim também se tornou egoísta, e não foi a fama, bebida e as mulheres que me tornaram nisso, foi simplesmente a vida.

Talvez eu fosse incapaz de amar sem causar destruição, ou fosse incapaz de ser amado, porque por mais que eu tente, eu não consigo doar para as pessoas o tanto que elas esperam de mim, e automaticamente elas se decepcionam no fim.

Mas com a ruiva foi diferente, arrisco em dizer que nossa história teve início exatamente do jeito que era pra ser, mas o fim foi inesperado. Sabe quando um filme tem um desenvolvimento extremamente bom, mas quando chega no final, você se decepciona pelo simples fato dele não ter acabado do jeito que sua mente imaginava? pois é.

Eu continuava jogado naquele sofá com os olhos focados no teto desde que Ella e Bill sairam pela porta e desapareceram da minha visão, a garota que estava comigo deve ter ido embora, ainda bem, eu não queria ter que dizer para ela o que havia acontecido, e também não me restava forças para falar.

Talvez seja toda a droga ingerida, foram duas carreiras quase seguidas, a adrenalina que aquilo causava era tudo que eu precisava para fazer merda. Cocaína, ela não vai te matar se você usar da maneira certa, mas ela vai te levar ao pico mais eletrizante e prazeroso que uma pessoa pode ter por algumas horas, além do corpo agitado, a vontade incansável de fazer tudo ao mesmo tempo era inevitável.

Eu tinha que levantar e me recompor, eu não queria aquilo para mim, mas eu precisava deixar tudo para trás quando me abaixei naquele mesa e pressionei contra meu nariz uma nota em dinheiro enrolada, fazendo toda aquela substância entrar para dentro de mim, amortecendo cada cantinho em que ela percorria.

Ella era minha, tinha que ser minha, e eu tinha que aprender a ser dela. Talvez nossos caminhos tenham se cruzado em momentos diferentes, ou talvez ela simplesmente mereça ser de Bill, ele a amaria, cuidaria e seria completamente fiel. Mas só de imaginar as duas pessoas que eu tenho uma forte ligação juntas, eu me sinto traído.

Será que restava alguma esperança para mim? ou era um caso perdido? eu queria ter sido muito melhor para eles, e eu só consegui ser o ser humano mais desprezível existente na vida de ambos nos últimos dias, eu não queria mais existir na vida deles, talvez eu não veja mais sentido em viver nesse plano.

A única coisa em que eu conseguia ser bom, era na banda, quando as cordas daquela guitarra dançava em meus dedos, ali eu me sentia livre e feliz. Ah, eu quero continuar me sentindo assim, quero minha guitarra para sempre em meus braços.

Por incrível que pareça ainda me restavam 10% de força no corpo, me levantei com um solavanco e caminhei para a garagem de minha casa, entrei dentro do meu carro e encostei a testa no volante apoiando as duas mãos no mesmo também.

Liguei e saí da casa, dirigi por vários lugares da cidade, vi pessoas felizes rindo, pessoas bebendo com amigos, casais felizes voltando para casa de mãos dadas e um bando de adolescentes correndo com amigos no meio rua, me lembrou Bill, Georg e Gustav, eu estava com eles por anos, céus, amava eles.

𝐌𝐎𝐍𝐒𝐎𝐎𝐍 Onde histórias criam vida. Descubra agora