05, Tom.

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A verdade era que quando ela se levantou e caminhou até o palco, eu senti uma onda de calafrios por todo o corpo, meus sentidos aguçaram e eu toquei com muita mais vontade quando soube que ela estava hipnotizada olhando.

Depois daquela noite eu bebi mais do que deveria e também fumei mais do que deveria, eu nunca havia sentido isso antes, e eu faria de tudo para evitar que sentisse algo.

Fiquei com inúmeras garotas, mas nenhuma tinha o cheiro dela, nem o jeito, muito menos a facilidade de me deixar ansioso como fiquei, todas eram uma perda de tempo, mas ainda continuei me enfiando dentro delas.

Depois que invandi sua casa entrando pela janela e nos beijamos na chuva eu quis ficar, quis ficar ali com ela, mas ela pediu para que eu fosse embora, e de repente eu me lembrei o porquê de ter ido.

Eu a veria por uma última vez, e a deixaria apenas na minha memória, eu não gostava de sentir essas coisas, não era de mim pensar por mais de um dia em uma garota que eu nem havia tocado.

Estacionei o carro na frente da minha casa e fiquei ali por uns minutos, tomando coragem para entrar e pegar mais uns pingos da água, sempre vou me lembrar dela quando acabar tomando chuva, o que é péssimo.

Saí do carro e corri para dentro da casa, logo dei de cara com Bill e Gustav na sala bebendo, conversando e tocando algum instrumento, me sentei ao lado deles e fiquei prestando atenção no assunto, eles falavam de como a banda estava sincronizando bem no shows, o que não era uma mentira, estávamos fazendo isso muito bem.

─ Tom? ─ Bill me chamou e eu saí de um transe, onde na verdade eu nem pensava em nada. ─ 'Tá quieto demais, o que aconteceu?

─ Queria sair e ver algumas garotas, mas com essa chuva me impedindo, fica complicado. ─ Suspirei e cocei a testa.

─ Você 'tá molhado, por que não toma um banho e descansa? ─ Meu irmão apoiou a mão nas minhas costas e disse um pouco sério, ele me entende melhor do que ninguém, provávelmente perguntaria depois o que havia rolado.

─ Fedendo cachorro molhado isso sim. ─ Gustav fez a sua piadinha de velho e eu mostrei o dedo do meio para ele rindo.

─ Vou tomar banho então, já que vocês estão tãooo incomodados, babacas. ─ Falei em tom irônico e fui para o quarto, escutei a porta batendo e com certeza era o Georg chegando também.

Assim que saí do banho, coloquei uma calça jeans larga como de costume e uma blusa preta, arrumei os dreads na bandana e coloquei o boné também, caminhei em direção à sala e me sentei com eles.

Tomei o copo da mão de Bill que me olhou com cara feia, dei uma risadinha pra ele e mandei um beijinho, meu irmão não conseguia ficar por muito tempo estressado comigo, e nem eu com ele.

─ Ainda não avisaram quando vai ser o próximo show, e 'tô me sentindo mais ansioso que o normal depois que a gente melhorou. ─ Georg falou e tomou um gole de sua bebida.

─ Pois é, estamos indo bem, mas Tom teve um destaque maior quando tocamos Monsoon naquele dia.. ─ Bill disse me olhando e eu virei o rosto e encarei o mesmo, pensei que tinha sido normal, mas pelo visto exagerei. ─ 'Tava olhando fixo pra plateia, 'tava tentando conquistar alguma garota, em?

─ Quando é que esse cara não 'tá tentando pegar uma garota? ─ Georg gritou da cozinha que ficava próxima da sala.

─ Vocês falam demais, todo mundo aqui sempre sai com alguma garota, porque o meu lado pesa mais? ─ Esbocei indginado mas no fundo um pouquinho ciente que eu realmente extraplo dos limites quando se trata de garotas.

E assim ficamos quase a noite toda bebendo, tocando alguma coisa e conversando sobre a banda, esses momentos me deixavam mais leve e menos cansado, além de parceiros de música, éramos uma família, gostava de pensar em todos como irmãos.

Georg e Gustav já estavam capotados no sofá, Bill estava na cozinha organizando a bagunça e eu caminhei para o quarto, quando de repente sinto meu braço ser segurado por alguém, era meu irmão.

─ Vem aqui, guardei duas cervejas, vamos conversar. ─ Não tive tempo de dizer nada, ele só me puxou e eu fui. ─ Eu vi que você olhava uma garota, e também sei quem ela te lembrou, você não precisa esconder nada de mim, Tommy.

─ Sim, os cabelos, os olhos, me lembra dela, por isso eu decidi me afastar, ficamos uma noite toda juntos e depois eu pulei sua janela, o quê deixou ela extremamente puta comigo. ─ Dei um gole da cerveja e voltei a falar. ─ Ela pediu um beijo e eu não consegui negar, e depois ela me mandou embora dizendo que não queria ser um brinquedo na minha mão, porque horas antes ela tinha me visto com uma garota. ─ Percebi que havia falado tudo rápido demais, mas pelo menos me sentia mais aliviado agora.

─ Uau, quanta coisa. ─ Bill respirou e começou a falar novamente. ─ Você não seria bom pra ela, machucaria ela mesmo, você não sabe deixar todas essas garotas que você se relaciona e fora isso, você também tem um grande problema em gostar de alguém, nunca nem aconteceu, exceto.. ─ Interrompi a fala dele.

─ Pois é, 'tô cansado desse assunto, vou me deitar, ok? ─ Me levantei e dei dois tapinhas na suas costas.

Saí da cozinha e fui para o quarto, Bill conhece todas as versões existentes de mim e eu as dele, ele sabe o quê eu passei quando me apaixonei pela primeira vez, eu simplesmente nem consigo me lembrar mais do rosto dela, nem sabia qual era o seu nome também.

Eu era pequeno demais, mas foi algo marcante, por um grande período eu sonhava muito com o dia em que conheci aquela garotinha, e como ela foi levada de mim, sem ao menos me deixarem saber de seu nome, semanas depois ela sofreu um acidente com seu pai e morreu, tinhamos 8 anos, e eu chorei por quase uma semana no colo de Bill.

Depois disso eu nunca mais tive uma fraqueza sequer, e se tive, só Bill viu, essas coisas de sentimentalismo já me trouxeram um trauma, e eu jamais deixaria que me trouxessem de novo.

Ella me lembrava essa garotinha e por isso eu preferi ficar longe, tudo era semelhante, cabelo, olhos, jeito e até mesmo a mesma paixonite por dias chuvosos.

Monsoon foi escrita por nós 4, mas novamente, só Bill sabia o porquê de eu gostar tanto daquela música, e no fundo eu adorava tocar aquela com a minha alma, mas assim que vi Ella, toquei como se fosse a última vez, e foi do caralho, esse era o efeito que essa garota tinha em mim, intenso, e por isso eu preferi ir embora de sua vida.

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