Finale.

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Os ponteiros do relógio continuavam fazendo seu trabalho incansável, a única coisa perceptível naquela casa era o som estridente e o eco insuportável que aquele maldito "tic-tac" fazia, e eu, jogada na cama olhando os ponteiros se moverem, me irritava por culpa própria.

Eu poderia levantar, tomar um banho, fumar um cigarro na varanda, mas ainda assim, estaria inquieta e ansiosa, não valeria a pena de nada, só me esgotaria mais ainda e eu estava cansada de estar esgotada.

Eu queria me levantar, pegar o telefone e ver a time line das redes sociais, mas eu sei o que encontraria, e não, eu não gostaria de ver aquilo, então evitava o uso daquele aparelho insuportável que vinha programado para trazer a porra de um vício para a humanidade, e eu estava inclusa.

Eu não entendia a gravidade das coisas quando me enfiei de cabeça em algo que deveria ter sido evitado, eu me aprofundei em uma vida que eu consequentemente não deveria ter me aprofundado.

Burra do caralho.

Depois daquele dia, o bendito dia em que eu abracei a oportunidade de estar ao lado de Tom, as coisas mudaram, ele mudou. Por um momento eu acreditava fielmente na possibilidade de ele ser alguém bom, mas o mundo corrompe os mais fracos, e a fama acrescenta a infidelidade, o caráter mediano e as milhares de coisas patifes que um artista conhecido mundialmente pode fazer.

Depois de 2 anos, Tom começou apresentar sinais estranhos, e eu deveria ter ouvido Bill quando ele me aconselhou, pela última vez a ir embora, antes mesmo de virar as costas para mim, antes mesmo de não precisar mais de mim, ele ainda tentou, mas não dei ouvidos.

Precisei ver com meus próprios olhos a monstro que o homem que eu estava apaixonada se tornando.

Tom teve tudo de mim e me descartou.

Tom teve tudo de mim, me descartou e estava fodendo outra garota.

Tom teve tudo de mim, me descartou, estava fodendo outra garota e tinha deixado de me amar.

Tom teve tudo de mim, me descartou, estava fodendo outra garota, tinha deixado de me amar e me levou ao fundo do poço.

De tanto pensar, meus olhos foram se fechando, a visão foi ficando embaçada e eu dei espaço para o sono, acreditava fortemente que quando o sono vinha, nenhuma dor atingia meu peito  de forma agoniante.

E assim, eu adormeci, me lembrando que eu já não era mais a Ella, ruivinha de alguém. Eu me tornei a Antonella, meu cabelo agora era preto, e eu tinha inúmeras tatuagens pelo corpo, e já não tinha mais a feição dócil que um dia eu tive.

Acordei com a campainha sendo tocada várias e várias vezes, eu me assustei de princípio, mas tentei me levantar o mais rápido que pude checando as horas, era exatamente 01:36 da manhã, conferi minhas mensagens, mas não havia nada suspeito.

A campainha continuava tocando e eu não fazia noção de quem estava apavorado para falar comigo, na verdade eu sentia até uma pontada de medo com aquele desespero, mas fui o mais rápida que pude, corri até a porta e abri rapidamente.

Senti minha pressão cardíaca bater nos pés e voltar batendo na minha cabeça, era como se um zigue-zague gigante estivesse se batendo em cada canto dentro de mim, meus lábios tremeram e meus olhos ficaram irritados pela raiva que eu queria deixar transbordar pelos meus olhos, mas eu não demonstraria fraqueza.

─ Não, não quero saber, vai embora. ─ Da mesma forma em que abri a porta, tentei fechar, mas uma mão impediu que a porta fosse fechada. ─ Tira a mão da minha porta, Bill.

─ Preciso falar com você. ─ Ele ainda tinha a palma apoiada na madeira da porta, seu rosto expressava medo, medo da rejeição que ele sabia que era válida.

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