O caos sempre dominou minha vida, e quando ele não estava fazendo uma bagunça por tudo, ele estava rondando para que logo pudesse atacar mais uma vez. Era cansativo viver nesses desacertos, eu não aguentava mais, porém eu sei que não desistiria.
Depois que Tom foi embora, Bill me levantou aos poucos do chão, enxugou minhas lágrimas e me tirou dali, fomos para seu carro, que ficava fora daquele estabelecimento onde havia rolado o show, ele não falou muito, e quando falava era só para perguntar se eu estava me sentindo melhor, eu dizia que sim, mas definitivamente não. Nesse dia eu tinha descobrido que meu pai era um psicopata, que eu sofri um acidente que custou parte das minhas memórias e que Tom não me suportava.
O carro estacionou na frente de uma casa e eu estava apreensiva de descer, mas Bill me parecia muito um cara muito educado, ele também não invadia meu espaço, isso me confortava de certa maneira, então desci e andei até a entrada atrás dele.
Ele me chamou e então entramos na casa passando pelo portão, abriu a porta e jogou seu casaco no sofá, caminhou para algum lugar e me deixou plantada ali na porta, era ou não para entrar? fiquei confusa e estática segurando minha bolsa.
─ Você vai ou não entrar, bonitinha? ─ Sua cabeça apareceu do nada para fora de alguma porta, o que me fez levar um leve susto, ele falava em um tom cuidadoso, então aos poucos me acalmei, que fragilidade infernal.
Caminhei para dentro da casa, era bonita e espaçosa, tinha bastante fotos, quadros e coisas de músicos, meus olhos travaram em uma guitarra vermelha em um suporte no canto da sala, fui até ela e passei os dedos, que sensação nostálgica.
─ Você toca? ─ Pulei assustada quando percebi que Bill estava atrás de mim segurando uma xícara, como ele conseguia ser tão silencioso desse jeito?
─ Sim, fiz aulas por um tempo, sei algumas coisas, mas outras aprendi sozinha, eu nunca tive uma própria, mas pegava emprestada de uma galera. ─ Meus olhos encaravam a guitarra como se ela fosse perfeita e era.
─ Essa é do Tom, ele tem um grande apego por ela, se você quiser pegar e tocar, eu não acho que ele se importaria muito. ─ Se sentou no sofá colocando a xícara na mesinha de centro. ─ Senta um pouco, você não estava bem, e esse chá é pra você.
─ Obrigada.. ─ Desprendi os olhos da guitarra e me sentei, peguei a xícara e tomei um gole, estava realmente muito bom, fiz até uma carinha de satisfeita e ele riu com isso, me deixando um pouco envergonhada.
─ Eu tenho tantas coisas pra perguntar, mas primeiro prefiro saber seu nome, esperei muito para te conhecer e minha mente já tinha entendido que nunca conheceria. ─ Ele não era nenhum um pouco ríspido, pelo contrário, era atencioso com as palavras e sempre sorria, talvez isso acabasse me deixando um pouco nervosa.
─ Ella. Ella Mallmann. ─ Eu raramente falava meu sobrenome, eu não gostava tanto dele.
─ Você é alemã então? ─ Indagou, se sentando mais na beirada do sofá cruzandos os dedos. ─ Eu não sei se ele me deixava nervosa porque estava sendo cuidadoso ou porque era bonito pra caralho.
─ Sim, sou de Líspia! ─ Tomei mais um gole do chá e prossegui. ─ Eu não sei exatamente o quê você quer saber, mas eu não posso te ajudar com muito.. a minha memória foi perdida em um acidente, eu me recordo de poucas coisas porque sempre tive sonhos, mas o frequente era o do parque com Tom.
─ Então você também tinha sonhos? ─ Fiz uma cara de dúvida, como assim eu "também tinha sonhos." ─ Tom por um bom tempo sonhava com esse dia do parque, foi difícil pra ele entender que você tinha morrido, e de repente você aparece.
─ Bill, eu não quero nada do seu irmão, eu não quero absolutamente nada de vocês se é isso que está pensando, eu só queria saber se ele se lembrava. ─ Exclamei um pouco irritada, eu não queria fama nas costas deles, que horror porra. ─ Soube de tudo hoje à tarde quando minha mãe me contou, e eu queria saber se ele também se lembrava.
─ Fica tranquila, eu não estou duvidando de você, anjo. ─ Se levantou e sentou do meu lado, apoiou a mão em meu ombro, logo depois sorriu, ele era uma pessoa boa, não queria duvidar disso. ─ Ele se lembra, ele passou por uns bocados com isso, marcou ele, mas no momento ele não vai conseguir falar sobre, você precisa entender, assim como ele precisa te entender também.
Refleti nas palavras de Bill, e mesmo querendo que tivesse significado para ele, eu não fazia idéia do porquê significaria, era um enigma do caralho. Talvez eu deva ficar longe dele, eu não queria causar nenhum mal para ele.
─ Um minuto, fica á vontade! ─ O celular dele tocou e ele atendeu rapidamente, entrou em seu quarto e fechou a porta, e eu fiquei por uns 10 minutos ali sozinha naquela sala, até que a porta da frente se abriu.
Tom. Ele não me viu, entrou de cabeça baixa tirando os sapatos na porta e depois trancando a mesma, quando ele passou pela sala notou que eu estava ali, e eu rapidamente me levantei e o olhei cuidadosamente, ele não estava bem.
─ Bill me trouxe, mas eu já estou indo, não quero incomodar. ─ Fui em direção á porta, mas ela estava trancada, como eu podia ser tão lerda, ele havia acabado de trancar essa merda.
O silêncio permaneceu, mas ele não fugiu dessa vez, ele se virou e me encarou, eu estava passando uma das mãos em um dos braços, me encolhendo. Eu não era frágil, nem a porra de uma bonequinha de porcelana, mas naquele momento, eu me senti facilmente quebrável, e o olhar dele me rachava em duas.
─ Eu perdi a memória depois do acidente, Tom.. ─ Finalmente criei coragem para abrir a boca. ─ Meu pai batia muito em minha mãe, saber que ele morreu não foi um alívio, mas nós tivemos a chance de ir embora e viver melhor, eu não tenho culpa dos boatos que foram inventados.
O garoto flertador, que gostava de provocar, excitar e instigar as garotas, não estava ali naquele momento, ele só me encarava e me escutava, eu queria sair correndo dali e me esconder em meus cobertores até um meteoro colidir com a terra e todos nós morrermos.
─ Eu perdi você, e eu não sabia que ia te encontrar de novo, eu fiz tantas coisas com garotas que me arrependo, mas eu nunca teria feito com você, o que fiz com elas. ─ Enfim abriu sua boca e falou comigo. ─ E agora você 'tá aqui e eu nem sei o quê fazer.
─ Você pode vir aqui e me abraçar, pode vir e me sentir, eu estou aqui na sua frente, você não queria isso? ─ Eu não ia chorar, estava cansada dessa fraqueza, mas minha voz estava falha.
Tom andou rapidamente até mim e eu até ele, e num piscar de olhos eu pulei em seu colo o abraçando, ele deu passadas para atrás por conta do impulso e suas costas se encostaram na parede com certa força, mas ele pouco se importou, só continuava me apertando em seu braços.
Escondia seu rosto na curvatura do meu pescoço e me abraçava forte, suas mãos estavam nas minhas costas, trazendo meu corpo para mais perto de sí. Enlacei meus braços em seu pescoço e abracei um pouco mais.
─ Fica aqui, se você sair por aquela porta eu tenho medo que não volte mais. ─ Sua voz vacilou, e eu pude perceber que estávamos no mesmo barco.
─ Eu vou ficar, não vou deixar que a gente se perca de novo, Tom.
Ficamos daquele jeito por uns minutos até Bill entrar na sala e rir um pouco de nós, ele tinha uma risada contagiante, no fim nós três rimos e passamos um tempo conversando, expliquei todos os detalhes e Tom foi se lembrando de muitas coisas também.
Mandei mensagem para minha mãe e disse que não dormiria em casa, pretendia ficar por muito tempo ali com ele, soltar Tom não estava nos meus planos, e nem me soltar estava nos dele, e assim permacemos a noite toda, grudados e conversando.
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𝐌𝐎𝐍𝐒𝐎𝐎𝐍
Romance❝ Ella estava perdida dentro de seu próprio caos, enquanto Tom sabia exatamente o que queria, juntos se tornam uma combinação perfeita, mas também podendo acabar na autodestruição de ambos. São uma mistura de puro drama, tensão sexual e obscuridade...